O novo hub tecnológico da Google, anunciado esta quarta-feira, vai ser instalado em Oeiras e funcionar com 500 trabalhadores. Ainda se conhecem poucos detalhes, mas fonte da empresa disse ao Observador que se trata de um centro “totalmente dedicado a fornecedores terceiros”. Mesmo não se tratando, em princípio, da própria Google, mas de empresas que trabalham para ela, convém saber o que a gigante tecnológica procura nos seus trabalhadores, caso esteja a pensar candidatar-se a algum dos empregos que podem vir a ser criados neste centro de operações. Nós damos-lhe algumas dicas partilhadas pela própria Google no seu site e também pelo antigo responsável pelo recrutamento.

[Veja no vídeo 12 perguntas bizarras feitas em entrevistas de emprego pela Google]

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O primeiro conselho da Google é prever o futuro. Não, isso não implica uma consulta de tarot ou uma bola de cristal. É bem mais simples do que isso. De acordo com a gigante tecnológica, é possível antecipar 90% das perguntas que lhe vão ser feitas numa entrevista. Pense um pouco no assunto e vai ver que se vai lembrar de algumas questões. Caso não lhe ocorra nenhuma pergunta, nada melhor do que (lá está) recorrer ao Google e escrever estas palavras mágicas: “most common interview questions” (perguntas mais frequentes numa entrevista de emprego). “O que nos pode dizer sobre si”, “Quais são os seus pontos fortes”, “Quais são os seus pontos fracos”, “Porque quer este emprego?”, “Dê um exemplo de um problema complicado que tenha resolvido” são apenas alguns dos exemplos. O ideal é escrever as 20 perguntas que acha que lhe vão fazer durante a entrevista.

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Mas como nem tudo é previsível numa entrevista de emprego, o melhor é preparar-se para perguntas totalmente fora da caixa. As empresas de tecnologia são conhecidas por fazerem perguntas estranhas aos candidatos e a Inc. selecionou algumas feitas pela Google:

“Se pudesse escolher uma música que tocasse de todas as vezes que entra numa sala, para o resto da sua vida, qual seria?”; “Escolha uma cidade e dê uma estimativa de quantos afinadores de piano lá trabalham”; “Se pudesse ser lembrado por uma frase, qual seria?”.

As perguntas que deixaram de ser feitas e as três respostas diferentes

Para perceber até que ponto podem ser estranhas as perguntas feitas numa entrevista da Google, o Business Insider fez uma lista de algumas questões que os entrevistadores deixaram de fazer por serem demasiado complicadas. Destas, está livre:

“Quanto é que deveria cobrar por lavar todas as janelas em Seattle?”; “Quantos aspiradores são feitos por ano nos Estados Unidos?”; “Desenhe um plano de evacuação para a cidade de São Francisco”; “Quantas bolas de golfe cabem num autocarro escolar?”; “Explique o que é uma base de dados em três frase ao seu sobrinho de oito anos.”

Voltando aos conselhos da Google: depois de escrever as perguntas que acha que lhe vão fazer, o próximo passo é planear, ou seja, escrever respostas para essas 20 questões. O facto de estar a escrever faz com que retenha melhor as respostas e que, portanto, saiam automaticamente e de forma natural durante a entrevista. Mas a coisa não é assim tão simples: segundo a Google, para cada pergunta deve preparar três respostas diferentes. Segundo a Google, é importante ter várias respostas, todas igualmente boas, para as 20 perguntas. Pode dar-se o caso de a primeira pessoa que o entrevistar não gostar da sua resposta, por isso é essencial ter uma alternativa para fazer com que o segundo entrevistador defenda a sua contratação.

Todas as respostas devem ter exemplos concretos da sua vida profissional. Se lhe perguntarem “Qual é o seu tipo de liderança?”, a sua resposta deve passar por “O meu tipo de liderança é… Deixem-me dar-vos um exemplo: …”.

A sede da Google, na Califórnia

Outra questão importante é explicar o seu raciocínio. Para a empresa de tecnologia, é importante perceber a maneira de pensar das pessoas, portanto torne claros os diferentes passos do seu processo de raciocínio e o que o levou a tomar determinada decisão — se tiver dúvidas ou se não perceber alguma coisa que lhe foi perguntada, questione o entrevistador. E, mesmo que dê uma determinada resposta, pode sempre tentar melhorá-la. Daí ser tão importante explicar ao entrevistador todos os passos do seu raciocínio, porque uma solução que inicialmente lhe pode parecer a mais indicada não quer dizer que não possa ser melhorada ao longo do raciocínio. Não se esqueça de ir confirmando com o entrevistador se aquilo que está a dizer faz sentido.

Um curso superior não interessa

Isto tudo porque a Google vai estar a avaliar não só as suas capacidades técnicas, mas também a compreender como os candidatos abordam e tentam resolver diferentes problemas. Laszlo Bock, que já foi o responsável pela contratação de funcionários da Google, destaca os cinco atributos que a empresa procura num candidato: “Para todos os trabalhos, a primeira coisa que procuramos é capacidade cognitiva e isso não é o Q.I. É a capacidade de aprendizagem. É a capacidade de processar no momento”, lê-se num artigo do The New York Times.

Depois da capacidade cognitiva, segue-se a liderança, isto é, saber se, “quando confrontado com um problema”, a pessoa se chega à frente e assume a liderança. “E igualmente importante: afasta-se e pára de liderar, deixa outra pessoa assumir o comando? Porque o que é fundamental para ser um líder eficaz neste ambiente é se a pessoa tem capacidade para abrir mão do poder.” Depois vem a humildade e a responsabilidade, ou seja, “o sentido de responsabilidade” de se chegar à frente, mas também a humildade não só de se afastar e aceitar as ideias dos outros para resolver um determinado problema, mas também humildade para aprender.

O atributo menos importante? “Conhecimento técnico“. Para Bock, refere o The New York Times, uma pessoa sem conhecimento especializado numa área é capaz de dar a mesma resposta de alguém que já tem vários anos de experiência, mas, ao contrário desse especialista, pode dar uma resposta ou arranjar uma solução totalmente diferente e inovadora.

Foi este homem que chegou a dizer que ter um curso superior “não tem qualquer valor enquanto critério de contratação”. Claro que com isso Bock não quis dizer que é indiferente ter boas ou más notas, especialmente porque há áreas como matemáticas, computação e código em que as notas refletem as capacidades de uma pessoa. Mas, se uma pessoa decidir ir para a universidade, deve tentar perceber quais as ferramentas que poderão fazer a diferença no mercado de trabalho.

Por fim, o último conselho da Google pode resumir-se numa palavra-chave: prática. Quanto mais vezes praticar ou ensaiar uma entrevista em voz alta, melhor se sairá. As respostas irão fluir de forma cada vez mais natural e automática.

As entrevistas na Google podem ser feitas ou por telefone/hangout ou pessoalmente e costumam ter uma duração de 30 a 45 minutos — caso se candidate a um emprego de engenharia de software, poderá ir até aos 60 minutos. A gigante tecnológica vai querer saber qual a sua capacidade para abordar e resolver problemas; como utilizou as suas capacidades de comunicação e de tomada de decisão para mobilizar as pessoas com quem trabalha; como trabalha individualmente e em equipa; e o que faz para crescer fora da sua zona de conforto.

Para mais pormenores, pode consultar o site da Google.