As cores, os padrões, os materiais e as influências — a decoração está mais ligada à moda do que pensa, só não desfila numa passerelle. Falámos com quatro designers de interiores portugueses que puxaram da bola de cristal para uma antevisão das principais tendências de decoração para 2018. Em jeito de apanhado, as conclusões são duas: mais do que uma sala capa de revista (e se morremos de saudades da Casa Claudia), os espaços querem-se humanizados e com uma dose saudável de imperfeição, enquanto as texturas se sagram as grandes rainhas do lar. É sabido que os olhos também comem, mas 2018 vai ser um ano do toque.

Wabi-sabi: nada é perfeito e vivemos bem com isso

Volta e meia, vêm os japoneses e ensinam-nos com cada coisa. Presumindo que nunca ouviu falar em wabi-sabi (não confundir com wasabi, o picante verde que acompanha o sushi), prestamos o devido esclarecimento. É uma filosofia e uma visão do mundo em que belo é sinónimo de imperfeito e incompleto. Sabemos que há muito boa gente que nunca precisou de conselhos de um decorador para aplicar este lema lá em casa, mas estamos a ir um bocado além disso.

Travessas Margarida Fabrica 55€

Michael Miranda, do atelier portuense Ding Dong, fala em “objetos pessoais que humanizam o espaço”. Entre as peças-chave que vão marcar 2018, o arquiteto destaca roupa, livros e peças de decoração compradas em mercados de rua. Moral da história: pense duas vezes antes de ignorar aquele solitário na Feira da Ladra, porque ele (e a sua patine) podem fazer a diferença na sala. “São peças que fazem com que o espaço não se leve demasiado a sério”, conclui Michael.

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O que serve para os ambientes, pode também servir para o design dos próprios objetos. As peças artesanais são uma tendência indiscutível (já lá vamos) e isso significa que nem todas as tigelas vão trazer aquele rebordo perfeitinho, que nem todos os pratos vão ter exatamente a mesma forma e que a manta do sofá vai ter uma textura muito menos regular do que o habitual. Sim, os objetos também são imperfeitos, mas quanto mais únicos e irrepetíveis melhor.

Mais cor na cozinha, por favor

Já lá vai o tempo em que a cozinha era a divisão da casa que mais se assemelhava a um consultório de dentista, pelo menos, assim se espera. A tendência é tornar esta divisão da casa mais acolhedora e, gradualmente, ir reduzindo a dose de branco. Para isso, existem as madeiras e os tons pastel, que podem perfeitamente aumentar os níveis de conforto, mas também os apontamentos de cores fortes e os padrões, seja em estofos, pequenos móveis de apoio e num eletrodomésticos mais extravagante, ou em peças muito mais improváveis de se encontrar numa cozinha como é o caso de uma tela ou poster ou de abajours de tecido.

Sugestão de decoração de cozinha Ikea

Sofás com personalidade (e curvas)

A tendência para arredondar aponta sobretudo para os sofás e poltronas, que em 2018 se deixam seduzir pelas linhas dos anos 70. Ao contrário de modas anteriores, o sofá tem tudo para voltar a ser o grande statement da sala, pela cor enérgica, pelo padrão cheio de movimento ou pela forma ousada. Os formatos assimétricos, as linhas curvas e as volumetrias colossais fazem desta peça umas das estrelas do ano.

Sofá assimétrico La Redoute 519,35€

2018, o ano dos tecidos

Para Gracinha Viterbo, da Viterbo Interior Design, se há altura para “usar e abusar” dos tecidos é agora. Embora nunca tenham sido expulsos de casa, propriamente, em 2018 vão ser pau para toda a obra. “Forrar paredes com o mesmo tecido das cortinas, sobrepor quadros contemporâneos sobre tecidos clássicos ou quadros clássicos sobre tecidos contemporâneos. O uso do tecido volta em força depois de umas boas duas décadas em que os interiores lhe fecharam portas”, afirma a decoradora com atelier em Cascais.

E num ano em que a popularidade dos tecidos dispara lá para os píncaros, os interiores também não se ficam pelas cores sólidas. Em 2018, a decoração vai continuar em sintonia com os moods tropical e botânico (de mãos dadas com a moda onde a febre floral soma e segue), para não falar a extrema versatilidade dos tecidos estampados. Além de revestirem paredes, vão tomar conta de tudo o que é objeto estofado, regressar à iluminação através dos abajours e e dar nova vida a elementos em desuso como é o caso dos biombos.

Projeto da Viterbo Interior Design com paredes revestidas a tecido

Mais do que ver os tecidos com outros olhos, Michael Miranda sente-os com outras mãos. “A textura é o novo estampado”, afirma. Em 2018, o atelier Ding Dong aposta todas as fichas nas texturas, mais do que em padrões profusos. O arquiteto salienta ainda o regresso da crina de cavalo como matéria-prima de eleição para os estofos.

