O Peru foi a última das 32 seleções a carimbar o passaporte para o Campeonato do Mundo, após vencer no playoff intercontinental a Nova Zelândia. E conseguiu esse feito sem o seu capitão e principal referência, Paolo Guerrero, que na altura estava provisoriamente suspenso após um controlo anti-doping positivo onde acusou benzoilecgonina, um metabólico comum à cocaína e à folha de coca, durante a qualificação para o Mundial.

FIFA suspende por um ano capitão peruano Paolo Guerrero por doping

Os sul-americanos ficaram abalados com a notícia e não foi por acaso que, após cada um dos golos frente aos neozelandeses, todos os jogadores iam ao banco buscar a camisola 9 para recordar o avançado nos festejos. Mas Guerrero, que entretanto foi suspenso por um ano, foi à luta para disputar o Mundial e, para já, tem garantido que poderá ajudar o Peru nessa grande competição, depois de ver o castigo reduzido para seis meses. E quer mais: vai levar o caso ao Tribunal Arbitral de Desporto para ser totalmente inocentado. Como? Aqui é que a sua história ganhar contornos pouco usuais a roçar o caricato.

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Como explica de forma detalhada a revista brasileira Isto É (o avançado joga no Flamego, daí também o interesse para o público do país), a defesa do jogador recorreu ao caso de três múmias encontradas na Cordilheira dos Andes em 1999 para explicar o que se poderá ter passado com Guerrero, que se revelou sempre inocente no caso dizendo mesmo que essa substância entrara no seu organismo de forma completamente involuntária, talvez através de uma chávena de mate mal lavada.

Um estudo de investigadores de vários países, corroborado por um arqueólogo, foi utilizado pelos advogados Pedro Fida e Bichara Neto e mostra como uma substância pode permanecer no organismo durante séculos: as três múmias (quase preservadas a 100%) encontradas no vulcão Llullaillaco, crianças entre os 13 e os quatro anos que teriam vivido algures entre 1480 e 1532, evidenciavam folhas de coca nos dentes e uma quantidade significativa de benzoilecgonina no cabelo quando a cocaína é algo que data do século XIX.

O que ficou então provado? Que 500 anos depois de terem sido forçados a consumir o produto antes do sacrifício (o vulcão Llullaillaco é conhecido por esses rituais), sobretudo no caso da menina de 13 anos que ganhou a alcunha de “Donzela”, o produto continuava a ser detetado. Partindo desse pressuposto, a defesa conseguiu reduzir a suspensão aplicada ao peruano, algo que não é suficiente no entender dos advogados de Guerrero, que vão continuar a lutar nos tribunais pela total despenalização.

Aos 33 anos, Paolo Guerrero é um dos mais experientes e valiosos avançados da atualidade no futebol sul-americano, após ter passado muitos anos na Alemanha ao serviço do Bayern Munique (entre 2002 e 2006) e do Hamburgo (de 2006 a 2012). Mudou-se então para o Brasil, tendo representado três anos o Corinthians antes de se mudar para o Flamengo. Entre Campeonatos e Taças da Alemanha, o avançado soma ainda títulos estaduais em São Paulo e no Rio de Janeiro, além do Mundial de Clubes de 2012.