Não é fácil perceber os motivos que levaram a Mercedes a alugar um Tesla Model X, ou um veículo produzido por qualquer dos seus concorrentes, com a finalidade de o submeter aos mais duros testes, para depois desmontar, voltar a montar, registando todos os seus segredos. Não pelo acto em si – de testar e desmontar para ver como é –, pois convenhamos que todos os fabricantes realizam estas análises aos veículos dos adversários. O que nenhum faz é este trabalho com um carro de aluguer, que sabe que tem de devolver em bom estado passados uns dias, objectivo que não se coaduna com a extensão e violência dos testes a que a marca germânica pretendia submeter o SUV eléctrico americano.

Tradicionalmente, os fabricantes optam por comprar o veículo em causa em nome de alguém que não esteja directamente associado ao fabricante, nem que seja a esposa, o filho ou o gato de um dos engenheiros responsáveis, e depois esquartejam-no à vontade. E, por vezes, nem perdem tempo a montá-lo, optando por vendê-lo a peso para sucata, mais que não seja para esconder as provas da sessão de espionagem.

Alugar à Sixt e não tratar de resolver o problema, pagando de imediato tudo lhe era exigido, especialmente depois de saber que o Model X em causa pertencia a um casal alemão, que por isso mesmo teria um acesso fácil à imprensa germânica e, por tabela, mundial, foi uma gaffe de que a Mercedes se deve ter arrependido. E muitas vezes. Os danos de imagem provocados pelo facto de ter sido descoberta a espiar e por revelar insensibilidade aos danos provocados aos donos do Tesla, já para não falar do desrespeito dos termos do contrato com a Sixt que, entre muitas outras coisas, impede o carro de frequentar pistas de testes ou outras, não compensam definitivamente.

Mas o caso da Mercedes é apenas uma gota de água no oceano de erros, broncas e gaffes em que a indústria automóvel é useira e vezeira. Não faltam exemplos em que os riscos foram mal calculados e as opções correctas não foram tomadas, expondo alguns fabricantes – e fornecedores desta complexa indústria – ao ridículo. Por vezes, originando mesmo a morte de muitos utilizadores e clientes. Mergulhámos de cabeça no baú dos tesourinhos deprimentes e reunimos alguns dos casos mais sumarentos em que a parvoíce andou de mãos dadas com a incompetência, a falta de jeito ou, no limite, a mera distracção.

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Os maiores escândalos da indústria

Concentrando-nos apenas nas gaffes ou broncas que atingiram maior notoriedade, é fácil navegar pela história recente da indústria e encontrar diversos casos. Curiosamente, a esmagadora maioria tem a ver com situações detectadas no mercado americano, e os motivos são vários. Primeiro, porque há entidades com muito poder e não comprometidas com a indústria, que efectivamente investigam de forma célere e punem com mão dura, e depois porque os EUA são um país habituado ao litígio – atrás de cada cidadão há (quase) sempre um advogado. Ou até mesmo uma série deles, prontos a processar para ganhar uns milhões.

Nos casos mais graves, o mais preocupante prende-se com o facto de os erros serem muitas vezes originados por pequenos defeitos que, se corrigidos a tempo, custariam uns meros tostões. Mas não, surge sempre um “bean counter”, ou os homens dos serviços financeiros, que fazem rapidamente as contas e descobrem que é mais barato matar uns condutores do que fazer um recall. E, por vezes, as contas saem-lhes furadas. Recorde os casos na galeria:

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Nomes entre a polémica e o gozo

Desenhar e produzir um veículo que seja, simultaneamente, bom, bonito e barato está longe de ser tarefa fácil, mas tudo indica que baptizá-lo é igualmente uma actividade que acarreta alguns riscos. E, por vezes, muitos dissabores.

Antes de chamar o que quer que seja a um modelo, as marcas perdem meses a estudar a parte legal, tentando perceber se o nome está registado em algum dos países onde vai ser comercializado. Finda esta parte, resta depois avaliar se, moralmente ou socialmente, o termo escolhido choca os habitantes de algum país, seja em linguagem corrente e até mesmo em calão. E só depois, se tudo receber luz verde, é que o veículo em causa exibe finalmente o nome que lhe diz respeito.

Mas há exemplos de baptismos mais sofisticados, que nem assim estiveram isentos de problemas. Veja-se o que aconteceu com a Seat, que realizou um concurso para seleccionar o nome pelo qual vai denominar a versão mais comprida do Ateca, que será lançada em 2018. Numa primeira fase reuniu mais de 10.000 propostas dos fãs da marca, que tinham obrigatoriamente de ser relativas a um local ou cidade espanhola. Dessas seleccionou nove e depois quatro. E quando se preparava para nomear a vencedora, aquela que o futuro SUV topo de gama da Seat vai exibir, eis que o conflito Madrid-Barcelona vem complicar o que parecia simples, com a Seat a atrasar continuamente o anúncio do nome escolhido. Uma das explicações, provavelmente a mais plausível, tem a ver com o facto de entre os quatro finalistas (Alborán, Aranda, Ávila e Tarraco), Tarraco parecer ser o mais forte. Porém, é referente a uma cidade da Catalunha (é o termo romano para Tarragona) e, em caso de futura independência, a Seat estaria a baptizar o seu veículo com o nome de um local num… país estrangeiro. Veja na galeria alguns casos mais polémicos:

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