A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian vai fazer uma exposição com obras dos escultores Rui Chafes e Alberto Giacometti, de 3 de outubro a 16 de dezembro deste ano.

A exposição partiu do “desafio” de Helena de Freitas, curadora na Fundação Calouste Gulbenkian, e pretende “proporcionar um encontro” entre o artista suíço, que morreu em 1966, e o artista português, que nasceu em 1966.

“Achei que havia muitos pontos de encontro, sobretudo imateriais, entre a obra de Giacometti e de Rui Chafes. É uma ideia não de um diálogo mas, sobretudo, proporcionar um encontro”, disse à agência Lusa Helena de Freitas, que está a comissariar o projeto.

A exposição vai contar com 11 esculturas e quatro desenhos de Alberto Giacometti, e todas as esculturas de Rui Chafes estão a ser concebidas especificamente para este projeto e para o espaço da fundação em Paris.

“É um dos projetos mais excitantes que tenho feito em toda a minha vida profissional, porque entra no território do desafio e do novo, da construção. É qualquer coisa que estou a ver acontecer, que parte de uma verdade extraordinária que é, de facto, o encontro entre os dois artistas e que tem um território muito fértil para se desenvolver”, afirmou a curadora que, em 2016, comissariou a retrospetiva de Amadeo de Souza Cardoso, no Grand Palais, em Paris.

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O projeto desenvolveu-se a partir de uma pesquisa sobre o léxico comum aos artistas, como a intemporalidade, a desmaterialização e o vazio que são conceitos “que eles desenvolvem de uma forma material muito diferente em tempos diferentes”, o que pode transformar o projeto em algo “luminoso”.

“Digamos que há um território de cumplicidade e esse território é até mais imaterial do que material, ou seja, o Rui Chafes não foi escolhido por fazer obras parecidas com as do Giacometti porque, de facto, até é possível pensar, em termos de realização material, em situações de contraste”, continuou Helena de Freitas.

No seu livro “O Silêncio de?” (1998), Rui Chafes escreveu que, “juntamente com Joseph Beuys, A. Giacometti é talvez o grande escultor do pós-guerra” que tomou “o caminho da negação, da redução, da austeridade e ascetismo” e que criou “um espaço calcinado”, abrindo caminho para a “moderna escultura: a escultura da consciência”.

A exposição vai ser realizada com o apoio da Fundação Alberto e Annette Giacometti, em Paris, que “reagiu com muito entusiasmo desde o início”, e existe a possibilidade de a levar à Fundação Gulbenkian em Lisboa, de acordo com Miguel Magalhães, o diretor da delegação parisiense da Gulbenkian.

“Acho que hoje em dia estamos bem posicionados para colocarmos os artistas portugueses em diálogo com a cena artística internacional — essa é uma das nossas missões. Estamos a falar de um artista que é um monstro sagrado da história da arte do século XX e estamos a falar de um artista português, que foi Prémio Pessoa, que é um dos mais respeitados do momento. Os dois artistas partilham vocabulários que poderão resultar numa exposição especial”, explicou Miguel Magalhães.

Em 2017, no âmbito do projeto Lusoscopia, proposto pelo Instituto Camões em França, Rui Chafes esteve em exposição na Galerie Mendes, em Paris, com esculturas recentes a dialogarem com quadros dos séculos XVI e XVII, tendo sido nessa altura que foi mostrado, pela primeira vez, em França, o filme “Durante o fim”, de João Trabulo, sobre o trabalho de Rui Chafes.

O artista, que tem muitas obras colocadas em espaços públicos internacionais de forma permanente, instalou, em 2008, uma escultura em Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, em homenagem à emigração portuguesa.

Nascido em Lisboa, Rui Chafes fez o curso de Escultura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, entre 1984 e 1989, e estudou na Kunstakademie Düsseldorf, de 1990 a 1992, com Gerhard Merz, tendo sido galardoado com o Prémio Pessoa, em 2015, e com o Prémio de Escultura Robert-Jacobsen, na Alemanha, em 2004.

Em 1995, Rui Chafes representou Portugal, juntamente com José Pedro Croft e Pedro Cabrita Reis, na 46.ª Bienal de Arte de Veneza, e, em 2004, participou na 26.ª Bienal de S. Paulo, com um projeto conjunto com Vera Mantero, tendo, ainda, em 2013, sido um dos artistas internacionais convidados para expor no Pavilhão da República de Cuba, na 55.ª Bienal de Veneza.

O seu trabalho tem sido exposto em Portugal e no estrangeiro, desde meados dos anos de 1980 e, em 2014, apresentou a exposição antológica “O peso do paraíso”, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.