Henrique Chaves, o ex-ministro adjunto de Pedro Santana Lopes que se demitiu do Governo em 2004 — e precipitou a dissolução da Assembleia da República –, conta que o atual candidato à liderança do PSD também chegou a abordar com ele a possibilidade de formar um novo partido. “A ideia era recorrente e, antes de ir para Governo, não consigo precisar a data, já tinha abordado a ideia comigo”, diz ao Observador.
“Falou-me pelo menos uma vez nessa possibilidade, em casa do Rui Gomes da Silva”, garante Henrique Chaves — militante número três do PSD, que desde a queda do Governo santanista tem relações cortadas com Santana Lopes e que nesta eleição aceitou fazer parte da Comissão de Honra de Rui Rio. “Disse-nos que queria fazer outro partido. Nós manifestámo-nos contra e eu até perguntei como é que ele montava um aparelho de partido. As sedes nacional, regionais e concelhias? Levantei a questão da necessidade de haver uma base imobiliária”, diz Henrique Chaves.
Segundo o advogado e ex-ministro, Santana terá respondido que isso não era preciso, porque havia outras formas de contactar as pessoas, sem necessidade de base física, por exemplo através da internet e email. No fim de novembro de 2017, quando assumiu o apoio a Rui Rio no âmbito da corrida à liderança, Henrique Chaves disse ao Observador que não acreditava que Pedro Santana Lopes tivesse mudado nos últimos 12 anos. “Não acredito na regeneração das pessoas”, afirmou.
Na tarde desta sexta-feira, dia de fecho da campanha interna para a liderança, o candidato disse num almoço com militantes, em Lamego, que “a Sá Carneiro atiravam-lhe várias vezes à cara que queria fundar outro partido”. Há vários relatos sobre essa eventual intenção do primeiro-ministro que, em 1980, morreu em Camarate.
“Não acredito na regeneração das pessoas” diz Henrique Chaves, o ministro que fez cair Santana
O Observador contactou Rui Gomes da Silva, mas o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares de Santana Lopes não quis falar sobre este assunto. Numa notícia do Independente, de agosto de 1996, onde também era dada como certa a intenção de Santana formar o Partido Social Liberal, Rui Gomes da Silva também era apresentado como sendo contra a ideia.
Depois de José Pacheco Pereira ter dito, esta quinta-feira, na Quadratura do Círculo, que Santana Lopes falou com ele em 2011 no sentido de o ouvir sobre a formação de um novo partido, o candidato reagiu. Em entrevista ao Observador na manhã desta sexta-feira, Pedro Santana Lopes admite que terá falado com Pacheco Pereira “uma vez”, mas não sobre um partido. “Foi já público, e confirmei, e assumi na altura a criação de um movimento político. Ele [Pacheco Pereira] diz que não era um movimento.” O candidato à liderança ainda ironizou:
Não, por amor de Deus. Olhe, isso [falar com Pacheco sobre a formação de um partido] era tão provável como o Presidente da Coreia do Norte dizer que gostava de ir ao cinema com o Presidente Trump. Embora, se calhar, isso seja mais provável, porque na diplomacia as coisas dão muitas voltas.”
No entanto, em março de 2011, Pedro Santana Lopes admitiu, na TVI estar a ponderar a formação de um partido quando disse: “Há tempos que admito e considero que é muito provável que apareçam outras realidades no centro-direita de Portugal. A ver vamos e eu estou num processo de pensamento sobre isso. Quero ser livre, gosto de ser livre. Este é o meu estado de espírito. Não tenho a decisão tomada. Se tivesse eu dizia. Eu pertenço a um partido hoje em dia com o qual estou em discordância em muitas matérias. Estou farto de algumas coisas que se passam no partido, um partido existe para pensar no país”.
Quando o Observador perguntou a Santana Lopes se “nunca quis” formar um novo partido, o ex-primeiro-ministro respondeu que pode ter pensado em fazê-lo, mas nunca passou aos atos: “Muitas vezes, quando temos histórias de amor ou relacionamentos de amizade, às vezes zangamo-nos, estamos cansados e podemos ter desabafos“. Uma fonte próxima de Santana chegou a dizer ao Observador que essas hipóteses surgiam quando estava desiludido e descontente com o PSD, mas que não passava de “desabafos”. E que a seguir voltava a envolver-se de corpo e alma com o PSD.
Santana nunca quis formar um novo partido? “Às vezes zangamo-nos e podemos ter desabafos”
“Não pratiquei nenhum ato — ninguém pode dizer que o fiz — nesse sentido. Os meus atos todos são pelo meu partido”, afirmou na entrevista ao Observador. “No ato de contrição há pensamentos, palavras, atos e omissões, mas eu acho que o pensamento é o pecado mais ligeiro”, argumentou.
Quanto à notícia de O Independente acima reproduzida, que dava detalhes sobre a criação de um eventual Partido Social Liberal, Santana Lopes negou que houvesse declarações suas sobre o tema: “Se lhe contasse a história dessa notícia. Julgo que foi no dia em que um diretor do jornal esteve para sair e me falaram a dizer: é preciso uma manchete para esta semana e vamos pôr esta manchete. Eu respondi: ‘São doidos. Só podem ser doidos!’ Portanto, o que não encontra são declarações minhas, a não ser essa. O que eu disse sempre foi: há realidades novas que podem surgir no espaço partidário português“.
https://observador.pt/videos/entrevista-2/8-momentos-decisivos-da-entrevista-de-santana-lopes-ao-observador/