Começou a jogar quando tinha 16 anos, tudo para poder dar o salto quando atingisse a maioridade. Assim que completou os 18, Adrián Mateos Díaz pegou nos 130 mil euros (menos impostos) que tinha ganho em dois torneios na capital espanhola e mudou-se para Londres. Para trás ficaram os pais, com quem morava e que presenteou com um BMW, e o curso de Economia, que tinha começado na universidade Carlos III, em Getafe, Madrid.

Hoje, cinco anos depois, o jovem, de 23, acaba de chegar ao primeiro lugar do ranking Global Poker Index. Tem uma fortuna acumulada em cerca de 11 milhões de euros e anda de Ferrari — “Não o tenho por gosto, mas porque tenho uma empresa de aluguer de carros de luxo”, explicou à revista do El Mundo. “Acho que até tenho bastante cabeça para a minha idade: nem faço loucuras nem gasto muito dinheiro, tento viver o momento mas sem fazer idiotices.”

Para além do carro que ofereceu aos pais e o bólide que conduz ele próprio, a maior extravagância que já cometeu terá sido levar os amigos de férias para Ibiza, revela o jovem, que se apresenta no Twitter como alguém que “viaja pelo mundo a jogar às cartas”. Restante palmarés: “Número 1 mundial em torneios ao vivo. Jogador mais novo a ganhar três pulseiras do WSOP, EPT Grand Final Champ 2015”.

Apesar de dividir casa em Londres, no bairro de Shepherd’s Bush, com outro jogador de póquer espanhol, passa a vida a viajar e a saltar de torneio em torneio. “Normalmente, passo dez dias nas Baamas, dez em Miami, dez em Las Vegas”, descreveu à Papel.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando está em casa, e porque garante que o jogo, mais do que sorte ou azar, é inteligência e estudo, passa dez horas por dia a preparar-se para torneios futuros, geralmente entre as 17h e as 3h ou 4h da madrugada, com pausas de cinco minutos para ir à casa de banho ou para comer qualquer coisa rápida.

Qualquer um pode ganhar este jogo no curto prazo, por isso é que toda a gente tem a ilusão de ganhar, e isso é bom. Mas a longo prazo os que triunfam são os melhores, os que mais estudam e os que passam mais horas a fazê-lo. Os que mais compreendem o jogo em si”, garante o jogador espanhol, que recentemente se associou à operadora de jogo francesa Winamax.

“É um jogo muito complexo. Quando entras neste mundo tens de começar com probabilidades e matemática. Uma vez que compreendas essa parte, tens de estudar os adversários que vais enfrentar para saber quais são as suas linhas de jogo e os seus perfis. Tens de pôr-te na cabeça do teu rival e saber como ele pensa. E tens, sobretudo, de adivinhar o que é que ele pensa de ti, para adaptares o teu jogo.”

Apesar do reconhecimento mundial e da conta bancária, Adrián, que deu a entrevista à Papel na companhia do pai, diz que só tem pena de uma coisa: não poder voltar a viver em Madrid e jogar póquer a partir de Espanha. Tudo porque os impostos cobrados aos proventos dos jogadores são demasiado elevados e as respetivas perdas não podem ser deduzidas. “As pessoas que jogam ao mais alto nível tiveram de ir para outros países. Espanha perdeu talento, dinheiro e gente que está a ganhar grandes quantidades de dinheiro e podia estar a gastá-las aqui.”

Em compensação, explica, no Reino Unido nem sequer tem de pagar impostos: “Consideram que a sala em que jogas já paga impostos e que tu também o fazes quando pagas a tua entrada num torneio, pelo que se tivesses de pagar mais alguma coisa, seria uma dupla tributação”.