Carles Puigdemont ainda está em Bruxelas mas já fez saber que não vai facilitar o regresso da Catalunha à normalidade institucional. Depois de os partidos independentistas catalães Juntos Pela Catalunha e Esquerda Republicana (ERC) terem decidido que iam insistir no nome do ex-presidente do Governo regional para candidato a líder do Governo, ao mesmo tempo que avançavam com o nome de Roger Torrent para presidente do Parlamento, Puigdemont anunciou esta quinta-feira que vai pedir a delegação do seu voto na investidura do Governo. Ou seja, vai pedir a alguém que vote por ele — mecanismo permitido para alguns, mas que vai levar Madrid a recorrer imediatamente ao Tribunal Constitucional.

De acordo com o El Periódico, o discurso que o recém-eleito presidente do Parlamento, Roger Torrent, fez esta quarta-feira, onde o independentista pareceu baixar a guarda, falando no regresso a uma certa normalidade, motivou Carles Puigdemont a fazer aquilo que muitos já pensavam que iria fazer: pedir a delegação do voto, para poder votar na sua própria eleição, que deverá acontecer no final desde mês. Cada voto é precioso, já que, numa primeira volta, é preciso maioria absoluta de 68 deputados para aprovar a investidura — e os dois partidos independentistas Juntos pela Catalunha e ERC perfazem 66 votos (contando com o voto de Puigdemont). Ou seja, mesmo assim, os votos não são suficientes, sendo preciso acrescer os votos da Candidatura de Unidade Popular (CUP).

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O pedido de Puigdemont coloca pressão sobre o novo presidente da Mesa do Parlamento, Roger Torrent, que tem agora o poder de decidir se permite ou não a delegação do voto. O mais provável é que o permita, mas isso levará Madrid, e os partidos não-independentistas, a recorrerem imediatamente ao Tribunal Constitucional para tentarem impedir o voto delegado.

Certo é que aos deputados que estão presos, Oriol Junqueras, Joaquim ForneJordi Sànchez, é-lhes permitido votar por interposta pessoa. Fizeram-no inclusive na sessão desta quarta-feira para a constituição do Parlamento catalão. Nessa altura, nem Puigdemont nem os restantes ex-membros do executivo catalão pediram para recorrer a esse sistema de votação porque a maioria independentista no Parlamento estava assegurada.

Puigdemont não vai pedir para delegar o seu voto na sessão para constituir parlamento catalão

O cenário muda de figura na tomada de posse do Governo. Tanto Puigdemont como os ex-governantes sediados em Bruxelas, Lluís Puig e Clara Ponsatí, pediram esta quinta-feira formalmente para recorrer ao sistema de voto por interposta pessoa. E sobre o voto destes políticos “exilados” o entendimento é diferente. Segundo o El Periódico, tanto os juristas do Parlamento como o gabinete do juiz do Supremo entendem que o ex-presidente não pode participar nesta votação, estando em Bruxelas.

Roger Torrent deverá reunir-se brevemente com Puigdemont em Bruxelas, como parte da ronda formal de encontros que o novo presidente do Parlamento tem prevista com representantes de todos os partidos.