Os sindicatos da PT consideraram esta segunda-feira que a reunião com o novo presidente da Altice Portugal não demonstrou uma alteração de estratégia da empresa face aos trabalhadores, que consideram estar muito prejudicados, e pediram a intervenção do primeiro-ministro.

“A Altice é uma empresa privada que trabalha para o lucro, mas entendemos nós que é possível fazê-lo sem sacrificar os trabalhadores. Não é claramente assumido pela nova direção que será feito isso sem prejudicar os trabalhadores”, afirmou hoje Jorge Félix, porta-voz dos sindicatos do grupo PT em declarações aos jornalistas, considerando que da reunião não transpareceu que “a gestão que vai ser liderada pelo engenheiro Alexandre Fonseca tenha a preocupação humana como fundamental”.

Os sindicatos representativos dos trabalhadores do grupo PT — SINTTAV, STPT, Sindetelco, SNCTC, Sinquadros, STT e SITESE — estiveram esta segunda-feira reunidos com o novo presidente executivo da Altice em Portugal, Alexandre Fonseca, que no encontro lhes pediu “confiança e lealdade”, segundo os dirigentes sindicais.

Jorge Félix explicou que, na reunião, Alexandre Fonseca “deu a entender que só trabalharia com ‘stakeholders’ que demonstrem confiança e lealdade” na gestão, o que foi entendido pelos sindicatos como “um recado e uma ameaça” a quem não concordar com a gestão da PT pela Altice.

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O porta-voz dos sindicatos representativos dos trabalhadores referiu ainda que, na reunião, Alexandre Fonseca estava “mais preocupado” em dizer que era exagerado o que é falado na comunicação social sobre as dificuldades financeiras da Altice do que “em responder às exigências que os sindicatos fazem”.

“Chamou a atenção dos sindicatos para terem alguma contenção no que dizem aos órgãos de comunicação social para manter a estabilidade na empresa”, disse o porta-voz dos sete sindicatos.

Sobre os 155 trabalhadores da PT que foram transmitidos para outras empresas (Winprovit, a Tnord, a Visabeira e a Sudtel) e a reversão dessa decisão pela PT, Alexandre Fonseca “não se comprometeu” e disse aos sindicatos que esse assunto será debatido mais tarde, o que foi entendido como um “chutar para a frente” desta situação.

“Não nos parece que haja disponibilidade para fazer reversões [das transmissões de trabalhadores para outras empresas]. Também não nos parece que no imediato haja vontade de fazer novas transmissões” de trabalhadores, disse, após a reunião.

Segundo o sindicalista, a Altice não deverá querer já avançar com novos processos de transmissão de trabalhadores devido às alterações à lei que se preparam no Parlamento e ao receio de degradação da imagem da empresa, num momento em que tem uma proposta para comprar a TVI.

O porta-voz dos sindicatos dos trabalhadores do grupo PT/Altice pediu novamente a intervenção do primeiro-ministro junto da Altice, uma reivindicação que vem fazendo nos últimos meses.

Para os sindicatos da PT, a falta de respeito pelos trabalhadores, que consideram que fere a lei, e o “assédio estratégico” que a Altice faz aos trabalhadores — através de transmissão para outras empresas, mudanças de local de trabalho, desqualificações, causando “medo” entre os funcionários – é motivo suficiente para António Costa intervir, usando o seu poder de “persuasão”.

“Há motivos sociais para que o Governo intervenha”, afirmou.

Na quinta-feira, trabalhadores da PT vão concentrar-se frente à presidência do Conselho de Ministros, em Lisboa, em mais uma tentativa de serem recebidos pelo primeiro-ministro, para darem conta dos problemas que afetam quem trabalha na PT Portugal.

Será ainda entregue a petição contra o despedimento coletivo na PT, que conta com mais de 8 mil assinaturas, e já foi entregue no Parlamento.

A operadora de telecomunicações PT, detida há dois anos pela francesa Altice, tem sido alvo de protestos por motivos laborais.

Nos últimos dois anos, houve cerca de 1.400 rescisões contratuais e cerca de 300 trabalhadores ficaram sem funções.

Já no verão, provocou polémica a mudança de 155 funcionários da PT para outras empresas — Tnord, Sudtel, Winprovit e ainda Visabeira -, recorrendo à figura jurídica de transmissão de estabelecimento. Destes, o sindicato do grupo PT diz que cerca de 30 já rescindiram contrato com a empresa, o que considera ser um dos objetivos deste processo.

Os trabalhadores que passaram para outras empresas mantêm os direitos laborais contratuais que tinham na PT mas apenas durante 12 meses, como definido na lei, pelo que o sindicato teme que possa haver despedimentos terminado esse prazo.

A Altice, que comprou há dois anos a PT Portugal por cerca de sete mil milhões de euros, anunciou em julho que chegou a acordo com a espanhola Prisa para a compra da Media Capital, dona da TVI, entre outros meios.