O diretor do departamento dos ‘ratings’ soberanos da agência de notação financeira Fitch, Tony Stringer, alertou hoje que Moçambique tem de resolver o caso da dívida escondida para voltar a ser um destino atraente para os investidores.

Em entrevista à Lusa durante a passagem por Lisboa para a realização de uma conferência, o analista disse que “se Moçambique conseguir resolver a questão das finanças públicas e melhorar a confiança na sua capacidade para garantir isto, deve ser um destino relativamente atraente para o investimento externo”.

O país, criticou, “é uma história lamentável”, e está na classificação de RD – Incumprimento Financeiro Seletivo (Restricted Default, na terminologia original) “desde 2016, quando foram descobertas as garantias estatais não identificadas a empresas públicas”.

Isto, salienta o analista, “revela fraquezas significativas na gestão das finanças públicas”.

Apesar das críticas à gestão do processo que atirou Moçambique para o ‘default’ por parte das três maiores agências de notação financeira, e que motivou o corte de financiamento por parte do Fundo Monetário Internacional e dos doadores internacionais, o diretor do departamento de ‘ratings’ soberanos da Fitch diz, ainda assim, que há aspetos positivos na economia moçambicana.

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“Há sinais bons em termos macroeconómicos: o crescimento está a recuperar, o potencial é grande devido aos recursos naturais e o país está a fazer progressos nos megaprojetos”, disse Tony Stringer, exemplificando que “a petrolífera italiana ENI assinou contratos que podem dar 7 ou 8 mil milhões de dólares em receitas nos próximos anos, e a Anadarko conseguiu alguns acordos com empresas chinesas” para a venda do gás explorado em Moçambique.

“A moeda está a recuperar”, acrescentou o analista, referindo-se à valorização do metical desde o segundo semestre do ano passado, depois de ter tido uma das maiores desvalorizações a nível mundial durante a segunda metade de 2016 e os primeiros meses de 2017.

Esta desvalorização do metical levou a um aumento proporcional do rácio da dívida pública face ao PIB, notou o analista: “Outra preocupação é que há muito barulho relativamente ao rácio da dívida sobre o PIB, porque uma proporção muito grande da dívida é em moeda estrangeira, e dependendo da evolução do metical, isso torna o rácio mais volátil”, disse Stringer.

Para este analista, “o maior desafio do país é, de uma forma institucional, lidar com as fraquezas da gestão das finanças públicas, focar-se em garantir que os atrasos nos pagamentos aos fornecedores não aumentam, porque isso prejudica e aumenta os problemas da dívida soberana e, por último, ter um sistema que responsabilize, no qual seja claro para os observadores externos de onde vem o dinheiro do Governo, qual o perfil da dívida e como fazem os pagamentos”.