Os soldados portugueses mortos durante a I Guerra Mundial vão ser homenageados com um vitral numa igreja em Londres a inaugurar em abril, no 100º. aniversário da batalha de La Lys, cujo desenho será revelado em 08 de fevereiro.

Ao lado, será colocado uma outra janela em memória do último rei de Portugal, Manuel II, que era presença assídua nas missas da igreja em Twickenham, situada perto da residência onde viveu exilado, entre 1913 e 1931.

Bernard Hornung é um empresário e antigo militar britânico com ascendência portuguesa que está ativamente envolvido na angariação de fundos para esta homenagem e que entende que o Reino Unido deve “um pedido de desculpas” a Portugal.

“Os generais britânicos deixaram os portugueses na linha da frente mais de 70 dias, mas sabiam que os alemães iam fazer uma grande investida. Deviam ter substituído e reforçado as forças portuguesas”, afirmou à agência Lusa.

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De acordo com estimativas, morreram a 09 de abril de 1918 na Batalha de La Lys, na Bélgica, 1.341 soldados portugueses, 4.626 foram feridos e 7.440 foram feitos prisioneiros, de um total de 2.100 baixas lusas contabilizadas no conflito.

Hornung considera que, dadas as circunstâncias, os portugueses “lutaram de forma brilhante uma batalha muito dura, mas foram obrigados a retirar”.

O vitral em memória dos “portugueses caídos” na I Guerra Mundial terá a figura do arcanjo Miguel sobre uma imagem de soldados nas trincheiras e uma esfera armilar portuguesa.

Na janela de homenagem a Manuel II estará representado o arcanjo Rafael, juntamente com a figura de uma enfermeira da Cruz Vermelha ajudando um militar ferido.

Esta é uma referência ao facto de, durante o conflito, o monarca, que era favorável à intervenção militar contra os alemães, ter ajudado a Cruz Vermelha Britânica e hospitais de Londres a desenvolver os seus serviços de ortopedia para tratar os soldados feridos.

Antigo presidente da Sociedade Anglo-Portuguesa, Bernard Hornung tem ligações familiares a Portugal e a Twickenham.

A bisavó portuguesa, Laura de Paiva Raposo, viveu com o marido, Pitt Hornung, naquela localidade do oeste de Londres no final do século XIX, antes de regressar a Lisboa.

Na altura, o avô, Charles Bernard Raphael Hornung, tinha apenas alguns meses, mas anos mais tarde alistou-se para integrar o Corpo Expedicionário Português, como soldado de artilharia.

“As cartas que ele escreveu [durante a guerra] eram tão chocantes que a minha avó pediu no testamento que fossem destruídas. Infelizmente, o meu pai cumpriu”, lamentou.

A campanha para realizar esta homenagem foi iniciada pelo padre responsável pela igreja de St. James, Ulick Loring, mas Hornung está envolvido pessoalmente na angariação de fundos.

Em 08 de fevereiro, será feito um lançamento público do diário do seu tio-bisavô Ernest William Hornung, “Writing From The Jaws Of Death – The First World War Diaries of E.W Hornung” [Escrevendo a partir das garras da morte – Os Diários da Primeira Guerra Mundial de E.W Hornung], escrito durante um período junto da linha da frente, em França.

Cunhado do criador de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, o autor ofereceu-se como voluntário da Young Men’s Christian Association (YMCA) aos 51 anos, traumatizado pela morte em combate do filho único, Arthur.

No mesmo dia, será revelado o desenho dos vitrais, criado por uma artista.

Em 08 de março, a Batalha de La Lys será o tema de uma palestra pelo Major General Sebastian Roberts, que no início de abril vai orientar uma visita guiada à zona da Flandres onde ocorreu o combate.

Até ao final deste ano estão programadas mais atividades, numa tentativa de dar relevo à campanha [http://www.memorialsforakingandacountry.co.uk/] e angariar as nove mil libras (10,3 mil euros) que restam para custear o tributo.

Até agora, vincou Hornung, os donativos foram feitos em partes iguais por britânicos residentes em Portugal, pela Sociedade Anglo-Portuguesa e por privados e fiéis que usam a igreja de St. James.