No dia de Natal de 2016, os cientistas de serviço no Observatório Arecibo (Porto Rico) receberam um presente especial: uma rajada rápida de sinais de rádio vinda dos confins do espaço foi detetada pelo maior radiotelescópio fixo do mundo. Mas ninguém sabia de onde vinha aquele murmuro espacial. Foram precisos dois anos e mais 24 destes sinais altamente energéticos para chegarmos a possíveis conclusões: esta rajada de sinais rádio pode vir de uma estrela de neutrões nas vizinhanças de um gigantesco buraco negro.

As rajadas rápidas de rádio são um sinal eletromagnético extremamente energético que se propagam pelo espaço vindos de algum corpo celeste, mas que duram apenas alguns milissegundos. Apesar de ser um fenómeno astrofísico comum, este sinal que foi detetado em Porto Rico em dezembro de 2016 mostrou-se especial: FRB 121102 era o único sinal desta natureza que se repetia. Agora, novas observações feitas à luz transportada pela rajada sugere que vem de uma estrela de neutrões com um campo magnético mais forte do que o normal, tal como acontece quando está muito próximo a um buraco negro.

Outro pormenor que agora conhecemos sobre FRB 121102 é que estas ondas rádio passam por um processo chamado efeito Faraday. Esse fenómeno ocorre quando um campo magnético forte faz com que a direção da luz gire como um remoinho nesse mesmo campo. Esse movimento de rotação é raro porque são conhecidos poucos campos magnéticos assim tão fortes. Como os corpos celestes com maior campo magnético do espaço são os buracos negros, os cientistas supuseram que a estrela de neutrões emitia a radiação eletromagnética, que depois era torcida pelo magnetismo de um buraco negro extremamente denso. E isso também justifica porque é que este sinal vai e vem — o único conhecido por nós que se comporta assim.

De acordo com o estudo publicado na revista Nature, esta complexa e improvável interação entre uma estrela de neutrões (um cadáver muito compacto resultante do colapso de uma estrela com 29 vezes o tamanho do sol, que gira milhões de vezes por segundo) e um buraco negro (uma espécie de aspirado celeste, extremamente denso, a que nada, nem mesmo a luz, escapa) ocorre numa galáxia anã a mais de 3 mil milhões de anos-luz da Terra. Isso significa que, mesmo viajando à velocidade da luz, demoraríamos 3 mil milhões de anos a chegar até ela. Ainda assim, algo parecido ocorre mais perto daqui, a 26 mil anos-luz do Sol: este fenómeno cheio de energia é o mesmo que os cientistas já sabem acontecer no centro da Via Láctea, onde fica um grande buraco negro.

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