Há uma coisa característica do futebol sul-americano com especial incidência na Argentina: qualquer jogador com o mínimo de visibilidade tem uma alcunha. Exemplo? No Mundial da Rússia, o ataque poderá ficar entregue a La Pulga, El Pipita, La Joya e El Fideo, que é como quem diz Messi, Higuaín, Dybala e Di María. Quando chegou a Portugal, em 2008, onde tinha à espera Rui Costa de sorriso rasgado numa passagem clara de camisola 10 do Benfica, Pablo Aimar era conhecido como El Mago e El Payaso, mas nunca achou muita graça ao segundo nome, que entretanto acabou por cair em desuso. E porquê? Porque era realmente um mago com a bola nos pés.

Formado no Estudiantes Río Cuarto, em Córdoba, mudou-se para o River Plate com 16 anos e foi pelos Millonarios que se estreou como sénior e despertou as atenções dos principais clubes europeus (sagrou-se também nesse período campeão mundial e bicampeão sul-americano de Sub-20), rumando em 2001 ao Valencia pela quantia recorde na altura de 24 milhões de euros. Fez carreira no novo clube, sendo duas vezes campeão de Espanha e somando títulos internacionais como a Taça UEFA ou a Supertaça Europeia, além de ter estado presente numa final da Liga dos Campeões. Rumou depois ao Saragoça, onde esteve duas temporadas antes de ser resgatado pelos encarnados, que viam no médio ofensivo o perfil do novo maestro da orquestra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na Luz, foi campeão numa fantástica equipa que tinha do meio-campo para a frente Javi García, Ramires, Di María, Saviola e Cardozo (além de Aimar, claro) e, durante cinco temporadas, foi espalhando classe dentro e fora de campo com uma média de 23/24 jogos por ano até 2013, altura em que, com 33 anos, arriscou uma aventura no Johor Darul Tazim, da Malásia, antes de acabar no River Plate em 2015. Agora, o atual selecionador Sub-17 argentino está de volta à ação para jogar e não ensinar, numa decisão que tem merecido amplo destaque na imprensa.

O internacional argentino, hoje com 38 anos, vai regressar aos relvados para cumprir uma espécie de promessa. Aimar sempre foi um jogador diferente e até na hora de despedida, em vez de um daqueles encontros particulares entre amigos, prefere dizer adeus num jogo oficial da 3.ª Divisão pela equipa onde começou a dar os primeiros pontapés na bola, o Estudiantes Río Cuarto. E com outro pormenor: vai ser companheiro de equipa do irmão Andrés (que chegou a estar no River mas fez uma carreira mais modesta, com uma passagem pelo Estoril em 2008/09) num jogo frente ao Sportivo San Francisco, a contar para a Taça da Argentina.

O treinador vai ajudar-me a cumprir esta conta pendente de jogar com o meu irmão. Tenho a possibilidade de poder jogar mais um pouco e quero aproveitar. Para mim, vai ser uma alegria jogar futebol com o meu irmão… Será muito provavelmente o meu último jogo, a minha despedida, e é bom que não seja um amigável. A conta pendente era esta, de jogar por algo, sabendo que pode correr mal. Sem desafios não se pode viver”, destacou.

A partida entre o Estudiantes Río Cuarto e o Sportivo San Francisco, que tem agora por razões óbvias todos os holofotes concentrados, realiza-se na próxima terça-feira, dia 23. E será aí que o maestro deixará a sua batuta com a mesma classe com que a teve durante praticamente duas décadas.