“Tenho uma família bonita. Tenho uma avó, não posso acreditar, com 40 anos tenho uma avó e posso falar com ela. Já gosto dela!” Foi assim que Adriana comentou, na conferência de imprensa desta quarta-feira, a notícia de que lhe caiu no colo: tinha finalmente encontrado a história da sua família biológica e poderá conhecer pessoalmente a sua avó, Blanca Díaz de Garnier, de 86 anos. Adriana — que não quis que o seu apelido fosse tornado público — sabia que era adotada, mas não fazia ideia de que era a 126.ª bebé raptada a presos políticos, no período de 1976 a 1983, e entregue a outra família.

Graças à ação das Avós da Praça de Maio, um grupo que tem como objetivo reunir as crianças raptadas durante a ditadura militar argentina com as suas famílias biológicas, que utiliza a base de ADN da Comissão pelo Direito à Identidade (CONADI), Adriana pôde conhecer a história dos seus pais — Violeta Ortolani e Eduardo Garnier.

Os dois eram estudantes de Engenharia em La Plata, na Argentina, quando se envolveram com o grupo de guerrilha terrorista de esquerda Montoneros. Violeta, de 23 anos, foi detida pelos militares em dezembro de 1976, grávida de oito meses. “Eles tinham ideais para um mundo melhor, como tantos jovens daquela época”, recordou a avó Blanca ao jornal local El Entrerios. Depois do desaparecimento de Violeta, “Edgardo fez muitas averiguações, procurou no céu e na terra pela sua mulher”, recordou a avó que em breve se encontrará pessoalmente com a neta. Edgardo, de 21 anos, acabaria por ser detido um mês depois. Os dois nunca mais foram encontrados e fazem parte da lista de mais de 30 mil desaparecidos da ditadura militar argentina.

Adriana nasceu na prisão, em janeiro de 1977, e os pais deram-lhe o nome de Vanessa. O El País explica que a sua certidão de nascimento foi falsificada por Juana Franicevich, mulher responsável pela falsificação de outras crianças retiradas a presos políticos. “Os meus pais adotivos não sabiam que eu era filha de [militantes] desaparecidos. Eles tinham-se inscrito para adotar há muitos anos e nada. Desesperados, recorreram a um vizinho que tinha um conhecido que era comissário da polícia e tinha contactos numa igreja. Foi assim que me conseguiram”, explicou a própria Adriana.

Na conferência de imprensa, a mulher de 40 anos incitou outros adotados que tenham dúvidas sobre a sua identidade a investigarem. “A verdade, por mais dura que seja, cura sempre”, disse. “A sensação é muito diferente da de sentir que se foi abandonada e não desejada. Sinto que sou muito amada, que procuraram muito por mim e que tenho uma bonita família.”

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