Responsáveis chineses e africanos classificaram esta quinta-feira uma investigação do jornal francês Le Monde que indica que Pequim espiou a sede da União Africana (UA) como uma tentativa de desestabilizar as relações bilaterais.

Moussa Faki, presidente da Comissão da UA, o cargo executivo mais importante da organização, disse esta quinta-feira aos jornalistas em Pequim que não acredita que a China tenha espionado o edifício da organização em Adis Abeba. “São tudo mentiras”, afirmou Faki, após um encontro com o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi.

“Não há manobras que nos possam distrair ou desviar do nosso objetivo” de fortalecer as relações com a China, acrescentou Faki, que anunciou ainda que a UA vai abrir este ano um novo escritório em Pequim. As novas instalações na capital chinesa serão disponibilizadas pelo Governo chinês.

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, afirmou sobre a reportagem do Le Monde que “tentativas de dividir a China e África não serão bem-sucedidas”.

“Algumas pessoas, alguns poderes, não querem ajudar África a desenvolver-se”, apontou Wang. O responsável chinês afirmou que o apoio da China ao desenvolvimento de África é feito “altruistamente”, enquanto outros países têm os seus próprios interesses.

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Citando várias fontes internas na UA, o Le Monde assegurou que os informáticos da organização constataram há cerca de um ano que o conteúdo dos servidores da Internet da organização foi transferido para outros servidores na cidade chinesa de Xangai.

As mesmas fontes dizem que essas transferências ocorreram desde 2012, após concluída a construção do novo edifício da UA. Os servidores foram alterados em 2017, quando essa falha no sistema foi descoberta. A nova sede da UA, o mais alto edifício de Adis Abeba, com 22 andares e uma sala de conferências com 2.500 lugares, foi uma “oferta da China a África”

O Le Monde acrescenta que, após ter sido exposta a transferência dos dados para a China, especialistas da Etiópia em segurança descobriram microfones escondidos nas mesas e paredes das salas da sede.

A China é desde 2009 o maior parceiro comercial de África. Pelas estatísticas chinesas, em 2015, o comércio China-África somou 169 mil milhões de dólares (138 mil milhões de euros), mais do dobro do comércio de África com a Índia, que surge em segundo lugar, à frente dos Estados Unidos.

A China é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano. Há quase 30 anos que o ministro dos Negócios Estrangeiros da China começa sempre o ano com uma viagem a África.

No início deste ano, Wang Yi esteve em Angola e São Tomé e Príncipe. No final de 2015, o Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu conceder aos países do continente um total de 60 mil milhões de dólares (49 mil milhões de euros) em empréstimos e crédito à exportação.