Ao longo de vários meses, o escritor e jornalista Michael Wolff, biógrafo de Rupert Murdoch e colaborador da Vanity Fair, do Guardian, e do Hollywood Reporter teve um acesso privilegiado e sem precedentes à Casa Branca de Donald Trump e ouviu e acompanhou, para além do Presidente dos Estados Unidos, os seus colaboradores mais próximos — Steve Bannon, desde agosto de 2017 seu ex-conselheiro estratégico, incluído. Ao todo, foram mais de 200 as entrevistas que conduziu. O resultado poderá ser lido a partir da próxima terça-feira, dia 9, em Fire and Fury: Inside the Trump White House, um dos livros políticos mais aguardados do ano.

Mas entretanto o britânico Guardian já teve acesso a uma cópia e revela em primeira mão algumas das passagens mais quentes da obra, descrita como um “drama desagradável e de cortar goelas” onde Bannon desempenha um papel crucial, sendo “citado extensivamente, muitas vezes numa linguagem picante”.

Sobre a polémica reunião de Donald Trump Jr. na Trump Tower, em Nova Iorque, com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, em junho de 2016, durante a campanha para as presidenciais norte-americanas, Bannon foi particularmente crítico. Acusou o filho mais velho de Donald Trump — bem como o genro Jared Kushner e o então diretor de campanha, Paul Manafort, que também estiveram presentes na reunião — de ter sido “antipatriótico” e de ter “atraiçoado” a nação. E profetizou: “Vão dar cabo do Don Júnior como a um ovo na televisão nacional”.

“Os três tipos seniores da campanha acharam que era uma boa ideia encontrarem-se com um governo estrangeiro dentro da Trump Tower, na sala de conferências do 25.º andar — sem advogados. Eles não chamaram advogados. Mesmo que pensasses que o que estavas a fazer não era um ato de traição, nem antipatriótico, nem uma merda má — e acontece que eu penso que era isto tudo –, tinhas de ter chamado o FBI imediatamente”, disse Steve Bannon na entrevista a Michael Wolff, sobre a reunião em que também terá estado um ex-espião russo e cujo propósito era receber documentos que “incriminariam” Hillary Clinton.

E continuou, garantindo que, na sua opinião, se tal reunião tinha mesmo de acontecer, deveria ter tido lugar “num Holiday Inn em Manchester, New Hampshire, e os advogados é que se deviam ter encontrado com aquelas pessoas”. Qualquer informação relevante, acrescentou, poderia depois ser passada à imprensa. “Tu não viste nada, não sabes de nada, porque não precisas disso… Mas aquele era o tipo de conhecimento que eles tinham”, reforçou ironicamente.

Donald Trump já reagiu às notícias sobre Fire and Fury e aos ataques de Bannon num comunicado em que acusa o seu ex-conselheiro de “ter ficado doido” quando perdeu o emprego: “O Steve finge que está em guerra com os media, a quem chama o partido da oposição, mas passou o tempo todo que esteve na Casa Branca a passar-lhes informação falsa para dar a impressão de que ele próprio era mais importante do que era na realidade. É a única coisa que ele faz bem. O Steve raras vezes se reuniu a sós comigo e só finge ter tido influência para enganar umas quantas pessoas sem acesso e sem noção, que ajudou a escrever livros falsos”.

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