Dylan Farrow está sentada diante de Gayle King, apresentadora do programa CBS This Morning, enquanto dá a primeira entrevista televisiva sobre o alegado abuso sexual que sofreu às mãos do pai adotivo, o realizador Woody Allen, quando tinha apenas sete anos.“Ele está a mentir. Ele mente há muito tempo”, diz Dylan, hoje com 32 anos, casada há oito anos e mãe de uma menina de 16 meses.

É preciso recuar a um quente dia de agosto de 1992 para recordar a história já amplamente difundida por Dylan, quando Woody Allen alegadamente pediu à filha para ir para o pequeno sotão que existia na casa de campo da mãe adotiva, Mia Farrow, no Connecticut. “Ele pediu para me deitar sobre o estômago e brincar com o comboio do meu irmão“, começa por dizer, para depois admitir que foi sexualmente abusada. “Enquanto criança de apenas sete anos, diria que ele me tocou nas partes privadas. Enquanto mulher de 32, diria que ele me tocou com o dedo nos lábios vaginais e na vulva.”

O episódio descrito pela primeira vez em televisão terá acontecido quando a mãe estava fora, a fazer compras. Quando regressou, Dylan explicou-lhe o sucedido, mas numa primeira visita ao pediatra sentiu vergonha do que acontecera e, quando questionada sobre onde havia sido tocada, apontou para os ombros. Mais tarde, confrontada pela mãe, que conhecia a história inicial, Dylan voltou a estar frente a frente com o pediatra e, desta vez, contou a versão original.

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Eu amava o meu pai, respeitava-o. Ele era o meu herói”, diz Dylan à apresentadora, afirmando que isso só “torna a traição e a dor mais intensas”.

Confrontada com a versão de Woody Allen, que sempre negou todas as acusações e apontou a ex-namorada Mia Farrow como autora dos “boatos”, Dylan responde: “Não percebo como é que esta história de ter sido manipulada é mais credível do que ser sexualmente abusada pelo meu pai”. Dylan insiste que a mãe apenas a encorajou a contar a verdade.

Woody Allen defende até hoje que Mia Farrow manipulou a filha e convenceu-a a mentir finda a sua relação com o realizador, depois de alegadamente ter descoberto fotografias de Soon-Yi nua. Soon-Yi, com quem o realizador namora há mais de 20 anos, tinha à data 21 anos e é a filha adotiva de Mia.

Durante a conversa, emitida esta quinta-feira, Dylan é ainda confrontada com uma entrevista que o pai deu em novembro de 1992, onde nega as acusações e diz que, à data do alegado episódio, estava “numa casa cheia de inimigos” e quão estranho seria escolher aquele momento da vida para de tornar um predador sexual de crianças”. Perante isto, Dylan chora. “Achei que aguentava. É difícil vê-lo e ouvir a sua voz.”

“Ela foi metodicamente treinada para contar esta história pela Mia. Várias semanas antes de isto ter acontecido, a Mia ligou-me e, no decorrer de uma conversa telefónica muito intensa, disse-me ‘tenho um plano muito desagradável para ti'”, diz Woody Allen na entrevista de 1992.

Numa referência à mesa redonda orientada pela apresentadora de televisão Oprah Winfrey, onde diferentes atrizes, incluindo Natalie Portman e Reese Withersoon manifestaram o seu apoio à filha adotiva de Mia Farrow, Dylan diz esperar que “com o movimento Time’s Up seja possível acabar com a cultura de silêncio que foi perpetuada em Hollywood”. “Tenho repetido as acusações contra o meu pai durante mais de 20 anos…”

Ao canal norte-americano CBS, o realizador norte-americano diz que a acusação feita há cerca de 25 anos, foi investigada pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital de Yale-New Haven e pelo New York State Child Welfare. “Ambas [as entidades] investigaram a acusação durante vários meses e concluíram que não aconteceu qualquer abuso. Em vez disso, descobriram uma criança vulnerável que, muito provavelmente, foi treinada pela mãe a contar a história durante uma disputa contenciosa”, diz o comunicado do realizador.

Woody Allen vai mais longe, ao dizer que o irmão mais velho de Dylan, Moses, disse que viu a mãe a manipular a filha e que, infelizmente, “Dylan acredita no que está a dizer”. O realizador diz ainda que a família Farrow está a “cinicamente aproveitar-se do movimento Time’s Up'” para continuar com a acusação que não ficou mais verdadeira com o passar dos anos. “Eu nunca molestei a minha filha, tal como as investigações concluíram há vários anos”.

A entrevista completa, dada ao canal CBS, pode ser lida aqui.