Só o filme já suscitava curiosidade, mas a banda sonora faz de “Black Panther” um dos acontecimentos musicais do ano. Com estreia agendada para 15 de Fevereiro nas salas de cinema portuguesas, o novo filme da Marvel tem na música um grande trunfo. Escolhida e produzida por um trio de peso – o músico Kendrick Lamar, o presidente da sua editora Top Dawg (Anthony Tiffith) e o próprio realizador do filme (Ryan Coogler) – a banda sonora de 14 canções inclui a nata da nova música anglo-americana, com predominância para as novas referências do R&B e neo-soul (de The Weeknd a Khalid, de Anderson .Paak a SZA, de Travis Scott a Jorja Smith) e do hip-hop (de ScHoolBoy Q a 2 Chainz, Vince Staples, Ab-Soul e Future, além de Lamar).

O rapper de Compton, autor de álbuns como good kid, m.A.A.D City, To Pimp a Butterfly e DAMN. e êxitos como Humble, DNA, Bitch, Don’t Kill My Vibe e Alright, é aliás o que surge em maior foco na banda sonora (que chegará às plataformas digitais dia 9 de Fevereiro e cujo alinhamento foi revelado esta quarta-feira), participando em cinco temas: “Black Panther”, “All The Stars” (com SZA), “King’s Dead” (com Jay Rock, Future e James Blake), “Big Shot” (com Travis Scott) e “Pray For Me” (com The Weeknd).

Eis duas das canções que já se podem ouvir:

Um filme político?

A escolha de Kendrick Lamar para co-produzir a banda sonora do filme — e a sua predominância entre os criadores dos temas — não será casual. Afinal, a música do rapper que já viu temas como “Alright” serem apropriados por movimentos como o Black Lives Matter e que um dia disse também ele ser “Trayvon Martin”, jovem afro-americano de 18 anos assassinado nas ruas de Sanford, Florida, e “todas essas crianças” em geral, parece não destoar muito das características do primeiro super-herói negro revelado pela Marvel (em 1966, meses antes de emergir o movimento revolucionário homónimo, homenageado há dois anos por Beyoncé numa polémica atuação no Super Bowl).

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Primeiro filme da Marvel predominantemente negro, com Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Angela Bassett, Martin Freeman e Forest Whitaker no elenco, “Black Panther” tem Chadwick Boseman como protagonista. O ator interpreta T’Challa, aka Black Panther, personagem que, apontou Eliza Anyangwe no The Guardian, “além de ser um super-herói é uma figura religiosa e um líder político, cujas forças provêm do intelecto, da tecnologia superior presente no seu fato, de uma erva que só ele pode comer sem ficar envenenado e do conhecimento dos seus antepassados. Em suma, é ouro afro-futurista”.

A repórter dos Los Angeles Times, Jen Yamato, além de defender que “Black Panther” (filme que já viu) traz “mulheres fortes e complexas para o universo Marvel” e que este retrata a história africana de uma maneira inovadora, resumiu-o assim: “Um filme de super-heróis que explica porque é que as questões de representação e identidade importam [no cinema] e o quão trágico é isso ser [tantas vezes] negado às pessoas”.