O Presidente das Maldivas afirmou esta terça-feira que declarou o estado de emergência para investigar uma “conspiração de golpe de Estado”, que envolveu uma decisão do Supremo Tribunal do país que pôs em liberdade vários líderes da oposição.

“Isto não é estado de guerra, epidemia ou desastre natural. Isto é algo mais perigoso (…) Isto é uma obstrução à própria capacidade de funcionamento do Estado”, disse o Presidente Yameen Abdul Gayoom numa comunicação ao país pela televisão.

Yameen, o homem responsável por vários retrocessos nas reformas democráticas nas Maldivas ao longo dos cinco anos em funções, reafirmou que o Supremo Tribunal foi além das suas competências ao ordenar a libertação de vários líderes da oposição.

Esta ordem, considerou o Presidente, “perturba de forma flagrante o equilíbrio de poderes”.

Na sequência da decisão do Supremo, o governo de Yameen tomou na segunda-feira uma posição de força, declarando 15 dias de estado de emergência que dá poderes acrescidos às autoridades, incluindo o de fazer detenções, buscas e apreensão de bens, bem como restringir o direito de reunião. Horas depois de ter sido declarado o estado de emergência, as forças de segurança detiveram dois juízes do Supremo Tribunal e um antigo presidente, agora líder da oposição.

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“Vi-me na obrigação de declarar este estado de emergência porque não havia qualquer outra forma de investigar estes juízes. Antes tínhamos que suspender a sua autoridade e a sua imunidade. Porque temos de descobrir até que ponto vai esta conspiração, este golpe”, disse Yameen.

Entretanto, o principal rival político de Yameen apelou à Índia para que envie um emissário – apoiado pelos seus militares – para libertar os juízes do Supremo detidos e os líderes da oposição.

O antigo presidente Mohammed Nasheed, no exílio no Sri Lanka, afirmou que Yameen “declarou ilegalmente a lei marcial e tomou o Estado”. “Temos de o tirar do poder”, sublinhou.

Nasheed foi um dos líderes da oposição postos em liberdade na sequência da ordem do Supremo Tribunal das Maldivas. Em comunicado, o ex-Presidente apelou a que a Índia envie militares, “uma presença física”.

Também pediu aos Estados Unidos para que proíbam os representantes do governo das Maldivas de fazer transações financeiras através de bancos norte-americanos.

Nem a Índia nem os Estados Unidos responderam a este apelo, mas exortaram Yameen a obedecer à ordem do Supremo.

Yameen tem vindo a restringir os direitos civis desde que chegou ao poder, em 2013, detendo ou forçando o exílio de quase todos os líderes políticos que se lhe opõem.

Horas depois da imposição do estado de emergência, soldados com equipamento anti-motim e camuflados azuis invadiram o edifício do Supremo, detendo dois dos juízes, incluindo o juiz-presidente Abdulla Saeed. Desconhece-se, até ao momento, se foram acusados de qualquer crime bem como onde se encontram.

Mais tarde, o antigo ditador e dirigente da oposição Maumoon Abdul Gayoom apareceu num vídeo captado pela sua filha a ser escoltado por soldados para fora de sua casa, a abraçar amigos e família e ser conduzido de carro para parte incerta.

Pouco antes da sua detenção, Gayoom enviou uma mensagem pelo Twitter a dizer que um grande contingente policial estava a cerca a sua casa: “Para me proteger ou para me deter? Não faço ideia”.

Gayoom foi Presidente de 1978 a 2008, quando as Maldivas se tornaram uma democracia multipartidária.

As Maldivas são um arquipélago com mais de mil ilhas, mas menos de 400 mil cidadãos. Mais de um terço deles vive na capital, Male. O turismo é a principal fonte de rendimento do país.