Socializava, desde 1999, com membros da comunidade gay em Toronto — e terá tido relações com alguns deles, de acordo com as autoridades. O jardineiro “simpático”, pai de dois filhos e um avô “alegre e amável”, era afinal a chave para resolver o mistério com seis anos dos desaparecimentos na “The Gay Village” — uma área geograficamente reconhecida e frequentada pela comunidade LGBT. Thomas Donald Bruce McArthur, de 66 anos, é agora um “alegado assassino em série” — uma hipótese que a polícia de Toronto sempre tinha descartado.

Esta semana foi acusado de ser o responsável pela morte de, pelo menos, cinco homens que desapareceram entre 2012 e 2017. Foi detido depois de terem sido encontrados restos mortais de três cadáveres desmembrados nos canteiros de um jardim de uma casa na rua Mallory Crescent, no bairro de Leaside, Toronto — a moradia onde guardava o seu equipamento de jardinagem e, em troca, cortava a relva e cuidava do jardim do casal que lá vivia.

[Vejo no vídeo os cinco homens que o jardineiro é suspeito de ter matado]

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O jardineiro foi acusado numa primeira fase, a 18 de janeiro, por ser o “responsável pelas mortes de Selim Esen e Andrew Kinsman“, segundo as autoridades. Esen, de 44 anos, desaparecera em abril do ano passado. Dois meses depois, acontecera o mesmo com Kinsman, de 49 anos.

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No dia 29 de janeiro, McArthur foi acusado pela morte de outros três homens. Majeed Kayhan, de 58 anos, tinha desaparecido em 2012. Soroush Marmudi, de 50, foi dado como desaparecido pela família três anos depois, em 2015. Já Dean Lisowick, de 47 anos, vivia num centro de acolhimento para sem-abrigos, em Toronto e, por isso, nunca ninguém se queixara da sua falta. Mas a polícia suspeita que foi também assassinado entre maio de 2016 e julho do ano passado.

Sites de encontros e relações homossexuais com as vítimas: “Envergonhado mas um romântico”

Thomas Donald Bruce McArthur não só estava inscrito em sites gay, como teria tido vários casos. Uma dessas relações foi confirmada pela polícia: Bruce McArthur tinha uma ligação de natureza “sexual” de longa duração com Andrew Kinsman, de 49 anos, que desapareceu em junho de 2017 — uma das cinco vítimas de que o jardineiro está acusado de ter matado. Mas não terá sido a primeira nem a única vítima com que McArthur teve uma relação. Aliás, segundo o CTV News, o jardineiro tinha um perfil num site de encontros com a descrição: “Aqui apenas para ver o que anda aí e talvez para fazer novos amigos… Posso ser envergonhado até te conhecer, mas um romântico de coração“.

O jardineiro assassino em série socializava com a comunidade gay de Toronto há muito: desde 1999, data em que começou uma relação com Skandaraj Navaratnam, um homem homossexual que desapareceu em 2010. De acordo com Kevin Nash, um amigo de Navaratnam, em declarações à CBC, o jardineiro era “um homem de aparência alegre, agradável, cortês” e que “podia passar por heterossexual”. De facto, McArthur teve uma relação heterossexual. Em 1986, casou com Janice, com quem teve uma filha e um filho e com quem comprou uma casa nos subúrbios de Oshawa.

O jardineiro assassino em série de homossexuais: desmembrava vítimas e escondia os restos mortais nos canteiros

Na sua página do Facebook, de acordo com a CBC, partilhava frequentemente vídeos de receitas de culinária, conteúdos anti-Trump e fotografias de gatos, dos filhos e dos netos. Mas também de fotografias com um jovem — que parece ser natural do Médio Oriente ou do sul asiático — em férias ou saídas à noite.

Sabe-se que esse jovem “fazia parte do bairro” LGBT de Toronto. Sabe-se também que o jardineiro estava frequentemente acompanhado por um rapaz mais novo que o ajudava nos trabalhos de jardinagem, contou ao National Post, Parker Liddle, que vive na zona da casa onde foram encontrados os restos mortais. Até ao momento, a polícia não tem evidências suficientes para concluir que havia mais alguém a colaborar nos crimes do jardineiro.

Pai Natal em centros comerciais, liberdade condicional por agressão e insolvência

Apesar de ser lembrado pelos amigos e família como um homem “agradável” e “cortês” — e de até se vestir de pai Natal nos centros comerciais nas alturas festivas como trabalho temporário –, o jardineiro agora considerado um assassino em série tinha um historial, ainda que curto, de conflitos.

Segundo a CBC, no Halloween de 2001, McArthur atacou um homem com um ferro, em Toronto. O jardineiro acabaria ser condenado a dois anos em 2003, tendo ficado em liberdade condicional. Durante esse período, foi proibido de consumir nitrito de amila, também conhecido por poppers — uma droga usada para aumentar o prazer sexual, muita usada entre a comunidade gay. McArthur foi também impedido de estar na presença de prostitutos e ordenado a afastar-se do bairro “The Gay Village”, em Toronto.

Bruce McArthur fazia trabalhos temporários de Pai Natal em centros comerciais (Foto: richard680news/Twitter)

O jardineiro também teve alguns problemas financeiros. No final da década de 90, em 1997, ele e a mulher hipotecaram a casa e, dois anos depois, declararam insolvência. A casa viria a ser vendida em 2000, quando ainda era casado com Janice. De acordo com informação que consta nos documentos do tribunal, a que a CBC teve acesso, em 2003, na altura em que ficou em liberdade condicional durante dois anos, McArthur já morava num prédio na Rua Don Mills, em Thorncliffe Park — um bairro a cerca de 10 minutos de carro do apartamento em Thorncliffe Drive, onde morava quando agora foi detido.

O número final de vítimas do jardineiro assassino em série não deverá ficar pelos cinco: “Acreditamos que há mais [vítimas], mas não faço ideia quantas”. As autoridades vão investigar mais 30 propriedades ligadas ao jardineiro. “Acreditamos que existem mais restos mortais em algumas destas propriedades, nas quais estamos a trabalhar”, adiantou Hank Idsinga, o inspetor responsável pelo caso.