Cores preciosas

O ultra-violeta pode ser a cor escolhida pela Pantone, mas 2018 vai ser muito mais do que isso, vai ser uma joia de valor incalculável. As principais publicações internacionais da especialidade estão de acordo: a paleta deste ano gira em torno das pedras preciosas. No outono e no inverno, os ambientes querem-se mais aconchegantes, oportunidade para fazer brilhar o tom luxuoso das ametistas e o verde profundo das esmeraldas. Com a chegada da primavera, tudo fica mais leve e o lilás e a lavanda estão entre as cores mais promissoras.

Projeto do atelier Ding Dong

Mas Michael Miranda, o homem das ressalvas, alinha-se com uma outra previsão internacional. “O preto e o branco transcendem o efeito gráfico e adquirem finalmente a dimensão de conforto. Já tem vindo a acontecer na moda, mas é transposto agora para os interiores”, defende. Em suma, uma alternativa para quem prefere jogar pelo seguro.

Madeira escura e design sofisticado – como resistir-lhes?

Depois da nossa querida Escandinávia nos ter enchido a casa de madeiras claras, tudo para não estragar a tão desejada harmonia neutra, eis que as espécies mais escuras contra-atacam. Por muitos fantasmas que lhe pairem na cabeça, nomeadamente o daquele móvel em mogno com cinco metro de comprimento e dois de altura que a avó tinha na sala, é preciso manter o espírito aberto até porque a vaga do branco e bege também não podia durar para sempre. Felizmente, para contrabalançar o peso das madeiras escuras temos o design. Minimais, com detalhes elaborados ou com linhas retro, os móveis escuros resgatam a sobriedade perdida, além de surgirem com um design altamente sofisticado.

Móvel com portas da Furniture Village 561€

Paragens longínquas

Esta é a praia de Gracinha Viterbo, aliás, basta entrar no seu Cabinet of Curiosities para perceber como a decoração pode ser feita com objetos com identidades do mundo inteiro. Pois bem, em 2018 a decoração corre mundo de mochila às costas e não resiste ao instinto colecionista. Ao estilo que daí resulta a decoradora chama “nómada chic”.

A tendência passa pelos tecidos (estão em alta, como já dissemos) e remete para os elementos artesanais: bordados manuais, velhos métodos de tecelagem, peças de cestaria, tapeçaria tradicional, cerâmica de autor, técnicas de trabalhar a pele e o couro.

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“É como se os ambientes fossem criados por viajantes. Colecionam e sabem fazer uma curadoria única das peças e texturas que vão trazendo das suas viagens”, explica. É certo que a decoração tem o poder de simular numa sala viagens nunca feitas na vida, mas se as peças forem verdadeiros recuerdos do outro lado do mundo, tanto melhor. Gracinha destaca os ikats da Turquia e os motivos indianos como os mais promissores do ano, embora os ambientes devam sempre ter um cuidadoso toque europeu, que isso das salas temáticas é muito engraçado mas ficou lá atrás, no século XIX.

O que é natural é bom

A visão holística que Tiago Patrício Rodrigues tem do novo ano também engloba a decoração, ou não fosse ele o diretor criativo da Pura Cal. Em 2018, remete-nos para modos de estar e defende um regresso à natureza. “É uma tendência que se reflete cada vez mais nos nossos hábitos, seja com os alimentos biológicos, com a utilização de tecidos orgânicos nas roupas, com os barros e madeiras nos produtos utilitários, com o uso de matérias e acabamentos naturais no mobiliário ou ainda com o retorno de materiais à arquitetura como a terracota, a pedra e a cal”, esclarece o arquiteto.

Tigelas em madeira Bolecraft à venda na Etsy 15,35€

Neste caso, a tendência apela à consciencialização e aos valores. “Há hoje uma maior preocupação com as matérias-primas e texturas. As cores e materiais naturais invadem cada vez mais os espaços. Tal como os hábitos e atividades ligadas à natureza, estão a tornar-se em sinónimo de vida, valor e sofisticação”, completa.

Latão, o metal nobre

É difícil viver sem eles, estão sempre nalgum lado, mesmo que não saltem à vista imediatamente. Falamos dos metais, campeonato em que 2018 se destaca por abrir alas a uma nova matéria-prima, o latão. Longe de ser o parente pobre da família, sucede à febre do cobre e do ouro rosa, de tal maneira violentos que bendita a hora em que se reformaram. O latão chega mais sóbrio, mais sofisticado e mais orgânico, sabe estar na sala, no quarto, na cozinha e na casa de banho e é versátil o suficiente para se adaptar a mobiliário, peças decorativas, artigos utilitários e luminária. O verde esmeralda, uma das cores do ano, e qualquer tom mais claro de rosa ficam-lhe a matar — #ficaadica.

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Aquele candeeiro antigo

Será que ainda alguém aguenta ouvir a expressão “vintage”? Não usaremos, mesmo que os candeeiros do momento encaixem na categoria de design-do-século-XX-que-passou-de-moda-mas-que-agora-toda-a-gente-quer-porque-tem-pinta. E dentro do nicho, as opções multiplicam-se, do exemplar industrial em metal aos clássicos de parede, todos mimosos. Os candeeiros pararam no tempo e se forem de facto sobreviventes do século passado, então ainda ainda trazem um bónus, a história.

Candeeiros antigos à venda no Cantinho do Vintage