Donald Trump ameaçou, na quarta-feira, levar a público a informação que mostra supostos abusos por parte do FBI e do Departamento de Justiça (DOJ) na investigação sobre a ingerência russa nas presidenciais de 2016. A agência norte-americana já reagiu à ameaça do presidente e expressou “preocupações sérias” sobre os planos da Casa Branca.

O presidente norte-americano tem cinco dias para aprovar a divulgação do memorando, mas disser ser “100%” a favor de o fazer, escreve a BBC, uma vez que quer fazer “tudo para que o povo americano possa fazer os seus próprios juízos e, se há pessoas que devem ser responsabilizadas, então que assim seja”.

Num comunicado, o FBI escreve que teve uma “oportunidade limitada” para rever o memorando antes de o Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos ter votado a favor da sua divulgação e mostra sérias preocupações.

Temos grandes preocupações sobre as omissões materiais de factos que têm um impacto profundo no rigor deste memorando”, disse um porta-voz do FBI em comunicado

O porta-voz acrescentou ainda que “Estamos empenhados em trabalhar com as entidades de supervisão adequadas para garantir a contínua integridade do processo FISA [lei dos EUA que prevê procedimentos de vigilância física e eletrónica suspeitos de espionagem]”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Trump alarma FBI com planos de divulgar informação sobre ingerência russa

O memorando tem quatro páginas e foi redigido pelo staff de Devin Nunes, congressista republicano. No fundo, é uma compilação de informações que refere uma suposta posição tendenciosa, tanto do FBI como do Departamento de Justiça, relativamente ao presidente e à investigação da ingerência russa nas presidenciais de 2016.

Aqui entra o famoso dossier russo, cujo autor é Christopher Steele, e com base no qual o FBI decidiu então apertar a vigilância sobre um membro da campanha de Trump, na altura das eleições. A agência norte-americana terá seguido de perto os passos de Carter Page por suspeitas de ter atuado como agente russo. Foi o Departamento de Justiça que, através de Rod Rosenstein, firmou um pedido judicial para realizar essa vigilância, facto que deixou Trump de pé atrás relativamente a Rosenstein — que foi responsável pela investigação à ingerência russa. O Departamento de Justiça, aliás, relembrou já que seria “extraordinariamente imprudente” levar a público o documento em causa.

O memorando diz, assim, que o FBI se baseou em acusações não comprovadas, o que mostra um abuso de vigilância por parte da agência. Os republicanos afirmam, no entanto, que é a prova de que o presidente foi tratado de forma injusta pelo FBI e Devin Nunes assegurou que não era “surpresa” nenhuma que a agência norte-americana se opusesse ao lançamento do documento.

De um lado da barricada, os democratas acusam os republicanos de terem alterado o memorando antes de o entregarem à Casa Branca. O representante Adam Schiff afirma que o documento sofreu “alterações materiais”, o que significa que não corresponde ao mesmo que foi votado. Assim, diz que o documento deve ser retirado e revisto antes de qualquer aparição em público. A Casa Branca encontra-se já a rever o documento de quatro páginas, segundo a CNN.

“Se a maioria continua com a intenção de divulgar o documento ao público, apesar das repetidas advertências do DOJ e do FBI, deve ser feita uma nova votação para divulgar um documento modificado”, escreveu Schiff.

Do outro lado, e em resposta a Schiff, um porta-voz de Nunes disse que esta era “uma tentativa cada vez mais estranha de tentar impedir a publicação do memorando”, assegurando que as alterações efetuadas diziam respeito apenas a “pequenas edições, incluindo correções gramaticais e duas edições solicitadas pelo FBI e pela própria minoria”.

Schiff mostrou as suas preocupações falando com o diretor do FBI, Chris Wray, e Nunes afirmou que “o Departamento de Justiça e o FBI estão a ser investigados pelo Comité há já muitos meses pelos abusos da FISA”. Os democratas pediram então uma explicação para o facto de não terem sido informados sobre tal investigação, já que, de acordo com as regras, deveriam ter sido consultados no início da mesma.

Com os ânimos exaltados, resta agora saber qual a decisão que Donald Trump toma relativamente a um assunto que está a deixar a Casa Branca sob agitação. A disputa entre o Comité e o FBI está bem acesa e, nas próximas horas, Trump pode decidir trazer a público um documento que muitos dizem não ser o real.