Bruno de Carvalho assumiu a presidência do Sporting em março de 2013 e, dois meses depois, os leões confirmavam aquela que foi a sua pior temporada de sempre: sétimo lugar no Campeonato e ausência das competições europeias pela segunda vez na sua história. Hoje, início de 2018, o conjunto verde e branco ganhou a primeira Taça da Liga do seu historial, tem um plantel em nada inferior aos rivais e mantém-se vivo nas restantes provas. O número de títulos não reflete propriamente isso, mas o clube mudou. E agora, como será o futuro?

Após um ano muito positivo onde baixou abruptamente o orçamento para 25 milhões de euros mas conseguiu um meritório segundo lugar na Liga com Leonardo Jardim no comando técnico (sairia no Verão de 2014 para o Mónaco), o Sporting voltou a ganhar títulos em maio de 2015, com a Taça de Portugal que quebrou um jejum que perdurava desde agosto de 2009, quando os leões ganharam a Supertaça no Algarve frente ao FC Porto. A seguir, Marco Silva saiu num processo com polémica à mistura. Pouco depois, houve uma semana em junho que mudou muito sobre o caminho que o clube verde e branco queria (e tenta) percorrer.

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Ao mesmo tempo que estava prestes a garantir a contratação de Jorge Jesus (que acabara de ganhar o terceiro Campeonato pelo Benfica), naquela que foi uma das maiores transferências entre rivais de sempre, Bruno de Carvalho teve um discurso de total rutura com o passado num almoço no Núcleo de Alenquer, que passou a marcar as ideias que tinha para o futuro. E foi aí, entre muitas críticas internas, que recordou algo que ainda hoje ambiciona: o regresso do “Crónico”, aquele Sporting dos anos 40 e 50 onde o “anormal” era não ser campeão.

“A única coisa que mantivemos foi uma enorme e aguerrida massa associativa, mas um clube como o Sporting faz-se de glória e de conquistas, algo que tem andado muitas vezes arredado do léxico do futebol profissional. Para mais, colocaram-nos à beira da falência, com índices de orgulho cada vez menores e com índices de desprezo desportivo por parte dos rivais cada vez maiores. Como presidente, tenho de compreender que todos nós fomos criando defesas para a falta sistemática de conquistas. Temo-nos escondido atrás de outros valores de que nos devemos orgulhar, como a honestidade, o trabalho ou as regras sociais e desportivas. Mas é possível manter esse orgulho e diferença, por haver essa defesa de regras e valores, e ser campeões! Para tal, temos de sair desta zona de conforto. Temos de ser exigentes, audazes, ambiciosos. Temos de ser aquele verdadeiro Sporting que, nas décadas de 40 e 50, ganhou dez vezes. Aquele que, em oito anos, entre 1947 e 1954, ganhou sete vezes. Aquele que era o ‘Crónico’, referiu Bruno de Carvalho.

“Fomos andando vários anos pelo caminho mais fácil, aquele do ‘perdemos mas somos um Clube de elites’. Errado – o caminho tinha de ser ‘ganhámos e, por isso, somos um clube de excelência’. É esse o Clube que quero. Entrei no Sporting pela mão de sócios anónimos que anseiam o regresso daquele grande Sporting, tendo como verdadeiros ‘inimigos’ aqueles a quem chega ser um mero clube de elites, de interesses, perdedor, submisso e tímido. Se o Sporting quer voltar a ser o ‘Crónico’, todos esses sportinguistas de elites que se auto-apelidaram de topo vão passar uma vergonha porque alguém que não tem medo de ser do ‘povo’ conseguirá algo que eles não conseguiram. Já deixámos de ser um clube com sportinguistas de primeira e de segunda, mas temos de mudar de rumo, de discurso, de filosofia, de ambição”, acrescentou o líder verde e branco nesse mesmo almoço.

Bruno de Carvalho colocou a fasquia no máximo, mas os resultados acabaram por nunca aparecer como desejava: depois da conquista da Supertaça em 2015 e de um Campeonato onde o Sporting terminou em segundo batendo o máximo de pontos que já tinha feito na prova (86), a temporada de 2016/17 passou completamente ao lado e chegou mesmo a levantar-se a hipótese de Jorge Jesus sair de Alvalade. Não saiu. E agora, entre o melhor plantel desde que chegou aos leões, ganhou a Taça da Liga e mantém aspirações nas restantes provas.

“Foi com esta intenção que vim, para pôr o Sporting ao nível das duas grandes equipas que havia em Portugal, as que comandaram ao longo destes anos o futebol em Portugal, por mérito e pelos títulos conquistados. O Sporting era o quase… nem era o quase, nem lá chegava! Demora tempo, não é fácil chegar a um clube que não tem cultura de ganhar. Isto não é fácil. Noutros, que estão habituados, é só dar seguimento. Aqui é transformar e colocar os adeptos a acreditar. O Sporting demonstrou que é um grande clube em Portugal. Quem faz os clubes são as massas adeptas e hoje os nossos adeptos pintaram tudo de verde hoje. Ganhar o troféu era o objetivo, mas para mim fazer o Sporting voltar a ser esse clube é tão importante como ganhar a taça”, comentou Jesus no final do jogo.

“Tínhamos quatro objetivos. Vencemos num jogo difícil e tivemos de dar tudo. Os sportinguistas merecem e estamos extremamente felizes por dar-lhes esta alegria. Espero que seja a primeira de várias. O objetivo principal chama-se Campeonato. É importante vencer e ter esta mentalidade. Obrigado aos sportinguistas, que têm sofrido bastante nestes últimos tempos com toda esta desestabilização e contra-informação, manterem-se coesos e unidos. Vamos continuar com o nosso compromisso, sempre a honrar esta camisola. Vitória impulsionadora? É uma vitória, agora já estamos a pensar em quarta-feira”, resumiu Bruno de Carvalho na zona mista.

É aqui que entronca o grande objetivo do Sporting nos próximos meses: provar que, das palavras aos atos, o clube conseguirá quebrar aquele que é o segundo maior jejum de Campeonatos (encontra-se nesta altura em 16 anos, desde 2002). E essa é a chave do futuro do projeto de Bruno de Carvalho no clube: só vencendo a principal competição nacional é que essa nova mentalidade que tem vindo a ser cultivada começará a ganhar raízes.

O palmarés do Sporting fica então assim depois desta noite:

– 1 Taça dos Vencedores das Taças (1964)

– 18 Campeonatos Nacionais (1941, 1944, 1947, 1948, 1949, 1951, 1952, 1953, 1954, 1958, 1962, 1966, 1970, 1974, 1980, 1982, 2000 e 2002)

– 16 Taças de Portugal (1941 , 1945, 1946, 1948, 1954, 1963, 1971, 1973, 1974, 1978, 1982, 1995, 2002, 2007, 2008 e 2015)

– 8 Supertaças (1982, 1987, 1995, 2000, 2002, 2007, 2008 e 2015)

– 1 Taça da Liga (2018)

– 4 Campeonatos de Portugal (1923, 1934, 1936 e 1938)