Aos 80 anos, Dustin Hoffman foi acusado de assédio sexual por uma terceira mulher, quase um mês depois de ter surgido a primeira acusação. Kathryn Rossetter contracenou com o ator na peça da Broadway A Morte de um Caixeiro Viajante em 1983 e, mais tarde, na sua adaptação televisiva. A atriz escreveu a história na primeira pessoa na revista The Hollywood Reporter: no longo artigo publicado na sexta-feira, Rossetter conta como o homem que era o seu herói e ídolo, que permitiu a ascensão da sua carreira, “abusa do seu poder e é um porco com as mulheres”.

Dustin Hoffman acusado de assédio sexual

A história, que a atriz garante ter contado a várias pessoas ao longo dos anos, foi mostrada aos representantes legais de Dustin Hoffman, tal como se lê na nota do editor, que não confirmaram ou desmentiram o relato, mas enviaram-no a alguns membros da equipa de produção da peça, que por sua vez dizem não ter testemunhado nenhuma das situação que abaixo transcrevemos.

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  • “Quando entrámos no quarto [de hotel] ele saltou para a cama e disse ‘Faz-me uma massagem às costas’. Tirou a t-shirt. Eu não sabia o que fazer. Disse que tínhamos de voltar aos ensaios em 15 minutos. Ele disse ‘É uma rapidinha’.” Rossetter descreve um episódio específico, quando Dustin Hoffman lhe pediu para passar por um quarto de hotel, que alugara para descansar entre os ensaios, com a desculpa de que se havia esquecido de algo.
  • “Isto foi o início do que se tornaria numa experiência horrível, desmoralizante e abusiva às mãos (literalmente) de um dos meus ídolos.”
  • “Uma noite, em Chicago, senti a mão dele por dentro das minhas cuecas de um dos lados das minhas coxas. Fiquei completamente surpreendida e tentei afastá-lo enquanto olhava para o palco à procura das minhas falas.” Na crónica que assina, a atriz conta que grande parte dos abusos aconteceram em palco (ou perto dele), em cenas onde interpretava a amante do ator. Os abusos em cena foram sucessivos, uma vez que os atores protagonizavam “seis ou oito espetáculos por semana”.
  • “Eu não podia falar com ele no momento [em que acontecia] porque tinha o microfone ligado. Ele continuou e tornou-se cada vez mais abusivo. Uma noite começou a meter os dedos dentro de mim. Noite após noite eu ia para casa e chorava.” A atriz conta que ficou deprimida e que não conseguiu travar amizade com nenhuma das pessoas da equipa.
  • “Como podia o mesmo homem que me ajudou a conseguir o papel, que elogiava o meu trabalho e que essencialmente lançou a minha carreira (…) ser este abusador sexual?”
  • “Só por sorte tenho uma fotografia, em que a câmara o apanha em flagrante. Uma fotografia que tirei na esperança de a enviar à minha família. Ali estava eu — um grande sorriso e um braço na direção do braço dele, com a intenção de o afastar. Fotografada como fui, parece que estou complacente com o gesto. Não estava. Nunca estive.” Segundo Rossetter, quando o ator tirava uma fotografia com ela, momentos antes de o flash disparar, Hoffman punha o braço à volta da sua cintura e apalpava-lhe os seios.

  • “Pedi-lhe que parasse, com gentileza e lágrimas nos olhos.”
  • “Ele queria que eu fizesse uma massagem aos pés. Ajoelhei-me e massajei. Congelei. Dei-lhe uma pequena massagem e fugi.”
  • “Uma noite, estava na minha posição a preparar a cena em que me rio. Dustin chegou e sentou-se atrás de mim. Havia um número pouco usual de membros da equipa naquela noite — homens que não eram precisos até ao intervalo ou até final do espetáculo. Dustin começou a apalpar-me. Comecei a afastá-lo (…). De repente, ele agarra a parte debaixo das minhas cuecas (…) expondo os meus seios e o meu corpo à frente da equipa. (…) Dustin espalhou a palavra à equipa para vir ao backstage para uma surpresa.”

No artigo publicado no The Hollywood Reporter, a atriz chega a contar que considerou reportar o caso às entidades competentes, mas que foi avisada por “profissionais do teatro muito respeitáveis” que se o fizesse muito provavelmente perderia o trabalho.

Vídeo. John Oliver confronta Dustin Hoffman com acusações de assédio sexual

Ainda esta semana, John Oliver, apresentador do programa de televisão “Last Week Tonight”, confrontou Dustin Hoffman com as acusações de assédio sexual que até então tinham sido feitas ao autor. Durante uma conferência que assinalava o 20.º aniversário do filme Wag The Dog, e que estava a moderar, o apresentador decidiu falar sobre “o elefante na sala” e envolveu-se numa tensa troca de palavras com o ator de 80 anos.