Livro preferido? “O Poder de Agora, de Eckhart Tolle”.
Num programa da Tennis TV em 2009, Novak Djokovic não teve dúvidas em apontar a obra que mais o inspirava enquanto tenista. Nessa altura, o sérvio tinha apenas um Grand Slam, o Open da Austrália. Mas não era por isso que deixava de acreditar na importância de viver o momento. E foi assim que chegou a número 1 do mundo, foi assim que se tornou o oitavo tenista a conquistar os quatro Majors, foi assim que se tornou o primeiro desde Rod Laver (1969) a ter na sua posse em simultâneo as quatro grandes provas do circuito ATP (2016). Caiu e levantou-se.
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Após uma longa paragem por lesão que lhe tirou os últimos meses de competição em 2017, o sérvio regressou agora no Kooyong Classic (torneio de exibição) antes de entrar no Open da Austrália. E as principais diferenças para voltar a atingir o topo são fáceis de detetar: além de jogar com uma manga elástica, para ter um melhor controlo nos movimentos do cotovelo que tantos problemas lhe deu, Djokovic mostrou uma nova técnica de serviço.
“Apesar de não ser muito diferente, os ajustes e as mudanças fizeram uma grande diferença em termos mentais e precisei de tempo para me adaptar e perceber se era ou não bom para mim. Até agora tem funcionado muito bem. Estou contente com o novo movimento, é uma melhoria que me permite ser mais eficiente e diminuir a carga também no cotovelo”, disse.
Djokovic with new service reduced motion: 2018 vs. before pic.twitter.com/MtRIAoEfjN
— Break Point (@BreakPointBR) January 10, 2018
Aos 30 anos, o atual número 14 do ranking tinha uma carta na manga e preparou de forma meticulosa o regresso com a contratação de mais um treinador para juntar-se a André Agassi (o também ex-jogador Radek Stepanek) e de uma outra figura mais desconhecida do público em geral: Craig O’Shannessy, um analista responsável pelo projeto “Brain Game Tennis” considerado um expert na análise do jogo individual de cada tenista no court. É assim que Nole tentará reentrar na luta pelos lugares cimeiros, num contexto onde tem como principais adversários um misto de “velha guarda” (Roger Federer e Rafa Nadal) e “nova geração” (Dimitrov, Zverev ou Thiem).
“Quando passei mal na minha carreira tive que parar e respirar, analisar o que fiz na minha vida com este desporto e dar conta do quanto amo o ténis e de como desfruto a jogar”, comentou no final do ano passado, quase que fazendo uma análise à temporada menos conseguida de 2017. Uma espécie de introspeção com alguns pontos de contacto à que teve em 2010, ano em que ganhou balanço para cinco anos ao mais alto nível.
“Questionei muitas coisas da minha carreira porque estava no top-5, via-me impotente a lutar contra os melhores e para mim não bastava estar ali. A seguir à derrota em Roland Garros, entrei em crise porque estava desolado. Falei com os meus pais e treinadores enquanto chorava mas os conselhos do Marjan Vajda [n.d.r. o seu treinador na altura] devolveram-me a paixão pelo ténis”, explicou em relação a essa fase. Que, tal como agora, também teve um “segredo”: uma dieta rigorosa onde evitou tudo o que tivesse glúten.
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Igor Cetojevic acabou por ter a chave para o melhor Djokovic de sempre: ao mudar a dieta do jogador (que perdeu algum peso mas ganhou mobilidade), cortando no pão, nas pizzas e nas pastas sem deixar de consumir as proteínas e os hidratos de carbono necessários, o sérvio ganhou em cinco anos mais de metade dos Grand Slams realizados (11 em 20): Open da Austrália em 2011, 2012, 2013, 2015 e 2016 (já ganhara em 2008); Wimbledon em 2011, 2014 e 2015; US Open em 2011 e 2015; e Roland Garros em 2016. Com isso, foi líder 223 semanas.
Voltando a 2018, e na antecâmara da estreia no Open da Austrália (joga terça-feira a primeira ronda com Donald Young), Djokovic admitiu que ainda não se encontra a 100% mas sublinhou ter feito tudo o que podia fazer para se apresentar nas melhores condições na prova que poderá servir de rampa de lançamento para a época.
“Nesta altura estou a este nível mas todos os dias vou melhorando. Tenho esperança de poder ficar a 100% ainda antes do início do torneio. Depois, não sei como o cotovelo irá comportar-se porque, mesmo que esteja 100% curado, nunca se sabe como irá reagir após seis meses sem competição. Mas não há mais para fazer, fiz tudo o que se estava no meu poder para poder estar aqui e entrar no Open da Austrália”, destacou.
Uma coisa é certa: estando bem e de cabeça limpa, Nole terá de ser incluído no lote de candidatos ao triunfo no primeiro Grand Slam da temporada. Até porque, como um dia admitiu numa entrevista, “o ténis é um desporto mental”: “Todos estão em forma, todos trabalham ao máximo todos os dias mas, se não se estiver emocionalmente estável, ninguém consegue dar o seu melhor no court. Quando se defrontam os melhores, o vencedor é decidido por um par de pontos. Quem é capaz de manter a calma e estar confiante nesses momentos é que tem sucesso”.