A greve de três dias da polícia cabo-verdiana, que começou esta quarta-feira, regista uma adesão quase total em todo o país, avançou o sindicato que representa a classe, assegurando que ainda não recebeu a requisição oficial do Governo.

“Não tenho dúvidas que, pelo pulsar da situação, quase que 99% já temos” em greve, contabilizou o presidente do Sindicato Nacional de Polícia (SINAPOL) cabo-verdiana, José Barbosa, à margem de uma manifestação de centenas de agentes policiais pelas ruas da cidade da Praia, no primeiro dia da greve de três dias.

José Barbosa avançou que até ao momento o sindicato ainda não recebeu requisição civil do Governo, já que não houve acordo para definição dos serviços mínimos por parte dos cerca de dois mil agentes policiais cabo-verdianos.

“A requisição civil, havendo, é da responsabilidade do Governo. Fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance para que chegássemos a um acordo, mas infelizmente o Governo inviabilizou tudo, não quis de maneira alguma para que chegássemos a um acordo quer em relação aos pontos que estiveram em desacordo assim como em relação ao serviço mínimo”, afirmou.

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José Barbosa admitiu, porém, que as esquadras estão a funcionar “com um ou outro elemento”.

O porta-voz da polícia cabo-verdiana disse que foi hoje de manhã à Direção Geral do Trabalho (DGT) para assinar um documento que passaram três dias a discutir, mas não compareceu ninguém do Ministério da Administração Interna nem da Direção Nacional da Polícia.

O SINAPOL acusa o MAI de não ter cumprido o memorando de entendimento assinado em março, no qual se comprometia a atender às reivindicações dos polícias e que levou à desconvocação de uma greve marcada nessa altura.

Os polícias reivindicam a atualização salarial dos agentes da Polícia Nacional, a redução da carga horária e a introdução de um regulamento de trabalho e pagamento de subsídio de condição policial à guarda fiscal, com efeitos retroativos.

Da lista de reivindicações consta também o pagamento de 25% sobre o vencimento, como subsídio de condução, ao pessoal da PN que exerce, cumulativamente, as funções de condutores.

Em declarações à Televisão de Cabo Verde (TCV), o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, estranhou a concretização da “primeira greve da história da Polícia Nacional” num ano em que o Governo fez o “maior investimento na Polícia Nacional”, destacando a aprovação da grelha salarial, a atualização do índice salarial e as progressões na corporação.

Paulo Rocha considera que o que está em causa nesta greve é a exigência de uma nova atualização do índice salarial para os próximos três anos, adiantando que o sindicato apresentou reivindicações que “nunca estiveram em cima da mesa”, como o subsídio de condução.

O responsável deixou uma mensagem de tranquilidade aos cidadãos, numa altura tradicionalmente de mais trabalho para a polícia, assegurando que o Governo tudo fará “para que nada se altere em termos de segurança e de ordem pública”.