O chefe da diplomacia norte-americana, Rex Tillerson, defendeu nesta sexta-feira publicamente a capacidade mental de Donald Trump, após a publicação de um livro polémico sobre os bastidores da Casa Branca já classificado como “falso” pelo Presidente. O livro do jornalista Michael Wolff “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump) fez manchetes e alcançou o topo da lista de vendas da Amazon hoje, dia em que foi publicado, relançando o debate sobre a personalidade instável do dirigente da principal potência mundial.

“Nunca pus em causa a sua aptidão mental, não tenho qualquer razão para duvidar da sua capacidade mental”, declarou Rex Tillerson, numa entrevista à estação televisiva CNN hoje transmitida.

“Ele não é como os presidentes anteriores, [e] também foi por essa razão que os americanos o escolheram, queriam uma mudança, e eu aprendi, ao longo do ano, a melhorar as minhas relações com o Presidente, a fim de lhe dar as informações de que ele precisa para tomar boas decisões”, prosseguiu o secretário de Estado, que nunca negou pessoalmente ter chamado “imbecil” ao Presidente, em privado, no verão passado, embora a sua porta-voz o tenha feito.

Através de muitos testemunhos, na maioria anónimos e classificados pelo Presidente como fantasiosos, o autor do livro descreve um executivo disfuncional e um chefe de Estado alérgico à leitura, muitas vezes fechado nos seus aposentos a partir das 18:30, com os olhos cravados nos seus três ecrãs de televisão, multiplicando os telefonemas para um pequeno grupo de amigos, sobre quem verte “um dilúvio de recriminações” que vão desde a desonestidade da imprensa à falta de lealdade da sua equipa.

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Todo o seu gabinete, segundo o autor, se interroga sobre a sua capacidade para governar, como declarou hoje numa entrevista concedida à televisão NBC. “Dizem que ele é como uma criança. O que querem dizer é que ele precisa de ver imediatamente satisfeitos os seus pedidos. Tudo gira em torno dele”, afirmou Michael Wolff.

“Ele é como uma esfera de ‘flipper’, dispara em todas as direções”, acrescentou, contando como, por exemplo, Trump repete as mesmas histórias “três vezes em dez minutos”, uma tendência também observada nas suas intervenções públicas. Tais críticas a Donald Trump, de 71 anos, não são totalmente novas, mas o autor deste livro vem engrossar as fileiras onde já pontificavam, desde 2015 e 2016, a democrata Hillary Clinton e alguns republicanos. Mais recentemente, o senador John McCain qualificou o septuagenário como “mal informado” e “impulsivo”.

Por sua vez, o presidente da comissão de Negócios Estrangeiros do Senado, Bob Corker, comparou a Casa Branca a uma “creche para adultos”. “Sei de fonte segura que todos os dias, na Casa Branca, o objetivo é detê-lo”, declarou, em outubro passado.

Trump está furioso com a imprensa, que ele considera ser-lhe irremediavelmente hostil. “Agora que se provou que o conluio com a Rússia é uma farsa completa e que a única conspiração existente foi entre Hillary Clinton e o FBI/Rússia, a imprensa ‘fake news’ e este novo livro falso atacam em todas as frentes imagináveis. Eles deviam tentar ganhar uma eleição. Triste!”, escreveu hoje o Presidente na rede social Twitter.

No Congresso, a questão do estado psicológico de Trump é cada vez menos um tabu: mais de uma dezena de representantes democratas (e um republicano) consultou em dezembro uma psiquiatra da Universidade de Yale que se interroga publicamente sobre a degradação mental do chefe de Estado.

“Risível”, reagiu a porta-voz da Casa Branca.