A petrolífera angolana Sonangol vai gastar 15,4 milhões de euros com a auditoria às contas do grupo, que serão garantidas pela KPMG, depois de preterida a consultora escolhida pela anterior administração, de Isabel dos Santos, cujas contas também serão analisadas.

De acordo com um despacho assinado pelo Presidente da República, João Lourenço, de 6 de fevereiro e ao qual a Lusa teve acesso esta sexta-feira, o negócio, autorizado no documento, é justificado “por força” da identificação de uma “situação superveniente de conflito de interesse”, o que obrigou a Sonangol a “cancelar a adjudicação do contrato de prestação de serviços de auditoria ao auditor que inicialmente estava previsto para a contratação”.

O mesmo despacho refere que existe a “necessidade urgente” de se contratar um novo auditor para o grupo, autorizando assim a adoção de um procedimento de contratação simplificada “pelo critério material”, visando especificamente os serviços de auditoria às demonstrações financeiras individuais e consolidadas, da Sonangol e subsidiárias, para os exercícios económicos de 2017, 2018 e 2019.

“Bem como para a realização de um diagnóstico financeiro às contas da empresa, referentes ao período entre 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2017”, lê-se no documento, que autoriza a contratação da KPGM pela administração da Sonangol, por 19,1 milhões de dólares (15,4 milhões de euros).

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Isabel dos Santos foi presidente do conselho de administração da Sonangol entre junho de 2016 e novembro de 2017, até ser exonerada pelo novo Presidente da República, João Lourenço, que colocou Carlos Saturnino na liderança da petrolífera.

A Sonangol clarificou em dezembro que declinou assinar o contrato com a consultora PwC, para auditoria externa da petrolífera estatal angolana, o qual tinha sido anunciado a 1 de novembro por Isabel do Santos, alegando “conflito de interesses”.

A Sonangol referiu na altura que aquela empresa “tinha já sido contratada como consultora do processo de transformação”, em 2016, pelo que “a adjudicação do mesmo à PwC, conformou um quadro de conflito de interesses”.

A petrolífera insistiu que a contratação da PwC para prestação de serviços de auditoria às demonstrações financeiras individuais e consolidadas da Sonangol E.P. e das suas subsidiárias, a vigorar até 2019, anunciada pela administração de Isabel dos Santos a 1 de novembro, não foi orientada pelo chefe de Estado, João Lourenço, no cargo desde 26 de setembro.

“A impelir a petrolífera nacional concorreu igualmente a observância à Lei de Base do Setor Empresarial Público, a qual determina que o perfil do auditor para a Sonangol tem que ser definido pelo titular do poder executivo”, acrescentou.

A administração da Sonangol afirmou ainda que “analisados os pressupostos que rodearam a contratação”, concluiu-se “ter havido uma alteração substancial das circunstâncias que determinaram a realização do concurso para a aquisição dos serviços de auditoria e a consequente adjudicação do contrato”.

Na ocasião, a 1 de novembro, a administração de Isabel dos Santos afirmou que o processo de escolha “salvaguardou o cumprimento de todos os trâmites legalmente previstos” e incluiu “etapas adicionais de interação direta entre as partes, no sentido de reforçar a transparência, equidade e aplicação dos princípios éticos” que regem a atividade da empresa.

A PwC já tinha auditado as contas da Sonangol em 2016, validando-as, mas “com reservas”, nomeadamente na natureza e circunstância das “transações de diversas naturezas” que a petrolífera mantém com o Estado angolano, sobre a recuperabilidade de investimentos realizados anteriormente e também pela alteração da política contabilística do grupo.

O resultado líquido consolidado da Sonangol em 2016 foi de 13.282 milhões de kwanzas (70,5 milhões de euros), uma quebra de 72% face ao exercício de 2015, “como resultado de uma diminuição nos resultados financeiros e nos resultados de filiais e associadas”, reconhece a petrolífera, no seu relatório e contas.