O Papa Francisco está a ser alvo de críticas, até no topo da Igreja Católica, pela forma como lidou nos últimos dias com os casos de abuso sexual por membros do clero. O cardeal de Boston Sean O’Malley, um dos principais conselheiros do Papa e a figura mais influente do Vaticano nos EUA, demarcou-se no sábado dos comentários do líder da Igreja Católica sobre abusos sexuais na Igreja, acusando mesmo o Papa Francisco de causar “grande dor” nas vítimas de abusos cometidos por membros da Igreja.

Sean O’Malley, citado pela Reuters, foi contundente ao considerar “compreensível” que os comentários do Papa no Chile — a desculpabilizar um membro da Igreja que terá protegido um dos agressores — sejam “uma fonte de grande dor para os que foram vítimas de abuso sexual por parte de membros da Igreja ou de qualquer outro abusador“.

Na quinta-feira, em resposta a um jornalista que o questionou sobre as acusações contra Juan Barros — um bispo chileno nomeado pelo Papa em 2015 — de que terá protegido um pedófilo, Francisco foi evasivo: “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?” Estes comentários do Papa, que tentam descredibilizar (ou, pelo menos, desvalorizar) os testemunhos dos que foram alvo de abusos, foram também criticados pelas vítimas e levaram a vários editoriais de jornais críticos do Papa, quer no Chile, quer no país de Jorge Bergoglio, a Argentina.

Juan Barros, que Francisco defendeu, é acusado de ter protegido o seu mentor, Fernando Karadima, que foi considerado culpado — numa investigação do próprio Vaticano em 2011 — de abusar de adolescentes durante vários anos. Karadima negou os atos e Barros negou ter conhecimento de qualquer irregularidade.

As declarações de O’Malley ganham ainda mais relevância, já que este bispo dirigiu a comissão papal que foi criada para erradicar o abuso sexual na Igreja. O mandato do norte-americano nessa reunião terminou em dezembro e ainda não se sabe se continuará à frente da comissão, nem se esse órgão continuará os seus trabalhos. Recorde-se que Francisco tem defendido “tolerância zero” para quem comete abusos sexuais.

Até a mais conservadora imprensa chilena criticou as palavras do Papa sobre este assunto. Na argentina, o biógrafo do Papa, Sergio Rubin, escreveu na sua coluna do Clarin, o jornal com a maior circulação no país, que a visita ao Chile foi a mais desastrosa de Francisco desde que é líder da Igreja. O Papa Francisco esteve no Chile entre 15 e 18 de janeiro.

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