Dois sobreviventes do vírus Ébola vão processar o Governo da Serra Leoa, segundo avança o jornal The Guardian esta sexta-feira. Em causa estão milhões de dólares doados ao país para ajudar a combater a epidemia que, em vez de terem sido canalizados para ajudar as vítimas, terão desaparecido.

O processo deu entrada no tribunal da África Ocidental, na Nigéria, e nele argumenta-se que o desvio de fundos levou à violação dos direitos dos sobreviventes, que não terão sido apoiados. “Quando demos entrada nos centros de tratamento, queimaram as nossas roupas para combater o vírus e prometeram-nos dinheiro para comprar roupas novas. Prometeram-nos que depois daquilo tudo nos dariam três coisas: sustento, cuidados de saúde e apoio psicológico”, explica o presidente da Associação de Sobreviventes de Ébola da Serra Leoa, Yusuf Kabbah, que garante que essas promessas não foram cumpridas.

Durante os anos de 2014 e 2015, a Serra Leoa foi um dos três países da África Ocidental (juntamente com a Libéria e a Guiné-Conacri) mais afetados pela epidemia de Ébola que se espalhou pela região e que matou mais de 10 mil pessoas. Na altura, foram doados milhões de dólares ao Governo do país.

Uma auditoria revelou que, durante os primeiros seis meses do surto, recursos no valor de mais de 15 milhões de dólares (cerca de 12,5 milhões de euros) desapareceram — o equivalente a mais de 30% do valor doado ao país à época. “Eu obrigaria os indíviduos responsáveis pelas graves violações dos procedimentos de gestão financeira a devolverem o dinheiro”, declarou Lara Taylor-Pearce, auditora geral do país. “Mas isto não é o que acontece. As pessoas continuam a safar-se.”

Só na Serra Leoa o Ébola atingiu mais de 14 mil pessoas, tendo morrido cerca de quatro mil das afetadas pelo vírus.

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