O ex-secretário-geral do PP de Valência, Ricardo Costa, revelou esta quarta-feira em tribunal que “é verdade que o PP se financiava com dinheiro negro” que resultava de contributos de empresas, supostamente em troca de adjudicações de contratos nas regiões governadas pelo partido. Também disse que o esquema paralelo que estava montado era orientado por Francisco Camps que foi presidente do governo regional de Valência entre 2003 e 2011.

A audiência insere-se no âmbito da investigação ao caso caixa B (equivalente a saco azul) do Partido Popular espanhol e foi onde Ricardo Costa disse que decidiu contar agora tudo o que sabe, depois de anos em silêncio e “de uma profunda reflexão” e garante estar “consciente” das acusações que faz e das “repercussões que terão” para si e para a sua família: “Quero declarar o meu arrependimento e pedir perdão, especialmente à sociedade espanhola e valenciana e à minha família”.

Na Audiência Nacional — tribunal que trata os casos de maior gravidade, incluindo delitos económicos –, Ricardo Costa explicou como funcionava o esquema de financiamento ilegal do PP: “Em 2006, o vice-presidente [do governo regional de Valência] chamava-me e entregava-me uns envelopes onde dizia estar dinheiro e que era dinheiro com que os empresários que tinha uma relação com a administração regional queriam ajudar e contribuir para o partido”. E revelou mesmo que esse dinheiro ilegal recebido pelo partido serviu para financiar alguns momentos de uma campanha eleitoral, incluindo em duas participações de Mariano Rajoy (2007 e 2008) na praça de touros de Valência. “Camps pediu fogo de artifício, uma tela e banda de música e esse dinheiro, cerca de 30 mil euros — e um pouco mais em 2008 — também foram pagos por dinheiro de origem opaca, doado por empresários ou faturado por empresários”.

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As iniciativas do partido “eram pagas de duas formas: em primeiro lugar com a subvenção eleitoral do Estado; e em segundo lugar, com contributos em dinheiro de empresário que tinham adjudicações com o governo valenciano. É verdade que o PP financiou com dinheiro negro a campanha de 2007”, garantiu.

O caixa B que está a ser investigado em Espanha era uma forma paralela de financiamento partidário, que fugia ao controlo das autoridades. No ano passado, Mariano Rajoy foi ouvido em tribunal sobe este caso que envolve o partido que lidera e negou por várias vezes a existência deste financiamento ilegal. O primeiro-ministro espanhol, garantiu que não tinha o domínio sobre a parte financeira do partido: “Nunca me ocupei da contabilidade ou dos assuntos económicos do partido”. Este esquema de financiamento terá existido no partido entre 1990 e 2004, período em que Rajoy foi o responsável pelo partido por várias campanhas eleitorais. Na altura, o líder da oposição (PSOE), Pedro Sanchez, pediu mesmo a demissão de Rajoy.

Esta terça-feira, foi ouvido no Senado espanhol, na comissão sobre financiamento ilegal, o ex-diretor do El Mundo, Pedro J. Ramírez, agora diretor do El Esopañol, entregou aos deputados cópias dos registos que tem das conversa mantida com Luis Barcenas (o ex-tesoureiro do PP que está no centro de toda a acusação sobre o financiamento ilegal do partido).