A empresa Celtejo, que tem estado no centro das suspeitas sobre as causas da poluição no rio Tejo, diz não compreender o atraso na recolha das amostras de água perto das suas instalações por parte dos inspetores do Ministério do Ambiente. Fonte oficial da empresa de pasta de papel de Vila Velha de Ródão sublinha ao Observador que as amostras que têm como objetivo avaliar se a unidade está a cumprir os limites de emissões autorizados na sua licença “sempre foram recolhidas normalmente”.

Para a Celtejo essa é uma “questão que só o IGAMAOT (Inspeção-Geral do Ambiente) pode explicar, uma vez que os seus técnicos não conseguiram realizar a recolha, ao contrário do que aconteceu com os coletores da Celtejo e da ARH (Administração da Região Hidrográfica do Tejo) que funcionaram normalmente.” A empresa considera mesmo que a “incompetência na recolha, mesmo com a presença das autoridades em permanência no local — a GNR — , é profundamente penalizadora para a Celtejo”.

O Inspetor-geral do Ambiente confirmou esta segunda-feira a existência de “constrangimentos inusitados” e nunca antes vistos na recolha de amostras de água do rio no caso da Celtejo. Esta tese foi sublinhado pelo ministro do Ambiente, Matos Fernandes, na entrevista que deu também na segunda-feira à RTP.

Sem nunca atirar responsabilidades para a empresa, o Inspetor-Geral, Nuno Banza, revelou que foram necessárias quatro tentativas, a última das quais com inspetores no terreno várias horas, para conseguir obter amostras da qualidade da água à saída das tubagens da Celtejo. Estas dificuldades levaram ao atraso no processo de análise do nível de efluentes da Celtejo cujos resultados só serão conhecidos na próxima semana.

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Em respostas ao Observador, a empresa do grupo Altri sublinha que está a cumprir, “desde a primeira hora” a redução em 50% do efluente que vai para o rio Tejo. E assegura que continuará a cumprir a restrição imposta pelo Ministério do Ambiente que foi prolongada por mais 30 dias, que podem chegar a 60. A restrição vai existir até ser emitida uma nova licença de descargas, adequada à atual capacidade de assimilação de carga orgânica do Tejo, que está muito diminuída pelo efeito da seca.

Questionada sobre o impacto económico desta restrição, fonte oficial da Celtejo reafirma o que já tinha sido dito por uma funcionária da empresa quando foi conhecida a primeira medida cautelar que reduziu a produção por 10 dias.

“A fábrica não tem viabilidade com a redução do efluente a 50% porque não foi desenhada para trabalhar a esses níveis”.

A Celtejo garante ainda que não há “registo de anomalia” na atividade de produção no mês de janeiro que possa ter provocado descargas anormais no rio Tejo, quando confrontada com uma denúncia anónima que terá chegado à Inspeção-Geral do Ambiente e que terá ainda motivado uma participação crime junto do Ministério Público de Castelo Branco.

Esta semana, o Inspetor-Geral do Ambiente já tinha admitido que a recolha e análise de amostras de água junto à unidade da Celtejo apenas permitiria avaliar se a empresa estava a cumprir os limites de emissões definidos na sua licença na altura em que a recolha foi obtida. Ou seja, não permitirá detectar uma eventual descarga irregular feita em janeiro que possa ter provocado ou agravado os problemas de poluição que levaram ao aparecimento do manto de espuma no Tejo.

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Ainda que não seja possível, para já, apontar para um crime ambiental, as análise feitas pela Agência Portuguesa do Ambiente à qualidade da água do rio Tejo revelam uma excessiva concentração de carga orgânica proveniente da indústria de celuloses, cinco mil vezes acima do nível recomendado, nomeadamente na zona de Vila Velha de Ródão onde a Celtejo é a principal responsável pelas descargas.

A Celtejo garante ainda que a nova estação de tratamento de águas residuais industriais, que descreve como a “mais moderna e maior ETAR em Portugal, e talvez na Europa” está a funcionar desde final de setembro do ano passado, em “pleno”. Informação que foi contrariada pelo presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente).

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