Apenas através de advogados ou inspetores. A partir desta quarta-feira, só assim o casal Turpin poderá estabelecer contacto com os 13 filhos que mantinha em cativeiro na casa em Perris, cidade no condado de Riverside, na Califórnia, já conhecida como “casa dos horrores”. A pedido do procurador responsável pelo caso, Mike Hestrin, o juiz responsável assinou uma providência cautelar para proibir os Turpin de contactar com as crianças. No momento em que os pais foram informados da decisão, Louise, a mãe, olhou para David, o pai, e sorriu.

Devem permanecer a, pelo menos, 100 yards (cerca de 91 metros) de distância, de todos eles, em qualquer momento, exceto quando presentes a tribunal. Ok? Muito bem. Está a acenar com a cabeça”, disse o procurador.

O advogado de David, David Macher, mostrou-se até satisfeito: “[A providência cautelar] protege toda a gente, incluindo o meu cliente. Não quero o meu cliente exposto a acusações de ter tentado perseguir ou ameaçar a testemunha“. Já o advogado de Louise não comentou a ordem do juiz.

[Veja no vídeo o estranho sorriso da mãe quando soube que seria impedida de contactar os 13 filhos]

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Acorrentados em diferentes divisões, sem televisão ou rádio, mas com centenas de cadernos onde escrever

“Vítimas destes tipos de casos contam a história delas, mas contam-na devagar. Contam-na ao ritmo delas”, explicou o procurador responsável pelo caso à Associated Press esta quarta-feira. É o que está a acontecer aos 13 filhos que eram acorrentados e mantidos subnutridos pelos pais, Louise e David Turpin, no número 160 da Rua Muir Woods, em Perris. Quase duas semanas após o caso ter sido descoberto — depois de a filha de 17 anos ter conseguido fugir, saltando pela janela e denunciado os pais às autoridades –, as crianças começaram a fornecer a pouco e pouco informações valiosas para a investigação.

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Quando a polícia chegou à casa, este foi o cenário: “Várias crianças acorrentadas às suas camas com correntes e cadeados, na escuridão e num ambiente com cheiros nauseabundos“. Sabe-se agora que as crianças nem sempre estavam no mesmo sítio. Muitas vezes estavam isoladas e divididas em grupos em diferentes divisões. Não tinham acesso a televisão nem a rádio, “não tinham qualquer tipo de noção sobre como o mundo funciona”. Mas tinham direito a ter cadernos onde escreviam e desabafavam. São centenas de cadernos que foram apreendidos pelas autoridades e que, certamente, trarão novas revelações para o caso.

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Quer os avós das crianças, James e Betty, quer os tios explicaram que, segundo o que era do seu conhecimento, os filhos do casal recebiam educação em casa. Aliás, a casa onde a família vivia aparecia listada no diretório do Departamento de Educação como a Sandcastle Day School, uma escola privada, e David estava referenciado como sendo o diretor. Agora, sabe-se que um dos rapazes mais velho chegou a ir a várias aulas no Mt. San Jacinto College, no condado de Riverside — a escola confirmou à Associated Press que um dos filhos dos Turpin foi lá aluno, sem adiantar mais informação. Era a mãe, Louise, que o levava às aulas, mas ficava no exterior à espera que acabassem, contou o procurador.

Os filhos permanecem internadas em dois hospitais diferentes: os seis menores foram levados para um centro médico do Riverside University Hospital System, em Moreno Valley, e os sete filhos adultos para o centro médico regional de Corona, ambos na Califórnia. Deverão permanecer separados. Mesmo tendo pedido aos assistentes sociais para ficarem juntos, os sete filhos adultos vão, ainda esta semana, para um centro de assistência estatal e os seis menores de idade serão divididos em duas casas de acolhimento.

Casa dos horrores: os 13 filhos não vão viver juntos e deverão ser impedidos de falar com os pais

Os pais continuam em prisão preventiva e enfrentam uma pena que pode ir “até 94 anos de prisão”, se forem condenados. O valor da fiança é de 13 milhões de dólares (cerca de 10,3 milhões de euros) para cada um dos pais. Estão acusados de 38 crimes no total. Louise e David foram acusados de 12 crimes de tortura, sete de abuso contra um adulto dependente, seis de abuso de menores e 12 anos de falso sequestro. David está ainda acusado do crime de um “ato obsceno a uma das crianças”.

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