Em 1995, um alemão decidiu comprar um saco de pequenos lagostins para colocar no aquário. Dias depois, o aquário estava totalmente cheio daquele marisco. O dono ficou perplexo: tinha comprado, propositadamente, somente fêmeas, para evitar a reprodução. Ainda assim, tinha agora três vezes mais lagostins do que aqueles que tinha inicialmente levado para casa. Como é que é possível? Os lagostins eram, na verdade, clones.

Este processo, chamado partenogénese, implica que os ovos das fêmeas não precisam de ser fertilizados: nascem e tornam-se autênticas “cópias” da mãe. Os cientistas, surpreendidos, chamaram a esta espécie “lagostim marmoreado”. Nos anos que se seguiram, os investigadores perceberam que este pequeno crustáceo não estava só em aquários na Alemanha. Estavam, estão, na natureza e são perigosos invasores.

Apesar da sua venda estar atualmente banida na União Europeia e nos Estados Unidos, os lagostins marmoreados já foram encontrados em bosques e florestas na Alemanha, Itália, Eslováquia, Suécia, Japão e Madagáscar. Zen Faulkes, um investigador da Universidade do Texas, explica à Atlantic que “cada um deles tem a capacidade de se reproduzir e cada um deles pode começar uma nova população”. “Estamos a ser invadidos por um exército de clones”, atira.

Mas agora, e pela primeira vez, os cientistas conseguiram mapear o ADN destes lagostins marmoreados. E a descoberta é impressionante: todos eles são, de facto, clones que descendem de um único lagostim que, de alguma maneira, adquiriu a capacidade de se reproduzir sozinho. Os ADN destes 11 crustáceos – que foram recolhidos tanto na Alemanha como em Madagáscar – quase não é distinguível.

Outro facto interessante é que os lagostins marmoreados têm três conjuntos de cromossomas. A maioria dos animais têm apenas dois: um herdado da mãe, outro herdado do pai. A proveniência do terceiro grupo de cromossomas é ainda desconhecida e não se sabe se é este conjunto extra que permite a reprodução sem fertilização destes pequenos crustáceos.

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