A construtora britânica Carillion, com cerca de 43 mil empregados em todo o mundo, foi forçada a pedir a insolvência depois de falhar a tentativa de obter uma ajuda financeira do Governo. A empresa esteve envolvida em algumas das mais emblemáticas obras públicas inglesas, como a Royal Opera House, o Túnel da Mancha e a Galeria B da Tate Modern.
As negociações com o Executivo de Theresa May aconteceram no domingo e envolveram um pedido de ajuda de 300 milhões de libras (337 milhões de euros) que permitiria manter a empresa à superfície até ao final do mês. No entanto, o Governo recusou e a incapacidade para obter outros financiamentos empurraram a Carillion para uma falência forçada.
David Lidington, ministro que dá apoio a Theresa May, defendeu assim a posição do Governo britânico: “Decidimos que os contribuintes não devem ser chamados a salvar um negócio privado”, afirmou à BBC. Lidington acrescentou que os problemas da Carillion terão começado fora do país. A construtora emprega quase 20 mil funcionários no Reino Unido, de um total de 43 mil trabalhadores, e está envolvida em vários contratos públicos. Desde o TGV (comboio de alta velocidade) britânico, passando por hospitais e contratos com as forças de segurança.
A Carillion tem dívidas em incumprimento no valor de 1,5 mil milhões de libras (1,1 mil milhões de euros) e perante a recusa do Governo em conceder ajuda financeira, a administração concluiu que não tinha outra hipótese senão recorrer à liquidação compulsiva com efeito imediato, afirmou a empresa em comunicado. Ainda assim, a construtora divulgou uma mensagem garantindo que os serviços e fornecimentos se devem manter, tal como preveem os contratos ainda em curso.
https://twitter.com/Carillionplc/status/952921947423346689
O grande desafio para o poder político é agora o de assegurar que a falência se vai processar de forma ordeira e sem pôr em causa a execução dos contratos com o Estado, passando a responsabilidade pelas obras para os concorrentes. Desde julho do ano passado que a situação da construtora ia ficando mais vulnerável, com o arrefecimento do mercado de construção no Reino Unido. A empresa que chegou a empregar 50 mil pessoas, tem vindo a acumular dívida desde a compra da Eaga, negócio de serviços de energia e painéis solares, em 2011.
Face à crise da construção, a Carillion procurou reajustar a sua aposta para a gestão de contratos públicos e instalações do Estado, tipos de parcerias público privadas que representavam já quase dois terços das receitas. Mas isso não foi suficiente para compensar a queda no setor da construção e o esmagamento das margens na sequência da crise financeira.
O colapso da Carillion também está a levantar ondas políticas, com o Partido Trabalhista a atacar o Governo por entregar a grandes empresas privadas a gestão de projetos do Estado e exigindo a tomada de controlo desses projetos. O líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, já veio a público para declarar a sua posição — e exige que o governo de May tome medidas para proteger a empresa, os seus funcionários, mas também os contribuintes e restantes empresas que podem ser afetadas pelo colapso da construtora.
The Government must act quickly to protect employees, pension holders, taxpayers and companies across the supply chain by bringing these crucial public sector contracts back in-house. https://t.co/3kkXLpGiFx
— Jeremy Corbyn (@jeremycorbyn) January 15, 2018
Lidington responde que os contratos foram estruturados de maneira a assegurar que os parceiros da Carillion vão assumir a responsabilidade pela sua execução depois da queda da construtora. Alguns serviços voltarão para o Estado, outros serão passados para outras empresas de forma ordenada, assegurou.