Os trabalhadores da conserveira Cofaco em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, admitem fazer greve em solidariedade para com os quadros da empresa abrangidos pelo despedimento coletivo no Pico, indicou esta quarta-feira à agência Lusa um dirigente sindical.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços dos Açores (SABCES/Açores), Vítor Silva, os trabalhadores em Rabo de Peixe “não vão baixar os braços” para lutar pela salvaguarda dos postos de trabalho dos seus colegas na ilha do Pico.

“Existe a possibilidade, até como forma de solidariedade, de haver greve na outra unidade fabril da Cofaco, ou seja, na Cofaco de Rabo de Peixe”, afirmou Vítor Silva.

Em causa está o anúncio de terça-feira da administração da conserveira Cofaco, dona da marca Bom Petisco — a empresa transmitiu que iria proceder ao “despedimento coletivo” dos 180 trabalhadores da fábrica do concelho da Madalena, na ilha do Pico, com direito a indemnização e fundo de desemprego.

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A fábrica vai, contudo, manter os trabalhadores até abril, altura em que arrancam as obras para a construção da nova unidade industrial, que deverá estar edificada dentro de 18 meses a dois anos.

O secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, Gui Menezes, afirmou que o executivo recebeu a garantia da conserveira de readmitir “a grande maioria” dos trabalhadores assim que a nova fábrica estiver a funcionar, também no Pico. O sindicalista Vítor Silva criticou também a postura do Governo Regional.

Lamentar, de facto, a posição do Governo Regional nesta matéria, o silêncio que teve até ao momento. E por aquilo que nós sabemos já tinha conhecimento desta situação. Ainda hoje o secretário Gui Menezes o que foi comunicar aos trabalhadores, como se essa situação fosse uma situação já inevitável e encerrada […]. Não é esta a posição dos trabalhadores e existe determinação em lutar ainda por aqueles postos de trabalho”, concretizou.

O dirigente admitiu que a decisão sobre uma greve em Rabo de Peixe (concelho da Ribeira Grande) poderá sair de um plenário de trabalhadores agendado para sexta-feira, às 15h00 locais (16h00 em Lisboa). Na próxima semana os sindicalistas querem reunir-se “com as forças políticas e Governo Regional” para discutir este caso.

Vítor Silva lembrou ainda “a importância social e económica” da Cofaco. “Estaremos aqui a falar à volta de três centenas de trabalhadores que, direta ou indiretamente, vão ter consequências desta situação da Cofaco”, alertou.

O sindicalista acredita que será possível “salvaguardar todos” ou “parte significativa” dos trabalhadores, defendendo que deve ser dada “prioridade” às pessoas que já trabalham na Cofaco.

Os trabalhadores da unidade fabril do Pico da Cofaco trabalham há três anos em condições terríveis, chove dentro das instalações, as condições de trabalho são mesmo terríveis, mas foram sempre aguentando essas condições, sempre com a promessa de que iria ser feita uma nova unidade fabril. O que nós verificamos agora é que, de uma hora para a outra, são confrontados com um anúncio que não vai de acordo com as expetativas, nem com aquilo que foi dito ao longo do tempo”, considerou.

Segundo Vítor Silva, outra das preocupações sindicais tem a ver com a idade dos trabalhadores. “Estamos aqui a falar de uma empresa em que um número muito significativo de trabalhadores tem mais de 50 anos. São muito novos para a reforma, mas por outro lado têm uma idade avançada para integrarem o mercado de trabalho”, lembrou.

O presidente do SABCES/Açores lembrou que o processo da Cofaco está cheio de “contradições”, questionando mesmo a verdadeira intenção de construir uma nova fábrica na ilha do Pico. “É perfeitamente legítimo que os trabalhadores e os seus representantes tenham muitas dúvidas quanto à construção de uma nova unidade fabril, porque o processo e as promessas já se arrastam há muito tempo”, disse.