A Cinemateca Francesa, em Paris, vai fazer uma retrospetiva do realizador português Paulo Rocha, de 10 de janeiro a 1 de fevereiro, para fazer “descobrir ou redescobrir um cineasta singular”, disse à Lusa o diretor-geral da instituição, Frédéric Bonnaud.

Vamos mostrar a obra integral de Paulo Rocha. Vamos propor aos cinéfilos parisienses descobrir ou redescobrir um cineasta extremamente singular. Penso que os mais jovens nem devem conhecer, porque não tiveram acesso aos filmes. Agora, vão poder ver os filmes com o melhor material possível”, afirmou Frédéric Bonnaud, sublinhando que na origem da retrospetiva esteve, também, o restauro dos filmes pela Cinemateca Portuguesa.

Frédéric Bonnaud descreveu Paulo Rocha como “um cineasta irredutível à influência dos outros, cujos filmes só se parecem com ele”. Para Bonnaud, Rocha ocupou “um lugar importante na história do cinema do século XX, à imagem do lugar que tiveram outros grandes cineastas portugueses”, porque “Portugal fabrica um cinema de protótipos e um cinema de artistas”.

Paulo Rocha faz filmes que só se parecem com ele, não se parecem com mais ninguém. É um cineasta que faz de cada filme um protótipo e, desse ponto de vista, um filme como ‘Os Verdes Anos’ — mesmo que o possamos ligar aos Novos Cinemas dos anos 60 — tem uma forma de mostrar a erupção do desejo e da estranheza no quotidiano que é só de Paulo Rocha. Há uma singularidade no cinema dele”, continuou.

A retrospetiva do cineasta, que morreu em Dezembro de 2012 aos 77 anos, pretende, também, mostrar que, “ao lado do gigantesco Manoel de Oliveira, logo nos anos 60, em Portugal, houve gente menos conhecida como Rocha ou António Reis, que fizeram parte deste movimento mundial de cinema que sucedeu à ‘Nouvelle Vague’ francesa e que se chamaram ‘Os Novos Cinemas'”.

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Frédéric Bonnaud acrescentou, também, que “a Cinemateca Francesa interessa-se há muito pelo cinema português, porque os franceses sabem, há muito, que há um cinema em Portugal muito original e singular”, lembrando que João César Monteiro foi “adorado pelos cinéfilos franceses”.

Deste cineasta, vai ser exibido, aliás, a 11 de janeiro, o filme “As Bodas de Deus” no âmbito da ‘carte blanche’ dada pela Cinemateca Francesa ao escritor francês Yannick Haenel.

A retrospetiva de Paulo Rocha vai abrir a 10 de janeiro, com “Os Verdes Anos”, primeira obra de Paulo Rocha, de 1963, considerada um dos filmes inaugurais do Cinema Novo Português, que vai ser apresentada pelo diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa. O filme será novamente exibido a 20 de janeiro.

É um dos seus melhores filmes. É realmente com este filme que ele foi descoberto pelos franceses e pelo mundo inteiro. Acho que ‘Os Verdes Anos’ é um filme cortante, que não perdeu absolutamente nada da sua força nem do seu poder abrasivo”, descreveu Frédéric Bonnaud, considerando-o “tão forte quanto os filmes da Nouvelle Vague ou ‘I Vitelloni’, de Federico Fellini”, e sublinhando que é também uma homenagem à “atriz absolutamente genial” Isabel Ruth.

O ciclo incluirá ainda, “Mudar de Vida” (1966), a 12 e 21 de janeiro, “A Ilha dos Amores” (1982), a 13 e 20 de janeiro, “O Desejado” (1987), a 19 e 22 de janeiro, “A Raiz do Coração” (2000), a 13 e 19 de janeiro, e “Se Eu Fosse Ladrão… Roubava” (2012), o derradeiro filme que o realizador deixou pronto quando morreu, que vai ser exibido a 13 e 19 de janeiro.

“Camões, Tanta Guerra, Tanto Engano” (1998) vai ser projetado a 14 e 31 de janeiro, “O rio do Ouro” (1997), a 12 e 21 de janeiro, “A Ilha de Moraes” (1983), a 17 e 31 de janeiro, e “Portugaru-San, O Senhor Portugal em Tokushima” (1993), a 15 e 18 de janeiro.

Também vão ser exibidos “Máscara de Aço contra Abismo Azul” (1988), a 17 e 24 de janeiro, “As Sereias” (2001), a 14 e 31 de janeiro, “Shohei Imamura, O Livre Pensador” (1990), a 15 e 24 de janeiro, “Oliveira, O Arquiteto” (1992), a 14 e 22 de janeiro, e “Vanitas” (2004), a 20 e 28 de janeiro.

A retrospetiva termina a 1 de fevereiro, com uma sessão com as curtas-metragens “Como Servir o Vinho do Porto” (1966), “Sever do Vouga… Uma Experiência” (1971) e “A Pousada das Chagas” (1971), filmes que também podem ser vistos a 28 de janeiro.

O ciclo é organizado em parceria com a Cinemateca Portuguesa, à qual Paulo Rocha deixou, em testamento, toda a obra e património cinematográfico.