“Olhares Lugares”

O facto de Agnès Varda e do fotógrafo e artista urbano JR serem de tamanhos, idades e gerações muito diferentes não os impediu de se meterem na carrinha-estúdio fotográfico deste e irem França dentro, fotografando pessoas e depois colando esses retratos, individuais ou de grupo, em tamanho XXL, nas vilas, casas, quintas ou locais de trabalho dos seus modelos. Apesar da presença e da colaboração de JR, “Olhares Lugares” é um filme com a marca inconfundível da autora de “Os Respigadores e a Respigadora”, itinerante, poético e circulando entre as realidades do presente e as recordações do passado, virado para as pessoas comuns, as suas vidas e as suas histórias, sempre relacionadas com a vida e a história de Varda e com os seus filmes e o cinema em geral. Há até tempo para a realizadora falar do problema de visão que a afecta (tem quase 90 anos), para visitarem a avó centenária de JR e, perto do fim, terem uma decepção na Suíça com Jean-Luc Godard.

“As Estrelas Não Morrem em Liverpool”

Nos anos 80, o jovem actor inglês Peter Turner publicou um livrinho chamado “Film Stars Don’t Die in Liverpool”. Nele contava a história do romance que teve, entre 1979 e 1981, com a actriz americana Gloria Grahame, muito mais velha que ele e que havia conhecido em Londres quando esta, na fase descendente da sua carreira, ali fazia uma peça de teatro. Grahame morreria em 1981, nos EUA, de cancro, apenas com 57 anos, um dia depois de ter saído da casa da família de Turner em Liverpool. Paul McGuigan reconstitui essa improvável história de amor, entre a Inglaterra e Hollywood, baseando-se naquele livro. Annette Bening (que não teve, estranhamente, uma nomeação ao Óscar de Melhor Actriz) é uma Gloria Grahame em decadência mas que ainda conserva restos do seu carisma e da sua personalidade intensa e afirmativa, e Jamie Bell dá-lhe boa réplica no papel de Peter Turner.

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“Amor Amor”

Jorge Cramez transporta para o nosso tempo, e para Lisboa, uma comédia escrita pelo francês Corneille no século XVII, situando-a entre um grupo de amigos que estão a combinar passar o ano juntos. Mas reina entre eles o desconcerto amoroso. Há quem não esteja muito seguro dos seus sentimentos, quem ame sem ter esperança de ser correspondido ou quem esteja hesitante em dar o passo para o casamento. Mais maduro que o filme anterior de Cramez, “O Capacete Dourado” (2007), este muito influenciado por Nicolas Ray, “Amor Amor”, que remete para um cinema francês da palavra e da agitação sentimental representado por nomes como Rohmer ou Resnais, tem mesmo assim alguns problemas de argumento, contrabalançados pelo olhar constantemente cinematográfico do realizador, pela sumptuosa fotografia de João Ribeiro e por actores como Ana Moreira ou Jaime Freitas.

“Todo o Dinheiro do Mundo”

Neste filme de que Kevin Spacey foi incrivelmente “apagado” depois da rodagem já estar acabada, na sequência de acusações de assédio sexual que lhe foram feitas, e substituído à última da hora por Christopher Plummer, Ridley Scott recorda um facto real, ocorrido em Itália, em 1973, e que então deu brado. O rapto de John Paul Getty III, neto de 16 anos e herdeiro do multimilionário J. Paul Getty, por mafiosos calabreses, que pediram um resgate de 17 milhões de dólares. O avô do jovem recusou-se a pagar, para desespero e indignação da nora, Gail Getty. Plummer interpreta J. Paul Getty, Michelle Williams é Gail Getty, Charlie Plummer incarna o raptado, Mark Wahlberg faz de Fletcher Chase, o funcionário de Getty e ex-agente da CIA encarregue de recuperar o rapaz, e Romain Duris personifica o líder dos malfeitores. “Todo o Dinheiro do Mundo” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.