Uma monstruosa tempestade de inverno está a aproximar-se da costa nordeste dos Estados Unidos e traz com ela muito frio, neve e gelo, inundações, ventos ciclónicos e rajadas com a força das registadas nas épocas de furacões. A primeira tempestade de 2018 é assim um ciclone bomba: de acordo com a Administração Nacional do Oceano e da Atmosfera norte-americana, Grayson é o resultado de um fenómeno chamado de “bombogénese” e ocorre quando a pressão atmosférica desce muito num espaço de tempo muito curto, conferindo à tempestade uma força explosiva.

De acordo com as previsões das agências meteorológicas norte-americanas, esta espécie de furacão de inverno vai afetar lugares nos Estados Unidos pouco habituados ao frio dilacerante que se abateu na costa este desde o dia de Natal. Pelo menos onze pessoas já morreram por complicações causadas pelo frio e o cenário pode piorar: até quinta-feira, as temperaturas vão ficar abaixo de zero, as estradas vão ficar cobertas entre 15 a 30 centímetros de neve e o vento pode soprar a uma velocidade de pelo menos 100 quilómetros por hora. A Administração Nacional do Oceano e da Atmosfera já compara Grayson ao furacão Sandy, que em outubro de 2012 fez 233 vítimas mortais nas áreas afetadas.

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Tempestades como estas verificam-se quando a pressão barométrica de um ciclone, uma região associada ao mau tempo em que o ar quente sobe e condensa sob a forma de nuvens e chuva, desce pelo menos 24 milibares em 24 horas: quanto mais baixa for essa diferença de pressão atmosférica (e quanto mais depressa ela diminuir), mais forte será a tempestade. No caso da tempestade Grayson, os meteorologistas estimam que a pressão atmosférica do ciclone vai baixar 45 milibares em apenas um dia. Se assim for, esse será um dos maiores decréscimos algumas vez registados em ciclones na costa este dos Estados Unidos: a pressão atmosférica de Grayson ficará abaixo dos 950 milibares, fazendo da tempestade uma das fortes registadas no inverno neste país.

Grayson está a formar-se porque, perto da costa de New England, uma massa de ar frio — o vento — colidiu com uma massa de ar quente — a água do oceano: é a bombogénese. Embora o fenómeno possa ser preocupante, o termo é popular entre os Estados Unidos e não é raro: 14 dos 20 eventos atmosféricos do Atlântico Norte onde se registaram ventos semelhantes aos dos furacões foram resultado de uma bombogénese. É desses fenómenos que nascem os “ciclone-bomba”, um termo criado nos anos 40 por meteorologistas que começaram a chamar “bomba” a grandes tempestades costais que chegam a terra com “uma ferocidade rara ou mesmo nunca antes vista”.

Antes de melhorar, a tempestade Grayson vai piorar: à medida que fustiga a costa este dos Estados Unidos, este ciclone-bomba vai encontrar-se com uma frente gelada vinda do Canadá que vai intensificar ainda mais o ciclone e levar nevões e temperaturas 20 a 40 graus abaixo do normal a sítios que não viam neve há mais de um século. Eventos anormais como estes podem mesmo ser resultado das alterações climáticas: 2016, o meteorologista Jennifer Francis teorizava que “o rápido aquecimento do Ártico está a afetar as correntes que podem contribuir para o esfriamento ósseo noutras partes do hemisfério norte”.