Pedro Santana Lopes admite que se candidata à liderança do PSD “para ir buscar, primeiro ao partido e depois ao país, a legitimidade direta” para fazer no país aquilo com que “sonha há muito tempo”, que é governar. Quando foi primeiro-ministro, em 2004, não foi eleito para o cargo, foi sim escolhido internamente para substituir a Durão Barroso — e o “sonho” não durou muito tempo. Agora, em entrevista ao Jornal de Notícias, Santana Lopes admite que essa sucessão não foi boa “para o partido” nem para si próprio. Por isso, procura legitimidade.

Questionado sobre se a sua candidatura à liderança do PSD começou por ser mais uma candidatura anti-Rio do que uma candidatura pessoal, Santana rejeita a ideia, mas não deixa de dizer que as atitudes de certos nomes ligados ao PSD nos últimos anos da liderança de Passos Coelho “não podem passar impunes”. “Uma coisa é a pessoa do dr. Rui Rio, outra é um determinado grupo de pessoas que teve um determinado tipo de atitude ao longo destes anos em relação ao partido. A minha posição seria a mesma se fosse a dra. Manuela Ferreira Leite a candidata ou o dr. Pacheco Pereira”, diz, pondo os três no mesmo saco e criticando “as atitudes que estes três militantes tiveram ao longo dos anos em que o partido teve de tomar medidas muito duras para recuperar o país de uma situação de quase bancarrota”, diz.

A ideia é defender o legado de Passos Coelho, em oposição a Rio, que o criticou. “Eu não entrava nesta corrida se Passos Coelho fosse candidato e continuasse a ser presidente do partido. Ao contrário do dr. Rui Rio, que disse que seria candidato na mesma”, afirma. E enquanto se cola a si próprio a Passos Coelho, Santana procura colar Rio a António Costa. “Acho que Rui Rio e algumas pessoas daquele grupo têm uma proximidade da esquerda, uma cumplicidade, que eu não tenho”, diz, dando o exemplo do mandatário de Rio, Morais Sarmento, que chegou a dizer que “se ficasse tudo na mesma” votava em António Costa. Para Santana, isso é dizer que Rui Rio admite votar em António Costa: “há uma cumplicidade e uma duplicidade em relação ao PS que nos distingue sobremaneira”.

Embora admita que Rio foi “um bom presidente da câmara do Porto”, não se poupa em críticas aos “exageros” que cometeu “na cultura, no desporto e outros”. “Ele é muito exagerado e muito radical nas guerras”, diz. “Em todo o caso, diz, o facto de ter sido um “bom presidente de câmara”, não o coloca em posição de vir a ser um presidente do PSD e, consequentemente, um bom candidato a primeiro-ministro. “O PPD/PSD, neste momento, não pode apostar num perfil de liderança distante, hermética, fechado”, diz, invocando a política de “proximidade” de que tanto se fala desde que Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República.

“No funcionamento do sistema político português, exige-se, hoje, uma presença constante no terreno, na comunicação. Tem que estar próximo do que acontece, próximo das pessoas, saber o que se passa com elas”, afirma, criticando Rui Rio por não falar sequer das tragédias dos fogos deste ano. A ideia, segundo Santana Lopes, é que, se o Presidente da República domina toda a esfera mediática, e se António Costa também não lhe fica atrás em termos de palco televisivo, então, “se o PPD/PSD tiver um líder mais fechado em gabinete”, aí sim, “como o dr. Rui Rio diz, o partido corre o risco de desaparecer”, acrescenta.

Diz que a sua candidatura é uma candidatura de “pessoas do presente que vão estar presentes no futuro”, em contraponto com “as figuras do passado” que rodeiam Rui Rio, mas não deixa de admitir que quer acertar contas com o passado. “A situação de 2004 foi má para o partido e para mim. E foi para o país. Acabámos a perder o Governo, acabámos a perder a câmara de Lisboa em 2007, já que não me deixaram recandidatar”, diz ainda.

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