É um dos novos temas que faz parte de Nação Valente, o álbum que Sérgio Godinho edita na próxima sexta feira, dia 26. E “Grão da Mesma Mó”, com música de David Fonseca, é o primeiro que o Observador revela em primeira mão, num total de cinco canções que vamos mostrar primeiro, até ao dia do lançamento do disco:

Em entrevista ao Observador, Sérgio Godinho explicou neste álbum levou “mais longe algo que já tinha feito noutro álbum, no Coincidências [1983], que foi as parcerias, geralmente com música de outros e letras minhas”.

Sérgio Godinho: “Esta nação nem sempre é valente mas temos de puxar por isso”

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Sobre este tema em particular: “O princípio da canção ‘Grão da Mesma Mó’ tem uma fluência própria que é quase como se disparasse um tiro de partida. […] Gosto muito dessa canção, é muito forte. Foi muito surpreendente o trabalho a partir da música do David Fonseca. Já me tinha cruzado com ele de outras maneiras. Fiz uma canção com eles nos Silence4 e até cantei no primeiro disco. E ele canta comigo também n’O Irmão do Meio, justamente ‘A Balada da Rita’, mas nunca me tinha cruzado com ele a este nível.”

[a letra de “Grão da Mesma Mó:]

“Não sei se estão a ver aqueles dias em que não acontece nada, a não ser o que o que aconteceu e não aconteceu
E do nada há uma luz que se acende. Não se sabe se vem de fora ou se de dentro, apareceu

E dentro da porção da tua vida, é a ti
que cabe o não trocar nenhum futuro pelo presente
O fazer face à face que se teve até ali
Ausente presente

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

Precisas de água, a
Terra também
Ventos cruzados
E o sol e a chuva que os detém

Vivida a planta
Refeita a casa
É espaço em branco
Tempo de o escrever
E abrir asa

E a linha funda, na
palma da mão
Desenha o tempo então

Mas há linhas de água que cruzas sem sequer notares, e oh, estás no deserto e talvez no oásis, se o olhares
E não há mal e não há bem que não te venha incomodar
Vale esse valor? É para vender ou comprar?

Mas hoje, questões éticas? Agora? Por favor…
Que te iam prescrever a tal receita para a dor
Vais ter que reciclar o muito frio e o muito quente
Ausente presente

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

E a linha funda, na
palma da mão
Desenha o tempo então

‘Um curto espaço de tempo’
Vais preenchê-lo com o frio da morte morrida
Ou o calor da vida vivida?
Não queiras ser nem um exemplo, nem um mau exemplo, por si só
Há dias em que é grão da mesma mó

E a senha já tirada, já tardia do doente
Dez lugares atrás, e pouco a pouco, à frente
E cada um falar-te das histórias da sua vida
Feliz, dorida

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

Precisas de água, a
Terra também
Ventos cruzados
E o sol e a chuva que os detém

Vivida a planta
Refeita a casa
É espaço em branco
Tempo de o escrever
E abrir asa

E a linha funda, na
palma da mão

Desenha o tempo então

E explicaram-te em botânica, uma espécie que não muda
a flor do fatalismo, está feito
E se até dá jeito alterar só por hoje o amanhã
Melhor é transfigurar
o amanhã com todo o hoje

E as palavras tornam-se esparsas
Assumes
Fazes que disfarças
Escolhes paixões, ciúmes
Tragédias e farsas
E faças o que faças
Por vales e cumes
Encontras-te a sós, só
Grão a grão acompanhado e só
Grão da mesma mó
Grão da mesma mó”