Em vésperas de dérbi na Luz, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, deu uma extensa entrevista ao jornal Record, onde aborda vários temas da atualidade: da questão dos emails às relações com o rival Benfica, das matérias de arbitragem à situação financeira do clube, passando pelos objetivos de Jorge Jesus em Alvalade e pela qualidade dos principais jogadores do plantel, o líder leonino fez uma espécie de estado da nação sportinguista e do futebol nacional a abrir o ano, numa conversa que, nesta primeira parte, pode ser resumida a sete pontos fortes.

O que está ali descrito é muito mais do que perda de pontos. É o mesmo que aconteceu à Juventus, por exemplo. Descida de divisão como é mais do que óbvio”.

O líder verde e branco é claro em relação ao recente caso dos emails e vai mais longe, defendendo que, além da despromoção à Segunda Liga, deverá também haver a retirada dos títulos conquistados desse período. “Já houve um processo decidido pelo Meirim [n.d.r. José Manuel Meirim, presidente do Conselho de Disciplina da Federação] em que eu tinha dito que, quando cheguei ao futebol, achava que era o FC Porto quem controlava tudo, mas que depois tinha concluído que afinal era o Benfica e fui absolvido. Portanto, mantenho a minha opinião”, diz. Mais concretamente sobre a correspondência eletrónica que tem vindo a público, Bruno de Carvalho recorda que denuncia situações do género há cinco anos, desde que chegou a Alvalade.

Emails trocados apelidando o presidente do Sporting de ‘trinca bolotas’, de ‘atrasado mental’, enfim… Não acho que seja um bom indicador de nos sentarmos juntos”.

Numa visão mais abrangente no que toca às relações do Sporting com os rivais diretos Benfica e FC Porto, o número 1 verde e branco recusa por completo que a aproximação dos dragões seja um movimento contra os encarnados e sublinhou, em relação à possibilidade de sentar-se com Luís Filipe Vieira na tribuna, como fez com Pinto da Costa, que se ultrapassaram limites. “No dia em que encontrarem um email meu a falar do presidente do Benfica daquela forma, podemos pensar em reabrir outra ala do Júlio de Matos para que seja internado. Ultrapassaram-se fronteiras que extravasaram o futebol”, destaca. Neste dérbi, Bruno de Carvalho confirmou também que irá à Luz na caixa de segurança com os adeptos sportinguistas: “É uma decisão de começar o ano a homenagear os nossos adeptos e dar apoio inequívoco à nossa equipa”.

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Jesus pediu-me prendas e eu pedi-lhe a Liga Europa”.

Um pouco à semelhança do que tem feito nas modalidades de pavilhão e não só do clube (futsal, andebol, hóquei em patins, atletismo etc.), o presidente leonino quer elevar a fasquia europeia no futebol, piscando o olho a uma boa campanha na Liga Europa. “Querer ser campeão é um objetivo que tem quase desde que nasceu e ganhar a Liga Europa é outro desejo que já toda a gente percebeu que tem. Sendo uma competição extremamente difícil, o Sporting já demonstrou, quer pelos jogos do ano passado, quer pelos deste ano na Liga dos Campeões, que pode fazer uma excelente Liga Europa”, frisa. Salientando os 86 pontos conseguidos em 2015/16 no Campeonato que estará a ser alvo de investigação (“E era só o que faltava que agora a Polícia Judiciária e o Ministério Público andassem em campanha contra um clube só porque sim”, diz), Bruno de Carvalho fala também da relação com Jorge Jesus: “Desde que veio criaram-se várias semânticas, mas nunca me disse que queria sair. Está a fazer um trabalho excelente e não vejo nenhum motivo para que não consigamos atingirmos os objetivos e sequer colocar em causa se há ou não continuidade”.

Gelson Martins será um caso sério, William é intransferível em janeiro”.

Após já ter elogiado contratações como as de Fábio Coentrão ou Mathieu, Bruno de Carvalho dedica também uma palavra a seis elementos que estão ou estiveram no plantel do Sporting e foram formados no clube: “O Gelson é um miúdo que tem uma capacidade de humildade e uma vontade de aprender que não me é difícil de imaginar que se tornará num caso sério do futebol mundial”; “O William está a ter uma atitude muito profissional, uma atitude de maturidade tremenda e está a ser um jogador muito importante, que é intransferível em janeiro”; “Queremos recompensar Podence com a renovação, um jogador de quem gosto, por quem tenho carinho”; “Rafael Leão é um excelente jogador, já toda a gente percebeu; vai ser um ponta-de-lança de exceção”; “A venda de Adrien não foi uma necessidade, longe disso”; “Continua a ser um sonho meu que Ronaldo termine a carreira no Sporting”.

Vítor Pereira disse-me que o Sporting era o mais prejudicado”.

Mostrando o seu apoio ao vídeo-árbitro como ferramenta para ajudar os árbitros a errar menos, o líder verde e branco recordou uma reunião com o ex-presidente do Conselho de Arbitragem, que lhe terá confidenciado que tinha chegado à conclusão factual de que os leões eram os mais prejudicados a nível de arbitragem. “O VAR vem dar mais justiça e tornar mais facilitado o trabalho dos árbitros porque passam a ter um mecanismo que os pode ajudar”, salienta, antes de defender que o vídeo-árbitro “deve ser desempenhado pelos árbitros em atividade, neste sistema de dupla classificação” e que “nenhum clube pode realizar ou produzir os seus próprios jogos”, numa alusão ao caso do Benfica.

Já demonstrámos que estamos equilibrados”.

Abordando a situação financeira dos leões, nomeadamente o aumento dos gastos com pessoal, Bruno de Carvalho advoga que o clube/SAD soube negociar para encontrar um equilíbrio. “Fomos a única direção até hoje a ter um mandato completamente positivo no clube e na SAD”, destaca. “O Sporting já pagou mais aos bancos do que estava previsto pagar até 2022 na reestruturação financeira, tinha na reestruturação um valor de 180 milhões a dez anos de contrato televisivo e fez um de 515 milhões e tem feito receitas muito relevantes em vendas de jogadores. Investimos numa equipa que olha nos olhos do Real Madrid”, acrescenta.

Não tenho uma dívida, tenho um contencioso. Preocupam-me mais os 15 milhões que eram devidos pelo Luís Filipe Vieira, e que todos tivemos da pagar, no BPN”.

Bruno de Carvalho explicou a alegada dívida de um milhão de euros ao fisco, mostrando-se de consciência tranquila. “Fui eu que alertei para este facto, houve uma reversão feita mas não em modos legais. Houve vezes em que recebia salário por duas empresas minhas, podia só descontar por uma e descontava pelas duas”, explica, antes de abordar o caso do homólogo encarnado. O presidente leonino fala também da promoção da mulher, Joana Carvalho, na estrutura do clube. “É engraçado que se dê tanta relevância ao assunto quando tínhamos aqui famílias completas de pessoas que foram dirigentes do Sporting. Pelo menos já cá trabalhava há dez anos e das pessoas que coordena só uma tem o mesmo tempo (…) O melhor para mim, Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho, era que ela tivesse continuado no marketing. Porquê? Porque podíamos sair mais cedo para casa”, diz.