Aos 130 anos de idade, feitos em 2017, a Gran Cruz não quer correr o risco de ter “uma embolia geracional”. Porque parar é morrer, nas palavras do presidente executivo Jorge Dias, a empresa que detém a maior marca de Vinho do Porto no mundo, desde 2001, tem novos projetos — da guest house na zona da Ribeira, no Porto, ao enoturismo que vai nascer na duriense Quinta do Ventozelo.

Vale a pena esclarecer que a Gran Cruz é atualmente a maior exportadora de Vinho do Porto e tem um volume de produção de 30 milhões de garrafas anuais (o volume de negócio consolidado anda à volta dos 90 milhões de euros). Dados os números redondos, avancemos para os projetos: Jorge Dias está de olhos bem abertos e, a pensar nas tendências de mercado mais emergentes, conta ao Observador que uma guest house com sete quartos e dotada de um restaurante ainda sem nome, mas já com chefs metidos ao barulho, vai abrir as portas nesta primavera.

Jorge Dias, presidente executivo da Gran Cruz. © Jorge Simão

A guest house, que terá vista privilegiada para as caves que dão teto ao histórico vinho licoroso, vai ter uma decoração inspirada na mulher de negro (imagem de marca da Porto Cruz) e na essência do vinho. O restaurante, que apenas terá 35 lugares sentados, fica entregue ao chef Miguel Castro e Silva (também responsável pela cozinha do restaurante no Espaço Porto Cruz, inaugurado em 2012) e a José Guedes, chef residente. “A ideia é desafiar os sentidos ao associar a gastronomia portuguesa aos nossos vinhos, do Porto e do Douro”, assinala Jorge Dias.

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A empresa que já leva uma centena de anos no currículo também anda de olhos voltados para o enoturismo e está, de momento, a apostar na criação de propostas turísticas na Quinta do Ventozelo. Em causa estão mais de 500 anos de história — a Gran Cruz começou a comprar a produção da quinta em 2011 e acabou por adquirir a propriedade em 2014 — e 400 hectares, sendo que 200 deles estão cobertos por vinhedos. “Era quase um crime não a abrirmos a quem nos queira visitar. Costumo dizer que Ventozelo ainda é um daqueles lugares onde se consegue ouvir o silêncio e ver as estrelas. São os valores intangíveis da quinta.”

Além dos passeios pedestres, dos trilhos temáticos, dos postos de observação e do centro interpretativo, a quinta vai ter 29 unidades de alojamento sem que sejam acrescentados quaisquer metros quadrados. A ideia é adaptar as necessidades ao património existente, pelo que as habitações estarão espalhadas pela quinta — as antigas pocilgas, a título de exemplo, vão dar lugar a cinco quartos e a cantina de outros tempos será o restaurante, mas isso já corresponde à última parte do projeto. “Queremos que as pessoas sintam a simplicidade de uma quinta e que, tanto quanto possível, participem no seu quotidiano. Isto não é um hotel”, afirma o presidente executivo, assegurando que o enoturismo é uma ferramenta essencial, uma vez que a prova de vinho no seu local de produção traz acrescentos sensoriais.

A Quinta do Ventozelo tem, ao todo, 400 hectares. © Jorge Simão

De referir que a Quinta de Ventozelo, que tem uma vista privilegiada para o serpenteante rio Douro, é responsável por 16 referências de vinho. “A quinta é atravessada por uma ribeira dobrada, temos vinha em diferentes altitudes e, por isso, uma grande variedade de vinhos, brancos e tintos”, continua Jorge Dias. De tantos que são os hectares, também é daqui que nasce o gin da casa. Se tudo correr dentro do planeado, o projeto de turismo na Quinta do Ventozelo estará pronto no verão de 2019.

Acondicionar experiências e propostas ao chapéu que é a Gran Cruz não é novidade. Se em 2012 cria o Espaço Porto Cruz, que mora lado a lado com caves centenárias de outras marcas, em junho de 2014 inaugura a moderna adega de Alijó, que significou um investimento de 16 milhões de euros. A adega, inserida no Alto Douro Vinhateiro, foi edificada sobre um antigo estaleiro e apresenta um design futurista.

A adega de Alijó foi inaugurada em junho de 2014.

“As empresas que param, morrem”, garante Jorge Dias, que não hesita em explicar que a imagem do Vinho Porto esteve durante muito tempo ligada a um consumo mais sénior, daí a necessidade e esforço da empresa em chegar a novos consumidores. “Corríamos o risco de deixar passar o comboio de uma geração”, atira, fazendo referência ao consumo “formal” e ao quão “complicado” o Vinho do Porto consegue ser, defendendo o uso da bebida em cocktails. Não há dúvidas, Jorge Dias quer estar na estação certa, à hora certa.