O pianista de origem alemã Menahem Pressler, 93 anos, atua esta sexta-feira e sábado em Lisboa, com a Orquestra Gulbenkian, no âmbito de uma agenda que inclui outras cidades europeias, porque tocar é uma questão de amor pela música.

Menahem Pressler gosta de falar da “alegria de levar a música” às salas de concerto, encontrar pessoas dispostas a partilhá-la consigo, algo que o comove e “toca tão fundo”, como afirmou ao jornal The Boston Globe, em novembro de 2016, no regresso à cidade norte-americana onde, no ano anterior, fora operado a um aneurisma na aorta.

Em Lisboa, Menahem Pressler, fundador do Trio Beaux Arts e “um dos mais prestigiados pianistas” dos últimos 70 anos, como assegura a Gulbenkian, interpreta o Concerto para piano e orquestra n.º 23, de Mozart, tradicionalmente descrito como “um dos mais belos” do compositor.

Pressler nasceu em Magdeburgo, na Alemanha, em 1923, e aí viveu enquanto o regime nazi não o impediu de aceder ao ensino, como judeu.

Testemunhou a história do último século. Partiu para Itália, com a família, em 1938, refugiou-se na Palestina, em 1939, e fixou-se nos Estados Unidos, no início da década de 1940, onde vive desde então.

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Venceu o Concurso Internacional de Piano Debussy, em São Francisco, em 1946. Tinha 23 anos e, pouco depois, inaugurava a sua carreira de concertista com a Orquestra de Filadélfia e o maestro Eugene Ormandy, seguindo-se as maiores orquestras da época, nos Estados Unidos, primeiro, e na Europa, depois, concluída a II Guerra Mundial.

Em 1955, fundou o Trio Beaux Arts – “um dos mais aclamados e influentes grupos de câmara a nível mundial”, escreve a Gulbenkian -, que teve em Pressler o único elemento permanente, até à dissolução, em 2008.

O pianista, porém, não abdicou de uma agenda regular de atuações ao vivo, com programas que contemplam Mozart, Brahms, Schubert ou Schumann, Beethoven, Tchaikovsky e César Franck, entre outros dos seus compositores de eleição.

Em 2015, suspendeu a atividade, após a cirurgia, mas depressa regressou às salas de concerto e ao ensino que continua a ministrar na Escola de Música da Universidade do Indiana, a que pertence há 63 anos.

É uma questão de amor pela música e pelas pessoas, manter-se assim ativo, afirma. “Toco, sinto-me acompanhado, isso faz a música mais bonita e oferece [ao público] algo que pode desfrutar”, disse ao Boston Globe, em novembro de 2016. “Tocar a música que adoro é aquilo para que realmente creio que nasci”.

Em 70 anos de carreira, recebeu vários prémios Gramophone, Diapason, Choc Musique, Charles Cros e Classica, medalhas de mérito da Sociedade Nacional das Artes e das Letras, dos Estados Unidos, da Academia das Artes e Ciências, assim como o prémio de carreira da associação americana de Professores de Música.

Em 2005, o Governo alemão condecorou-o com a Grande Cruz de Mérito, e o Governo francês nomeou-o comendador da Ordem das Artes e das Letras. Recebeu ainda a Medalha do Wigmore Hall (2011), no Reino Unido, o Prémio Yehudi Menuhin (2012), em Espanha, e entrou na Gramophone Hall of Fame (2012).

Com o Trio Beaux Arts, gravou quase todo o repertório de música de câmara. A solo, soma três dezenas de álbuns, que cobrem mais de três séculos de música, da expressão barroca de Bach à contemporânea de Ben-Haim.

Desde a década de 1950, que Menahem Pressler é um nome regular nos festivais e temporadas de música da Fundação Calouste Gulbenkian. No regresso ao Grande Auditório, conta com o maestro Leo Hussain, na direção da orquestra, que também interpretará “Petroushka”, de Stravisnky.

O concerto de sexta-feira tem início às 21:00, o de sábado, às 19:00.

Na agenda do pianista, seguir-se-ão, até abril, atuações no Concertgbouw de Amesterdão, na Filarmónica de Berlim e no Laeiszhalle de Hamburgo, entre outras salas europeias.