O Papa Francisco enviou esta semana um alto funcionário do Vaticano a Santiago do Chile para investigar a polémica que envolve o bispo Juan Barros, acusado de ter encoberto décadas de abusos sexuais praticados por um padre daquele país.

De acordo com um comunicado da sala de imprensa da Santa Sé, o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, que é também o presidente do colégio para o exame dos recursos em matéria de delicta graviora (os delitos ou crimes mais considerados mais graves) da Sessão Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, foi enviado para Santiago do Chile “para escutar aqueles que manifestaram vontade de dar a conhecer elementos que tenham na sua posse”.

Em causa estão fortes críticas contra Juan Barros, bispo da cidade chilena de Osorno, que é acusado de encobrir abusos sexuais praticados pelo padre Fernando Karadima durante décadas. Karadima foi formalmente condenado pelo Vaticano, em 2011, de abusos sexuais, e foi suspenso das suas funções de sacerdote para o resto da vida.

O padre era um dos colaboradores mais próximos de Juan Barros, sendo até considerado um “protegido” daquele bispo. Contudo, Barros sempre negou ter conhecimento dos atos praticados por Karadima.

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A visita oficial do Papa Francisco ao Chile (entre 15 e 18 de janeiro) reacendeu a polémica, com várias vítimas do padre Karadima a virem a público exigir um pedido de desculpas do Papa, quer pelos abusos sexuais na Igreja, quer pela nomeação, em 2015, de Juan Barros para bispo de Osorno.

A polémica ganhou proporções ainda maiores quando, durante a visita ao Chile, o Papa Francisco considerou que as acusações contra o bispo Juan Barros eram “calúnias”. Questionado por um jornalista sobre o caso do bispo chileno, Francisco respondeu: “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?

Cardeal de topo repreende Papa Francisco por desvalorizar abusos na Igreja

As palavras do líder da Igreja Católica motivaram várias críticas, incluindo por parte de membros influentes da Igreja, como o cardeal norte-americano Sean O’Malley (escolhido para suceder a Bernard Law na diocese de Boston na sequência dos escândalos de pedofilia naquela cidade). O’Malley acusou Francisco de ter causado “grande dor” às vítimas de abusos sexuais por parte de membros da Igreja.

Papa pede desculpa por comentário sobre abusos sexuais: “A minha expressão não foi feliz”

O Papa Francisco veio depois pedir desculpa pela expressão que usou. “O drama dos abusados é tremendo. O que é que sentem as vítimas? Tenho de pedir-lhes desculpa, porque a palavra ‘prova’ feriu. A minha expressão não foi feliz. Peço desculpa se as feri, sem me aperceber, sem o querer. Dói-me muito”, disse o Papa Francisco aos jornalistas, no voo de regresso a Roma.