Entre 2007 e 2013 foram depositados em Andorra, no banco BPA, mais de 2 mil milhões de euros com origem ilícita — milhões que provinham de homens próximos do regime venezuelano “chavista”, alguns deles ministros de Hugo Chávez. O El País revela que há pelo menos 10 nomes implicados neste alegado esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.

Ex-ministros “chavistas” ocultaram em Andorra milhões ilícitos vindos de negócios na petrolífera estatal

Todos os depósitos que ao longo de seis anos foram realizados no BPA provinham de negócios da petrolífera PDVSA, principal empresa estatal da Venezuela. Os suspeitos terão subornado companhias estrangeiras, sobretudo chinesas, companhias essas que seriam depois favorecidas aquando da assinatura de contratos de extração de petróleo com a PDVSA. O caso está a ser investigado pelo Ministério Público de Andorra.

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O jornal espanhol revela agora onde é que três dos implicados — o empresário Diego Salazar, o primo Luis Mariano Rodríguez e o ex-vice-ministro venezuelano Nervis Villalobos — gastaram grande parte do dinheiro. Mais especificamente, todos juntos, esbanjaram 10 milhões de euros em bens de luxo.

Em dezembro de 2012, as prendas de Natal dos amigos e família de Diego Salazar foram, com certeza, maravilhosas. Só naquele mês, o empresário comprou 694 garrafas de vinho e champanhe: incluindo Dom Perignon e Pomerol Petrus de 1990, avaliado em 5.560 euros por garrafa.

E o bom vinho tem de ser bem acompanhado. O empresário, que foi até há pouco tempo o representante venezuelano nas Nações Unidas, gastou 42.398 euros em nove quilos de presunto ibérico Joselito e 40 embalagens de caviar de baleia. O primo, Luis Mariano Rodríguez, desembolsou mais 61 mil euros em mais 40 embalagens do mesmo produto numa loja parisiense.

Mas a principal fatia da fortuna ilícita ia para outro lado. Só no decorrer do ano de 2011, os três homens gastaram 1,7 milhões de euros com a compra de 109 relógios de luxo, incluindo vários Rolex e Cartier. Nervis Villalobos, vice-ministro venezuelano da Energia, estava por detrás da empresa Josland Investments, com sede no Panamá, que também esbanjou 90.500 euros em relógios de marca no mesmo ano. Villalobos foi preso em outubro em Madrid, por um caso distinto daquele por que está a ser investigado em Andorra.

No que toca a hotéis, o Ritz de Paris era o preferido. Durante dez anos, Diego Salazar gastou 575 mil euros na unidade hoteleira, com alugueres de limusinas superiores a 34 mil euros e contas de bar que ascendiam aos seis mil.

O dinheiro tinha quase todo a mesma origem. Mas fazia igualmente o mesmo percurso. Vinha de sociedades com sede no Panamá, seguia até Andorra e, depois, tinha como destino final paraísos fiscais como a Suíça ou Belize. Ao todo, 37 sociedades foram abertas no Panamá por “chavistas”. Ao banco andorrenho, os depósitos milionários eram descritos como provindo de “trabalhos de assessoria para empresas”. A investigação acredita que estes “trabalhos” nunca existiram e suspeita que o grupo tenha cobrado às empresas que negociavam com a PDVSA comissões que variavam entre 10% e 15% por negócio.