Esta quinta-feira ficou a saber-se que Nuno Artur Silva e Cristina Vaz Tomé vão abandonar a atual administração da RTP, sendo apenas Gonçalo Reis reconduzido a convite do Conselho Geral Independente (CGI), entidade responsável pela supervisão da estação pública. No entanto, e pouco tempo antes de ser conhecida a decisão do CGI, a Comissão de Trabalhadores (CT) da RTP emitiu um comunicado, no dia 12 de janeiro, onde tece diversas críticas à administração da RTP, nomeadamente a Nuno Artur Silva, acusando-o de “conflito de interesses” por, nos últimos três anos, “manter-se como administrador e proprietário de uma produtora [Produções Fictícias] e de um canal concorrente [Canal Q] da própria RTP”.

Nuno Artur Silva sai da administração da RTP

Mas não é apenas Artur Silva o visado no comunicado da CT. Também Daniel Deusdado, diretor de programação da RTP 1, o é. Deusdado “passou a sua produtora [Farol de Ideias] de vídeo para a posse da esposa”, lê-se, o que constituiu um “grave problema de supervisão”, acrescentando a CT que “isto não é exemplo para nenhuma empresa pública em Portugal e não acontece em nenhuma estação de serviço público no mundo civilizado”.

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Daniel Deusdado responderia entretanto, igualmente em comunicado, garantindo que não passou a Farol de Ideias para a esposa. E esclarece: “A pessoa [Arminda Deusdado] que já detinha 50% da empresa desde a sua fundação, passou a deter a totalidade da mesma. E apesar de sermos pessoas distintas, foi fixado um perímetro de incompatibilidades, em articulação entre mim, a Entidade Reguladora da Comunicação Social e Conselho Geral Independente, desde o momento zero, impedindo a empresa de ter qualquer encomenda de projetos novos de 2015 em diante. Em função disso, cada um de nós seguiu com o seu trabalho”.

O diretor de programação da RTP 1 pede ainda que nenhum trabalhador da estação pública se deixe “intoxicar” por uma um comunicado que “pretende fomentar assassinatos de carácter”.

Quanto à situação de Nuno Artur Silva e de algumas produções [“País Irmão” e “Excursões Air Lino”] que a Comissão de Trabalhadores aponta como tendo ligações (mesmo que indiretas e por via dos argumentistas que as escreveram) às Produções Fictícias de Artur Silva — facto que pode constituir um “conflito de interesses” –, Daniel Deusdado sai em defesa do administrador cessante e explica que “as decisões de que é acusado [favorecimento às Produções Fictícias] o administrador Nuno Artur Silva, em rigor, são da responsabilidade legítima e última” da Direção de Programação da RTP1.

E nega o conflito de interesses, Deusdado: “É absolutamente claro e verificável que a RTP1 não contratou nenhum conteúdo à empresa Produções Fictícias desde 2015, altura em que assumi funções de diretor. (…) Para a RTP1 é relevante, sim, ter a certeza sobre qual a produtora que apresenta o projeto no momento da sua análise. É nessa circunstância que podemos avaliar eventuais incompatibilidades editoriais ou legais. Como é sabido, nenhum contrato é feito na RTP sem se ter em conta a Certidão de Pessoa Coletiva, o nome dos sócios e dos gerentes, a situação fiscal e a ausência de dívidas à Segurança Social.”

Por fim, Daniel Deusdado devolve as acusações à Comissão de Trabalhadores e garante que a “falta de rigor” no comunicado desta “pretende instalar um clima de suspeição sobre supostos conflitos de interesses onde não há nem conflitos nem interesses”.