A Seat, que possui uma cada vez maior gama de veículos equipada com sistemas de tracção integral, recorda durante o Inverno que os pisos escorregadios são delicados para os veículos. A aderência é baixa, a tracção também, tal como a obediência às solicitações da direcção ou dos travões, pelo que de estar tudo bem e sob controlo, ao carro ir parar fora de estrada, é um instante.

Há várias soluções que ajudam a lidar com pisos traiçoeiros, desde reforçar a atenção e a margem de segurança, a recorrer a pneus com características específicas para cada situação. Mas é um facto que as quatro rodas motrizes são outra “loiça”. Especialmente em tracção, pois dividir a potência por quatro rodas é sempre melhor do que por apenas duas.

Primeiro, o ritmo mais ousado

O melhor desportivo da marca espanhola, o Leon Cupra, especialmente na versão ST, é uma máquina muito respeitável. O seu motor dois litros, com injecção directa de gasolina e soprado por um turbocompressor de dimensões generosas, fornece 300 cv, só não passa dos 250 km/h porque a isso está limitado electronicamente e é o primeiro modelo da casa a baixar dos 5 segundos para ir de 0 a 100 km/h, fixando a fasquia nos 4,9 segundos.

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Mas um dos maiores trunfos do desportivo é o sistema de tracção integral, que não só divide para reinar – a potência pelas quatro rodas –, como o consegue fazer de forma inteligente, de forma a tornar o comportamento do modelo mais dócil ou mais exuberante e divertido, consoante os desejos de quem vai ao volante e, por tabela, do modo de condução que selecciona. Veja aqui como é que funciona o sistema 4Drive:

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Para colocar o Leon Cupra ST à prova, a Seat desafiou-nos para uma deslocação à Áustria, onde desenhou um circuito num terreno amplo, revestido com neve e gelo, com ênfase neste último, o que tornava a condução numa actividade mais próxima do bailado. O dispositivo que divide a potência debitada pelo motor entre as rodas da frente e as posteriores é relativamente pequeno, mas cheio de potencial. Trata-se de uma embraiagem multidiscos produzida pela Haldex – a referência neste domínio, para a indústria automóvel –, em que um motor eléctrico gera óleo sob pressão. É este fluido que depois “aperta” mais ou menos os discos, passando para a traseira mais ou menos força do motor, até um máximo de 50%, apenas porque o construtor não pretende um carro excessivamente sobrevirador (que se atravesse em demasia em aceleração).

Para percebermos a melhor forma de explorar o potencial do sistema, começámos por dar umas voltas ao lado de Jordi Gené, piloto da Seat, no curto circuito traçado no gelo, que consistia num slalom apertado a descer, outro mais aberto a subir, com uma curva longa pelo meio. Gené é um piloto de asfalto, que se sente mais à vontade nas provas de velocidade em pista do que no gelo, mas isso não o impediu de dar uma aula de como aproveitar o sistema 4Drive da Seat, aconselhando-nos a não abusar do acelerador e não entrar excessivamente depressa nas curvas, todas elas muito lentas.

Depois de vermos como um piloto profissional fazia, foi a nossa vez de saltarmos para o volante e tentar, primeiro não “partir” o Leon Cupra, e depois aplicar as dicas do piloto. É claro que o Gené tinha razão em tudo o que afirmou, mas a verdade é que o gozo de atirar o Seat de um lado para o outro, esmagando o acelerador e obrigando as quatro rodas a esgravatar a neve e o gelo à procura de tracção – mais evidente nos modelos equipados com pneus de Inverno com pregos –, atirando toda aquela poeira branca pelo ar, dava infinitamente mais prazer do que conduzir o Seat de forma eficaz e controlada.

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Depois a passeata pelo campo

Além do Leon Cupra ST 4Drive, que abandonámos contrariados, o programa incluía ainda incursões pelo campo, esse sim coberto de neve, com estradas estreitas ladeadas por muros de neve com mais de um metro de altura, fruto dos nevões recentes.

Primeiro com o Leon Xperience, a versão 4×4 da carrinha Leon com ares de crossover, o objectivo era circular por montes e vales, passando por zonas em que um veículo com apenas tracção a um eixo, fosse ele o anterior ou o posterior (neste caso seria ainda mais difícil), conseguiria ir e… voltar.

O mesmo Haldex da versão desportiva, agora com outra afinação, garantia que havia potência nos quatro cantos do carro, com a vantagem de, sempre que o piso irregular levava o Seat a levantar uma das rodas, o sistema de travagem, alertado pelo ABS, detectava a roda a patinar e travava-a, para que a potência do motor não se escapasse por essa roda e fosse transferida para a outra, que tinha mais tracção. Só isto permitia que o modelo continuasse a progredir.

Depois do Leon Xperience mostrar a sua valia, foi a vez do Ateca, igualmente dotado do sistema 4Drive, com o habitual Haldex a continuar a ser responsável pelo repartimento da força do motor entre a frente e a traseira. De salientar que este dispositivo tem ainda a vantagem de, a circular em asfalto, onde não há diferente na velocidade entre as rodas da frente e traseiras, não actua, funcionando o veículo como se possuísse apenas tracção à frente, poupando nos consumos e emissões.

O Ateca 4×4 possui os mesmos modos de condução do Leon desportivo, reforçados por mais dois, especificamente destinados ao tipo de veículo em causa. Referimo-nos ao modo Snow e ao Off Road, vocacionados para quem enfrenta habitualmente condições mais difíceis. O acelerador fica menos sensível, tornando a entrega de potência mais suave, ideal para quando escorrega à séria, para o Off Road se diferenciar do Snow por continuar a permitir o recurso ao Auto Hold, que facilita os arranques nas subidas e ao Hill Descent Control, que modula automaticamente os travões, roda a roda, para manter a velocidade pretendida, seja ela 5 ou 30 km/h, assegurando que o condutor continua a manter o veículo sob controlo.

As versões 4Drive são obviamente mais seguras e as ideais para esquiadores e caçadores, que correm o risco de ter de lidar com gelo a caminho da estância de ski, ou lama na perseguição de um coelho mais ágil. Mas nem tudo são vantagens, pois se considerarmos por exemplo o Ateca 1.4 TSI a gasolina de 150 cv, disponível com duas e quatro rodas motrizes, o peso é maior em 101 kg na versão 4Drive, o consumo médio também, em 0,8 litros, o que implica um acréscimo das emissões de CO2 de 122 para 139 gramas por quilómetro percorrido. E isto tem, num país com um regime fiscal como o nosso, um incremento no preço.