A Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco vai ficar exposta de forma definitiva num espaço fora das duas grandes cidades, Lisboa e Porto, “porque há outras”, revelou esta segunda-feira António Costa. Segundo o Público, o mais provável é que esta seja depositada no Convento de S. Francisco, em Coimbra, apesar de o acordo ainda não estar fechado.

O primeiro-ministro participou esta segunda-feira na cerimónia de assinatura de um primeiro protocolo entre o Novo Banco e a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) que prevê ceder para depósito e exposição a coleção de obras de arte com origem no antigo BES. Para tal, o Novo Banco criou a marca NB Cultura, através da qual irá realizar parcerias com entidades públicas e privadas, como museus e universidades, para distribuição do seu património cultural e artístico.

Além da Coleção de Fotografia — que o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, que também esteve presente na assinatura do protocolo, qualificou como “a joia da coroa” –, o espólio do antigo BES inclui uma importante Coleção de Pintura com cerca de 100 obras portuguesas e estrangeiras, dos séculos XVII a XX. Na pintura estrangeira, destacam-se as paisagens de Jean Baptiste Pillement, nomeadamente uma representação de um dos momentos que seguiram o naufrágio do navio de guerra San Pedro de Alcântara, nas falésias da Papoa, em Peniche.

Novo Banco vai disponibilizar coleção de arte a museus nacionais

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Entre as pinturas portuguesas inclui-se a obra Entrada Solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro, do século XVIII, que ficará em exposição permanente no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa onde decorreu a assinatura do protocolo esta segunda-feira. Durante a cerimónia, António Costa realçou que a obra é a mais importante da Coleção de Pintura do Novo Banco e que casa “da melhor forma” com o museu lisboeta, uma vez que se trata de uma representação de um cortejo de coches e berlindas no Terreiro do Paço, na capital, antes do Terramoto de 1755.

Questionado pela Agência Lusa, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que esteve presente na cerimónia, disse que, relativamente à Coleção de Pintura, a palavra de ordem é “descentralização” e que cada quadro “irá para o museu com que tiver mais afinidade, e em que se enquadre melhor”. No que diz respeito à Coleção de Numismática, que também faz parte do espólio do antigo BES — que se encontra na sede do Novo Banco em Lisboa e em relação à qual foi aberto um processo de classificação como Tesouro Nacional pela DGPC em 2015, que continua em curso –, António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, adiantou que é preciso fazer um “estudo académico”.

Esta coleção compreende 16.575 exemplares e acompanha a emissão de moeda ao longo de dois mil anos. Seguindo a história de Portugal, o conjunto inclui emissões de antigas colónias, como Brasil, Índia ou Moçambique. O Novo Banco detém ainda a Biblioteca de Estudos Humanísticos de Pina Martins, já exposta na Fundação Calouste Gulbenkian e atualmente depositada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Composta por mais de mil livros antigos, a maioria do século XVI, esta inclui ainda nove incunábulos, dos primeiros tempos da imprensa, assim como perto de uma centena de obras com origem no humanista Aldo Manuzio. Uma primeira edição das Obras Completas de Sá de Miranda, de 1585, uma edição de Os Lusíadas de 1613 e ainda edições iniciais de Dante, Petrarca, Erasmo de Roterdão e Thomas More encontram-se também neste acervo, comprado pelo antigo BES em 200, à família do professor e investigador José de Pina Martins. A ideia é que esta continue à disposição, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde aliás, Pina Martins foi professor.

Em abril de 2017, a Biblioteca Nacional de Portugal abriu um processo de classificação deste acervo, que ainda se encontra em curso, como indicou à Agência Lusa a diretora da entidade, Inês Cordeiro. “O processo ainda não está concluído, e vai demorar alguns meses, porque envolve centenas de livros, e é um trabalho minucioso”, comentou a responsável, acrescentando que, a ser classificada, seria como bem de interesse nacional ou de interesse público. Mesmo sem estar concluído o processo, após a abertura, e respetiva publicação em Diário da República, “os bens em causa estão protegidos e não podem ser vendidos, sair do país ou ser intervencionados sem autorização” da tutela da cultura.

“Um excelente sinal de como hoje vivemos um tempo diferente”

Para o presidente executivo do Novo Banco, a assinatura do protocolo no Museu Nacional dos Coches é “o primeiro passo de uma colaboração incrível com o Ministério da Cultura”. António Ramalho afirmou que a NB Cultura visa, “sem formalismos, permitir a fruição pública da cultura que é a maior atividade humana que transforma o efémero em eterno”.

Já António Costa referiu-se a esta estratégia como “um excelente sinal de como hoje vivemos um tempo diferente, em que a relação do banco, antes de ser com o Ministério das Finanças, é com o Ministério da Cultura”. Para o primeiro-ministro “não podia haver melhor sinal” da estabilidade do sistema financeiro português.