Existem jogos que dariam belas histórias. Existem histórias que dariam fantásticos jogos. Ni no Kuni é um pouco de ambos.

Dez anos após a sua fundação, o estúdio Level 5 quis criar um projeto que refletisse a sua alma e coração e foi assim que nasceu Ni no Kuni. Com a ajuda do estúdio Ghibli, conhecido pelo seu enorme êxito em filmes de animação como A viagem de Chihiro (vencedor do Óscar de melhor filme de animação), Princesa Mononoke, O Castelo Andante, entre outros, criaram o mundo de Ni no Kuni, ao qual temos o prazer de voltar oito anos depois, em Ni no Kuni II – Revenant Kingdom. A convite da Bandai Namco fomos dois dias até um castelo em Kent onde o conhecemos em primeira mão.

Apesar de o estúdio Ghibli não estar directamente envolvido neste segundo jogo, voltamos a contar com os seus antigos colaboradores, Yoshiyuki Momose no design de personagens e o galardoado compositor Joe Hisaishi, ao qual o próprio CEO da Level 5, Akihiro Hino, se juntou como diretor de jogo.

Seguimos as pisadas de Evan, o inocente rei de Ding Dong Dell, que se vê forçado a deixar o reino após um golpe de estado, e de Roland, um visitante acidental de outra realidade, que decide ajudá-lo na aventura. Evan parte pelo mundo de Ni no Kuni em busca de aliados, força e crescimento pessoal. Não será uma viagem fácil e terá muito que aprender até um dia poder criar “Um reino onde todos sejam felizes e um mundo onde não exista a guerra”, como ele próprio nos indica. Além do protagonista, vamos poder interagir ao longo desta aventura e até mesmo jogar com as mais diversas personagens, desde o já falado Roland, até Tani, a impulsiva pirata do ar.

Ni no Kuni quer ser acima de tudo uma história e quando tive o prazer de falar com a equipa encarregue de adaptar para inglês o guião original em japonês, uma das perguntas que fiz foi “qual é a lição que podemos tirar de Ni no Kuni II?“. Claire Morgan, a atriz que interpreta Evan neste jogo responde que “há uma lição para toda a gente, mas acima de tudo, a mensagem é: sê bravo e sê corajoso”.

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Quer sejamos uma criança inocente como Evan ou um adulto com a realidade da vida às costas, como Roland, conseguimos criar empatia com este mundo de personagens tão especiais. Todas têm o traços únicos, que refletem a sua personalidade, e um vestuário delicadamente criado para reflectir as suas origens. São peças de uma história, cujas ações e emoções que nos mostram não parecem fabricadas meramente para o avançar de um jogo, mas para nos levar a criar laços e relacionar com os problemas e indecisões.

Evan Pettiwhisker Tildrum, o protagonista, afirma-nos logo no início que “vamos construir juntos um reino do qual nos possamos orgulhar” e os quatro modos de jogos que Ni no Kuni II Revenant Kingdom nos apresenta cumprem essa sua filosofia. Seja no modo de exploração, onde viajamos em busca do nosso próximo objetivo, num mundo aberto cheio das mais belas paisagens e dos monstros mais aterradores.

O modo de combate, diferente do jogo anterior, é bastante rápido e frenético, cada uma das personagens tem o seu próprio estilo de luta e habilidades distintas. Evan prefere movimentar-se pelo campo de batalha, fruto da sua agilidade, enquanto Roland prefere usar a sua força para acertar ataques mortíferos nos inimigos. Temos de estar sempre atentos ao padrão de ataques do adversário, trocar a tempo para a personagem certa e aproveitar as aberturas, para desferir o golpe ou a magia ideal.

Uma novidade no combate em Revenant Kingdom são os Higgledies, pequenas e adoráveis criaturas que nascem através dos fenómenos naturais e representam os vários elementos, que deambulam em grupos pelo campo de batalha e ajudam-nos explorar as fraquezas dos monstros que enfrentamos. Por exemplo, o meu pequeno grupo de Higgledies de água e o seu escudo foi extremamente útil contra o feroz dragão de fogo.

Um pouco diferente do combate individual, temos o modo de combate estratégico, que põe frente-a-frente o exército de Evan com os vários exércitos que o possam querer enfrentar. É um modo não muito normal neste género de jogo, mas que acabou por ser uma das minhas partes favoritas: as regras e mecânicas de jogo são simples o suficiente para qualquer criança conseguir compreender. Utilizando um sistema clássico de pedra-papel-tesoura, mas que permite uma panóplia de decisões que nos farão sentir um verdadeiro general de combate, com alguns encontros de dificuldade bastante elevada.

Cada um dos aliados de Evan é seguido por um grupo específico de unidades, que será mais, ou menos eficaz contra certas unidades adversárias, por exemplo os arqueiros são capazes de derrotar um exército de espadachins, desde que consigamos manter a distância, para isso, as habilidades e gritos de batalha de Evan serão fundamentais.

Um dos pontos pelo qual a série é conhecida é pelo seu modo de construção do reino, onde ajudamos Evan a decidir quais são as necessidades atuais, o que deve ser construído, quem deve trabalhar lá e que pesquisas serão feitas. É um modo que nos mostra o crescimento da cidade ao longo da história, com a notória evolução visual de todos os edifícios que os habitantes nos ajudam a melhorar, caso sejam eles os indicados para o trabalho. Obtemos assim facilidades na produção de armas, desenvolvimento de novas magias, alimentos para o combate e melhores condições de vida para todos os nossos súbditos.

https://www.youtube.com/watch?v=FGG29NRnD74

Outra coisa que não passa despercebida é a banda sonora de Joe Hisaishi, que fez um trabalho soberbo no primeiro jogo, conseguindo-se superar em Revenant Kingdom. Desde as músicas épicas de batalha, passando pelos temas relaxados de algumas aldeias até ao tema principal que cada vez que é ouvido arrepia mais do que na vez anterior, todos os temas contribuem imenso para a imersão do jogador no mundo de Ni no Kuni. O maestro referiu que os temas eram de um grau de execução elevado, mas como contou com uma das melhores orquestras do país a sua visão foi conseguida.

A beleza de Ni no Kuni está nos pequenos detalhes como viajar por cidades como Goldpaw, inspirada em Tóquio, onde tudo é decidido através de jogos da sorte. Esta cidade faz-nos parar e rodar a câmara à nossa volta, para ver uma imensidão brilhante de luzes de casino e estátuas orientais, com enormes dragões a segurar dados, portas com os icónicos seis círculos e uma gigante estátua da Lady Luck, a protetora da cidade, numa parte da história que tenta mostrar os males dos jogos de sorte.

Ni no Kuni II – Revenant Kingdom será lançado a 23 de Março de 2018, para PS4 e PC, a pré-venda já está disponível e existem várias versões que podem ser adquiridas, entre a versão base que custará 59,99 euros para computador e 69,99 euros para PS4, até à King’s Edition, para coleccionadores que inclui entre vários extras um disco de vinil com a banda sonora, um livro de 148 páginas com a arte do jogo e uma figura rotativa de 20 centímetros que toca o tema principal. Esta edição custará 139,99 euros para PC e 149,99 euros para PS4.

Esta sequela de Ni no Kuni não só é um dos títulos mais aguardados de 2018, como será certamente um sério candidato a um dos jogos do ano, com a sua arte característica, história cativante, personagens profundas e jogabilidade interessante. Quer se esteja a jogar, ou a ver alguém a tomar o controlo de Evan e amigos, serão várias horas de entretenimento passadas no fantástico mundo de Ni no Kuni.

Pedro Nunes, Rubber Chicken