Na semana passada, Marta Krostyuk era um nome quase desconhecido no mundo do desporto que tinha como grande referência a vitória no Open da Austrália de Juniores de 2017. E assim poderia continuar, caso não tivesse parado a refletir um pouco mais sobre uma decisão que lhe pode ter mudado a vida: após uma derrota na primeira ronda de um torneio Future, onde chegou a ter uma bola de set não concretizada, ponderou não participar nas qualificações do Open da Austrália por achar que cairia também no encontro inicial. Ponderou, mas não passou disso mesmo. E agora é o grande destaque da competição, ao passar à terceira ronda da prova.

Contas feitas, a ucraniana de 15 anos (fará 16 no final de junho) tornou-se a mais nova de sempre entre as últimas 32 no Grand Slam que abre a temporada desde Martina Hingis, que alcançou o feito em 1996: após afastar na ronda inaugural a chinesa Peng Shuai (de 32 anos, número 25 do ranking) por 6-2 e 6-2, ganhou agora à australiana Olivia Rogowska por 6-3 e 7-5, tornando-se na primeira jogadora com menos de 18 anos a alcançar esta fase de um dos Majors desde Mirjana Lucic-Baroni (US Open, 1997). E muitos mais recordes poderão estar a caminho, agora ou durante o ano. Sim, porque o teste que se segue é de fogo: vai defrontar a compatriota Elina Svitolina, quarta melhor do mundo (e a jogadora que sempre sonhou defrontar).

Não sinto que tenha feito algo incrível porque o jogo foi rápido e joguei ponto a ponto. Não posso dizer que tenha feito algo fora do comum. Sinto que foi mais um jogo, é muito estranho. É outro jogo, outro torneio e outra experiência. Muitas pessoas estão a enviar-me mensagens mas penso um pouco de como será quando não tiver tanta atenção. E estou a preparar-me para que seja diferente. Não posso levar isso a peito porque isso iria afetar-me e prejudicar-me no futuro”, disse após o primeiro triunfo no Open da Austrália.

Mas quem é Marta, a nova menina querida do ténis? Alguém que teve sempre contacto com a modalidade desde que nasceu mas que, com cinco anos, quis jogar… para estar mais tempo com a mãe (porque gostava mesmo era da ginástica acrobática, onde chegou a ficar perto do pódio em campeonatos nacionais antes de parar aos 11).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Filha de Oleg Kostyuk, antigo diretor da Antey Cup, um torneio de juniores em Kiev, e de Talina Heyko, ex-tenista sem grande carreira que acabou por nunca passar do 394.º lugar do ranking mas que chegou a ganhar um torneio ITF em Kiev, Marta começou a praticar quase por acaso. “A minha mãe estava sempre a trabalhar como treinadora e, na primeira vez em que entrei num court para treinar, percebi que assim poderia passar mais tempo com ela. Essa acabou por ser a minha motivação: se jogar ténis, estou mais perto da minha mãe”, explicou.

“Só pensei desistir uma vez, em agosto de 2015. Ganhei o Grau 1 Sub-14 e quando voltei à Ucrânia pensava que era uma superestrela. Depois treinei tão mal durante uma semana que perdi na segunda ronda do Grau 5 ITF, no Grau 1 Sub-16 e quando regressei a Kiev disse à minha mãe que não queria mais. A minha mãe concordou, quis dar tempo e que regressasse à escola como os outros miúdos. Durante uma semana não joguei, não toquei numa raquete”, começou por contar numa entrevista ao site oficial do circuito mundial feminino.

Disse à minha mãe que estava preparada para tentar outra vez. Tinha só quatro raquetes, porque tinha partido as outras todas. O primeiro treino foi ok, no segundo parti uma raquete e a minha mãe disse-me ‘Marta, mais uma reação dessas e acaba’. Parti outra raquete e a minha mãe disse-me ‘Estás feita’. Então fiquei sentada no court uma hora e disse à minha mãe ‘Desculpa, eu quero jogar. Por favor’. Comecei a jogar e, depois disso, fui à final do Masters, ganhei o Orange Bowl, o Eddie Herr e o Les Petits As”, acrescentou.

No início, chegou a ser treinada pelo tio, Taras Beyko; agora, além de continuar a trabalhar com a mãe e ser treinada por Luca Kutanjac, é representada por um dos técnicos de Roger Federer, Ivan Ljubicic. Algo que, como assumiu à Tennis View Magazine, faz toda a diferença: “No início não tinha bem noção disso. Quando assinei contrato há ano e meio, ainda não percebia o que era trabalhar com alguém assim e falar com a família dele. Só agora, há um mês, quando estava a treinar em Piatti [Itália] é que percebi a sorte que tenho em tê-lo do meu lado. Quando me diz alguma coisa, ninguém imagina como me sinto. É como se fosse capaz de ganhar a toda a gente”.

Fazendo lembrar nomes como Maria Sharapova, Justine Henin ou Dinara Safina, como recorda o El País, Marta Kostyuk foi crescendo em Futures e torneios juniores (incluindo o supracitado triunfo na Austrália) e mostra agora uma coragem e uma audácia em campo que se prolonga no discurso de quem não parece ter apenas 15 anos. E que é também extensível aos ganhos monetários: até agora, como explica a ESPN, a 522.ª do ranking tinha arrecadado menos de sete mil dólares em prémios; agora, e podendo ainda aumentar a conta, já vai nos 113 mil dólares…

A idade não significa nada para mim, ser jovem às vezes representa uma oportunidade. Quando as pessoas me dizem que ganho a raparigas dez anos mais velhas, pergunto ‘E então?’. As raparigas de 25 anos ficam nervosas quando lhes começo a ganhar”, salientou.

Mostra carácter. Mas, ao mesmo tempo, também consegue ser divertida, como se percebeu através de um vídeo colocado na conta oficial do Twitter onde perguntava se podia jogar na terceira ronda com uma raquete do seu tamanho (ainda antes de saber que ia defrontar Svitolina). Mas a confissão mais engraçada acabou por chegar após a parte de perguntas e respostas rápidas da entrevista ao WTA, que aqui reproduzimos na íntegra.

App mais usada no telefone?
Whatsapp.

Plataforma social preferida?
Instagram.

Comida preferida?
Italiana.

Onde treinas?
Zagreb.

Quem é o teu treinador?
Luca Kutanjac.

Quem eram os teus ídolos quando crescias?
Ninguém. Queria casar com Novak Djokovic (risos) Acho que ele sabe isso porque apareci num jornal da Sérvia: ‘Tenista ucraniana quer casar com Novak’. Tenho 15 anos de diferença em relação a ele e os meus pais têm 18 anos de diferença, por isso para mim 15 anos é ok. Mas deixei de querer casar com ele quando tinha 13 anos. Nem pensar! Era uma pessoa madura (risos).